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Bennett e Lapid tomam posse e são verbalmente alvejados de forma irresponsável

Opinião

No final das contas, do voto contado, apenas um parlamentar do Ra’am árabe se absteve dando a coalizão de oposição 60 votos, contra 59. A maioria simples foi assim atingida e o governo de mudança foi empossado.

Mas a conta dos votos não é exatamente esta. As coalizões árabes sempre votaram contra qualquer governo de Israel. Desta vez não foi diferente. Portanto, seus 10 votos foram votos anti-governo enquanto os restantes 49 votos foram votos ideológicos contra o governo de mudança.

Por parte de Bibi Netanyahu, agora sem imunidade ministerial para impedir os processos judiciais contra ele, voltou à mesma lenga-lenga eleitoral de 2008 quando colocou em xeque Tzipi Livni com a frase de trabalho: “Quem você prefere para liderar o país na guerra contra o Irã? A Tzipi ou o Bibi?” E o eleitor preferiu o Bibi. No seu último discurso como primeiro-ministro, ele declarou que Bennett não é capaz de fazer frente ao Irã. Só ele, Bibi, é.

Além disso parafraseando o personagem do filme Exterminador do Futuro, com a emblemática frase “I’ll be back” (Eu voltarei), Bibi disse “We’ll be back, soon” (Nós voltaremos logo). Parece engraçado, mas não é.

Na segunda-feira, dia 14, ao discursar para o seu próprio partido, o Likud, disse que vai derrubar o novo governo que é “baseado em fraude, ódio e busca pelo poder” e vai resgatar Israel das mãos deste novo governo.

Moshe Gafni, rabino, líder do United Torah Judaism, perdeu o previlégio negociado de ser o presidente do Comitê Financeiro do Knesset (Parlamento).

Arie Dery, rabino, líder do Shas, perdeu o previlégio negociado de ser o Ministro do Interior e em seu último pronunciamento oficial como o sujeito que tinha o martelinho para declarar quem é judeu e quem não é, declarou publicamente que os que estão no novo governo não são judeus. Nosso leitor pode até rir disso, mas tem força de lei judaica para os seguidores do Shas, no caso atual, 316.000 votos e também para os judeus sefaradim de origem não árabe que cismam em seguir os rabinos árabes. Tenha certeza de que é muita gente.

Bezalel Smotrich, o líder do Tkuma, extremista religioso, perdeu o previlégio negociado de se o Ministro dos Transportes. É sempre necessário recordar que em seu discurso de posse ele declarou que não trabalhava para o governo ou para o primeiro-ministro (Bibi), e sim para Deus. Ele é uma das principais lideranças que exige um Estado Judeu regido apenas pela Torá, exige a segregação entre judeus e árabes, é anti-LGBT e define a Reforma Judaica e o Liberalismo Judaico como “religiões falsas”. Não vai fazer falta.

Na quinta-feira passada, dia 10/jun, membros da coalizão extremistas ortodoxa foram confrontar árabes muçulmanos na Porta de Damasco. Seis foram presos.

Antes do último shabat, membros de sua coalizão, atacaram as liberais Mulheres do Muro, rasgando os livros de rezas, os sidurim que elas levavam, aos gritos de que “os livros dos sectários têm que ser destruídos, como diz a Torá”.

É esperado que a coalizão denominada “Sionismo Religioso”, nome falso que nada tem a ver com religiosos sionistas, mas como um Israel só com judeus, desde que os judeus sejam apenas os que eles definirem como tal, vão incrementar suas atividades violentas. É absolutamente ncessário que todos os judeus compreendam que os extremistas ortodoxos excluem a maioria do Povo Judeu, que é Reformista, Liberal e Conservador, tanto quando excluem os árabes e muçulmanos.

Para esta terça-feira está marcada e autorizada a Marcha da Bandeira, em Jerusalém, com a proibição deles passarem pelo bairro árabe antigo da Cidade Velha e problemas sérios são esperados. Todavia, eles agora são oposição e não governo. A proibição veio da polícia e prefeitura de Jerusalém e não dos árabes.

Em Tel Aviv, dezenas de milhares de pessoas foram às ruas, principalmente à Praça Rabin para celebrar a posse do novo governo. Já em Jerusalém, um grupo considerável de ultra-ortodoxos foi ao Kotel realizar orações especiais contra o novo governo desejando que o governo fracasse.

Uma de nossas leitoras nos questionou de forma até pouco cortês, se não conseguimos ver o absurdo em Israel dos israelenses não terem o direito de ir e vir, relacionando as proibições de trajetos de manifestações e também hostilização por parte de judeus na Esplanada das Mesquitas, como algo podre que o governo impõe à sociedade, principalmente aos ultra-ortodoxos.

Não, não vemos assim. O direito de ir e vir não inclui o direito de ir até a casa dos outros hostilizá-los, nem o pretenso direito de entrar em áreas de cidades onde não se é bem vindo. Quem vive no Brasil sabe que não pode entrar em áreas de comunidades dominadas pelo tráfico ou pela milícia sob risco de execução sumária. Usar de discernimento ao transitar pelo tecido urbano é necessário na maioria das grandes cidades do mundo. No Brasil e nas mais diversas democracias as manifestações de rua precisam ser protocoladas antes com a prefeitura e ou a polícia e aprovadas ou não, com trajetos e horários sancionados ou modificados. Isso é o normal. Fora das democracias não há o direito de se manifestar nas ruas.

Os 60 votos do governo de mudança, não mais significam que ele terá a maioria simples para aprovar leis e reformas necessárias. O parlamentar Eli Avidar, do partido Israel Beitenu, de Lieberman, anunciou que não votará mais alinhado automaticamente com o partido após a posse de seu partido no governo. Avidar afirmou isso horas antes da sessão de domingo, e cumpriu com o seu voto. Mas de agora em diante será uma incógnita a ser cortejada por Bibi. Avidar ficou chateado por não ter recebido uma pasta ministerial.

Entre outros privilégios que os ultra-ortodoxos vão rapidamente perder estão as nomeações dos rabinos-chefes do país e das cidades. São cargos comissionados de funcionalismo público, a o novo governo já havia avisado que vão mudar todos. Outro ponto importantíssimo para a imagem de Israel será a substituição de mais de 90 embaixadores nomeados pessoalmente por Bibi Netanyahu, entre afetos e desafetos, pessoas sem qualquer preparo específico para a função e não pertencentes, anteriormente, ao quadro do Ministério das Relações Exteriores.

A área igualitária junto ao Muro Ocidental, na região do Arco de Robinson que foi aprovada anos atrás pelo governo Netanyahu e embarreirada pelos parlamentares e ministros ortodoxos e ultra-ortodoxos é um ponto de honra para o novo governo que também se comprometeu a finalizara as obras rapidamente e liberar. Esta área igualitária não tem separação entre homens e mulheres o que para a ortodoxia e ultra-ortodoxia contemporâneas é o suprassumo dos pecados.

A área igualitária junto ao Muro Ocidental, na região do Arco de Robinson que foi aprovada anos atrás pelo governo Netanyahu e embarreirada pelos parlamentares e ministros ortodoxos e ultra-ortodoxos é um ponto de honra para o novo governo que também se comprometeu a finalizara as obras rapidamente e liberar. Esta área igualitária não tem separação entre homens e mulheres o que para a ortodoxia e ultra-ortodoxia contemporâneas é o suprassumo dos pecados. Mantendo o seu horror e falta de controle para não cobiçar a mulher do próximo, a mídia ortodoxa e ultra-ortodoxa está divulgando a foto oficial do novo gabinete de governo com as faces das ministras totalmente borradas no Photoshop.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.