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Guerra – Kidush Hashem

É a instância máxima do sacrifício, do martírio ritual judaico, em sua origem. Estima-se que tenha sido definido nos últimos 150 anos da dominação greco macedônia, na época do Segundo Templo (antes do episódio de Chanucá), quando os gregos decidiram converter os judeus.

Portanto, o kidush hashem é o suicídio de um judeu, ato proibido formalmente, mas autorizado teologicamente nas seguintes situações: 1) se um judeu for obrigado a cometer incesto; 2) se um judeu for obrigado a cometer um assassinato; e 3) se um judeu for obrigado a se converter a outra religião. Apesar das pessoas, contemporaneamente usarem o termo “kidush hashem” para outras instâncias, apenas estas são definições ancestrais: um judeu tem que preferir morrer a ser obrigado a uma das três práticas. Note que cometer alguma delas por vontade própria, sem ter sido ameaçado ou obrigado pela força de armas, são transgressões gravíssimas ou pecados, como cada ramo judaico quiser compreender.

Não confundir com a fala corriqueira “Baruch Hashem”, que significa “Com a benção de Deus”, em tradução livre (não é graças a Deus, ok).

Hoje se escreve kidush hashem, junto, onde hashem (o nome) é uma das formas judaicas mais comuns de se referir a Deus. A compreensão do termo hoje “santificar o nome (de Deus)”, que em português fica muito ruim pois kidush se refere a algo sagrado e não santo. Tornar o nome sagrado, seria uma interpretação mais correta, segundo minha opinião. E opinião cada um tem a sua.

Ninguém pode afirmar que o formato original não foi kidsuh ha shem (separado). Perceba a diferença. No conceito vigente seria cometer suicídio para santificar o nome de Deus. Mas se as palavras forem separadas podemos entender como abençoar o nome de quem está cometendo suicídio ritual. Pessoalmente eu prefiro a segunda opção e sempre me incomoda, dentro da religião judaica todas as orações onde eu, o homem, é que abençoo Deus, e não ao contrário. Mas é o que somos.

Maimônides, no século 12, na área muçulmana da Península Ibérica ampliou inicialmente o conceito para estar em kidush hashem o judeu que fosse assassinado apenas por ser judeu. Maimônides, portanto, legislou sobre a realidade das perseguições sazonais e recorrentes na Península Ibérica. Nos termos de hoje: se um judeu for morto num ataque antissemita ele é considerado em kidush hashem a última instância espiritual judaica.

Então o leitor já entendeu. No momento da publicação deste artigo o número oficial de mortos em Israel chegava a 900. E eles estão obviamente em kidush hashem, por terem sido abatidos em carros, nas ruas, em pontos de ônibus, dentro de suas casas, numa rave, APENAS POR SEREM JUDEUS. Não pode haver discussão sobre isso. Que as almas deles façam parte da corrente eterna da vida e encontrem um pouco de paz depois de mortes cruéis e violentas.

Posteriormente Maimônides expandiu a decisão dele declarando que um judeu encontrado assassinado em uma circunstância sem testemunhas deveria ser considerado em kidush hashem pela impossibilidade de se definir se o mataram apenas por ser judeu ou não

Por José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.