Expulsão ou conversão? Como D. Manuel I enganou os judeus
Em 1492 um decreto dos reis católicos, D. Isabel e D. Fernando, rompeu com uma longa tradição de tolerância religiosa em Castela, Leão e Portugal. O édito foi publicado a 31 de março: os judeus de Castela e de Aragão eram obrigados a converterem-se ao cristianismo, sob pena de serem expulsos de Espanha num prazo máximo de quatro meses.
No final do prazo dado pelos reis católicos, em julho de 1492, milhares de judeus atravessaram a fronteira, tendo D. João II permitido a entrada dos refugiados e nomeado locais onde poderiam ser integrados: Olivença, Arronches, Figueira de Castelo Rodrigo, Bragança e Melgaço.
João II morreu em 1495, deixando o trono sem sucessor, pois o seu filho, Afonso, morrera alguns anos antes. A coroa foi então herdada por D. Manuel, cunhado e primo direito do monarca. Nos primeiros anos do reinado, a comunidade judaica viveu em paz, tendo o rei escolhido o judeu Abraão Zacuto para seu médico particular.
Manuel I desejava uma união da Península Ibérica,sob sua coroa, e propôs,então, casamento a D. Isabel, viúva de Afonso e filha mais velha dos reis católicos. A proposta foi aceita por D. Isabel e por D. Fernando, mas sob uma condição: o rei português deveria expulsar os judeus do país.
Em 05 dezembro de 1496, Manuel ordenou que judeus e muçulmanos livres deixassem Portugal em 10 meses. Caso não o fizessem, seriam condenados à morte e todos os seus bens seriam confiscados pela coroa.
Mas D. Manuel não queria a partida daquela minoria tão necessária à expansão ultramarina, em pleno auge, e que faria de Portugal um dos países mais ricos e poderosos da Europa.
Manuel opta pela conversão de todos ao catolicismo.
Por ordem real assiste-se à retirada de crianças de pais judeus e conversões à força.
O rei protelou a definição dos portos reservados à partida dos judeus e quando, finalmente, determinou que se escolhesse Lisboa, mais de 20 mil judeus para lá se dirigiram.
Enganados pelo rei, foram todos “batizados em pé”, à força, e, assim, transformados em cristãos.
Iniciava-se a saga dos cristãos-novos que continuaram a preservar, secretamente, sua religião e identidade até que conseguiram fugir para outras terras.
Em abril de 1506 dá-se em Lisboa a matança da Páscoa, um dos momentos mais críticos da história do judaísmo no país. Milhares de cristãos-novos são atacados, agredidos e mortos.
Trinta anos depois, tem início também em Portugal, a Inquisição que agirá no país até 1767.