A Ilha de Marajó e os judeus marroquinos
Meu último destino em busca de vida judaica foi o Pará, onde estive no último mês de dezembro de 2021.
Mais precisamente, minha curiosidade achou refúgio na Ilha de Marajó que hoje abriga os descendentes dos judeus que chegaram na região, oriundos do Marrocos, em busca de oportunidades de trabalho, exatamente em função da difícil situação econômica existente no norte da África, durante as primeiras décadas do século XIX.
Existem comunidades judaicas na região amazônica que guardam a história dos antepassados e que preservam as relíquias do tempo da chegada ao Brasil, daqueles judeus que deixaram as cidades marroquinas de Casablanca, Fez, Tetuan, Marraquexe e outras, para constituir família, criar negócios e somar com sociedades em formação na área, as quais muito se beneficiaram com a chegada desses verdadeiros gigantes consagrados por uma história do Brasil que precisa continuar a ser contada muitas vezes para que a epopeia desses pioneiros do ciclo da borracha ocupe o lugar que merece no contexto do desenvolvimento do norte do nosso país.
Quero informar que o documentário que estamos realizando sobre os judeus do Marrocos estabelecidos em Marajó está quase pronto. Mais de 100horas de filmes estão sendo editadas para que possamos traduzir com o máximo de fidelidade, aquilo que vivenciamos no local.
É hora de prestar homenagem à Iria Chokron da cidade de Breves e à Cassia Benathar de Gurupá, vez que sem o apoio delas nada que realizei seria possível.
Mando daqui de Copacabana no Rio de Janeiro, o meu melhor abraço para todos os judeus paraenses que tão bem e com tanto carinho me acolheram, na pessoa do nosso Jayme Bentes.
Também destaco o trabalho dignificante de toda a comunidade judaica da Amazônia, buscando manter viva a chama das experiências vividas pelos judeus oriundos do Marrocos. Por isso mesmo, não posso e não quero deixar de destacar o carinho com o qual David Vidal Israel trata os temas judaicos da região.
Seria injusto deixar de citar um dos grandes heróis desta jornada, Samuel Isaac Benchimol cuja obra sobre o tema, Eretz Amazônia, é lida em todo o país, contando com detalhes a saga dos judeus do Marrocos no Brasil.
Daqui do Rio de Janeiro, mando o meu melhor abraço para Ane Benchimol que continua os passos do Sr. Samuel, contando em prosa e verso as histórias daqueles que um dia, em busca de qualidade de vida, trabalho e possibilidade de uma boa inserção numa sociedade nascente, aportaram no Brasil, vindos do norte da África para somar com a cultura e a sociedade nacionais da época.
Não descobri nada e nem fui o primeiro a chegar, mas posso garantir que nosso filme, certamente, também, entrará para a história dos judeus brasileiros.
Certamente chamará a atenção de muitos que trabalham com registros históricos nacionais e jamais ouviram falar de cemitérios, no meio da mata amazônica, cheios de lápides com mais de 100 anos de existência carregadas de inscrições em hebraico.
Aguardem só mais um pouquinho, pois, vai valer a pena esperar para assistir essa pérola que estamos produzindo em homenagem à verdade histórica brasileira, dedicada a esses maravilhosos judeus marroquinos que chegaram ao norte do Brasil para trabalhar, crescer e dar o esforço deles para construir junto a outros imigrantes e nativos, o país que os abraçou!
Ronaldo Gomlevsky
Na foto, Gomlevsky às margens do Rio Xingu, bem perto do Rio Amazonas, buscando elementos ainda possíveis de serem identificados com escritos em hebraico sobre lápides com mais de 100 anos que cobrem os túmulos dos primeiros judeus marroquinos a aportarem no norte do Brasil, nos estertores do século XIX.