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Será que a ortodoxia judaica vai aceitar o futuro? Pode usar carro robô no shabat?

Ainda não é uma questão para brasileiros, mas já se faz sentir nos Estados Unidos, principalmente em São Francisco, na Califórnia onde opera, desde o início do ano, a empresa Waymo com taxis completamente autônomos robotizados da marca Jaguar (atualmente chinesa e não mais britânica a vários anos) – na foto de divulgação da empresa.

Em princípio a resposta é claro que sim. Não é o respeitador do shabat quem dirige, o pagamento é eletrônico e robôs não estão previstos nas leis judaicas do descanso obrigatório semanal. Sua geladeira e desligada no shabat? Não. Então o carro robô deveria poder ser utilizado. Nem mesmo os judeus que não usam eletricidade no shabat desligam suas geladeiras ou deixam de utilizar “elevador de shabat”, aquele que a um consumo absurdo de energia elétrica fica 24 horas subindo e descendo, parando em todos os andares, assim, os judeus observantes não precisam ter o “trabalho” e apertar o botão, como se isso caracterizasse trabalho.

O elevador de shabat é algo absolutamente disseminado e utilizado em Israel. Todos os hotéis que recebem ortodoxos da Judeia e Samaria em Jerusalém também possuem nos quartos “timer” de shabat que programado antes, liga e desliga luzes, ar-condicionado e aquecimento, sem intervenção humana. Para os ortodoxos que aceitam esses modernismos, o carro que anda sem intervenção humana é a mesma coisa.

A Waymo é da Alphabet, portanto da Google. A segunda empresa operando em São Francisco é a GM Cruise.

Opinião do rabino Joel Landau, de Adath Israel, sinagoga ortodoxa em São Francisco: “Os judeus ortodoxos, para avaliar novas realidades, tentarão entender como trabalham e categorizá-los dentro dos precedentes já existentes na lei judaica.” Mas acrescenta que nem todo mundo está satisfeito com o elevador de shabat, principalmente aqueles que fazem ajustes de acordo com o peso dos passageiros, por deixarem de serem neutros.

Mas o taxi robô seria diferente de um carro particular autônomo?

E se o leitor imagina que para ramos mais liberais a resposta é óbvia, não é, como deixa claro a rabina Amanda Russell da congregação Beth Sholom, sinagoga conservadora: “recentemente tivemos uma conversa sobre como nosso estacionamento está ficando lotado com carros autônomos aos sábados pela manhã e no miniam matutino diário. Se os taxis robôs forem pré-agendados, pré ou pós-pagos, então estariam mais de acordo com o espírito do shabat.” Bem são mais de seis milhões de judeus de todas as designações religiosas judaicas nos EUA e esta questão do uso de robôs no shabat está apenas começando. Ainda serão escritas discussões sobre o tema: mandar o carro ir a algum lugar é dirigir ou não?

Atualmente os taxis da Waymo operam em Phoenix e São Francisco. A próxima cidade a receber o serviço será Los Angeles.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.