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Balanço de forças entre Israel e o Irã

Quando posto apenas numericamente fica a impressão de que o Irã é extremamente poderoso. Todavia, qualitativamente a situação é muito diferente.

Aviação

Velho F-14 iraniano, foto oficial

O Irã possui 186 aeronaves de combate (aparentemente só 121 em condições de voo) e Israel 241. Aqui existe a maior diferença qualitativa. Praticamente toda a força aérea iraniana composta por sucatas voadoras, aviões Phantom F-4 e Tiger F-5 completamente analógicos e da época da Guerra do Vietnã. Os F-5b brasileiros, apesar de serem da mesma época de fabricação foram tornados 100% digitais com um kit israelense produzido pela Rafael. Várias nações adquiriram este kit, que inclui sistema de reabastecimento aéreo e controle de bombas e mísseis guiados. No caso Iraniano, nem os F-4 nem os F-5 possuem qualquer tipo de míssil guiado. Os F-14 Tomcats, dos anos de 1970 se ainda tiverem mísseis melhores, são também da década de 1970. Todos estes aparelhos possuem radares para no máximo 50 km de distância. Um avião analógico nem possui sistema eletrônico de navegação GPS. Apenas os F-14 podem reabastecer em voo e existem 5 aviões de reabastecimento. Seriam somente 9 aeronaves F-14. Existem ainda aviões russos (ainda de fabricação soviética) Sukkoy de ataque ao solo, mas com alcance de voo curto. Portanto, estas aeronaves não apresentam risco algum para a Força Aérea Israelense e talvez, apenas talvez, possam atacar alvos no leste da Síria e do Iraque.

F-35i israelense o mais moderno avião de combate invisível ao radar, foto oficial

Já Israel tem sua frota aérea baseada nas últimas versões do F-16 como caça e como ataque ao solo, F-15i Strike Eagle, que é uma versão israelense ainda mais eletrônica que a americana para ataque ao solo a distâncias muito longas (1.800 km contra o Iêmen por exemplo, distância menor que os 1.500 km até Teerã), e os F-35i, também modelo exclusivo israelense do avião de combate invisível ao radar de quinta geração, capaz de utilizar uma plêiade de bombas e mísseis guiados. Estes aviões israelenses possuem radares para 200 km e mísseis americanos e israelenses, de última geração, que podem abater um inimigo a 150 km de distância. Isso significa que o radar do avião inimigo nunca verá o avião que o abateu. Israel tem uma frota de aeronaves de reabastecimento aéreo e mais quatro americanas foram descoladas de uma base na Inglaterra para uma base em Israel no dia 7 de outubro de 2024.

Adicionalmente Israel possui drones de ataque ao solo de longa distância, incluindo projetos que são mantidos em segredo. Diferente dos drones camicases iranianos, que se despencam contra o alvo (ou tentam, pelo menos), os drone de ataque Israelenses e americanos são como aviões de bombardeio. Sabe-se que existem grandes drones stealth, invisíveis ao radar.

Em termos de aviões de transporte de tropas, Israel tem apenas 12 enquanto o Irã possui 86. Mas nesta guerra lutada entre 1.000 e 2.000 km de distância, não há para onde levar tropas, a não ser em missões internas de deslocamento. Podemos entender a necessidade de o Irã possuir uma grande frota de aviões de transporte porque seu território é três vezes maior que o território da Alemanha. O Avião é a solução mais adequada.

Helicópteros de ataque o Irã possui 13 de modelos soviéticos ultrapassados e Israel possui 48, entre Apaches e outros atualizados. Mas os helicópteros podem voar apenas 350 km no máximo e não vão fazer parte de um conflito entre os dois países. Os modelos Apache podem ser reabastecidos em voo e estão sendo utilizados no sul do Líbano.

O Irã possui 129 helicópteros de transporte, todos russos, do modelo que mais cai no mundo (o presidente Raisi morreu num deles) e Israel possui 148, boa parte deles do modelo Black Hawk utilizado em resgate de feridos e que também pode ser reabastecido em voo. Também não possuem qualquer papel num conflito entre os dois países, a não ser para resgate interno de feridos.

Marinha

São 18 submarinos do lado iraniano e 5 do lado Israelense. Aqui a diferença tecnológica também é muito grande, com projetos soviéticos para o Irã enquanto Israel usa tecnologia francesa e alemã. Em ambos os casos a real capacidade das frotas e mantida em sigilo. Não se espera torpedeamentos. Os submarinos israelenses são capazes de lançamento de mísseis de cruzeiro os iranianos certamente não. Além isso o Irã possui submarinos também no Mar Negro e não apenas no Golfo Pérsico. Diz-se que existe, ao menos um submarino israelense no Golfo Pérsico, mas isso é algo impossível de ser confirmado.

Em termos de navios de superfície, curiosamente a marinha de Israel é maior que a do Irã com 114 belonaves contra 102. É mais possível que nenhuma participe de uma guerra no momento atual e os combates seria através de mísseis, a aeronaves com mísseis anti-navio. Aliás, devem existir muitas instalações de mísseis guiados anti-navio iranianos na costa do Golfo Pérsico porque o Irã os fabrica e são equipamento modernos e eficientes. Mas, os navios israelenses também podem estar dotados de um modelo do Domo de Ferro Naval. Não é informação pública, quantos já foram produzidos e instalados.

Artilharia

Israel possui lançadores múltiplos de mísseis de artilharia de curto e médio alcance, se bem que prefere utilizar mais os canhões. São 172 unidas. Já o Irã possui 775 caminhões com lançadores de mísseis de 107 mm e 122 mm, com alcances de 30 km e no máximo de 40 km com mísseis de última geração, todos não guiados e sem qualquer utilidade nas distâncias entre os dois países. Aliás, toda a artilharia, onde o Irã possui uma avassaladora supremacia numérica não tem papel no conflito. Canhões rebocados. Israel possui 300 enquanto o Irã tem 2.050. Canhões autopropulsados (blindados com canhões obuseiros para tiro indireto), Israel tem 1.370 e o Irã 1.996.

Mísseis Balísticos. Hoje em dia não se sabe exatamente o que o Irã tem. Já mostrou que é capaz de mobilizar 180 caminhões com enormes mísseis com alcance de 2.000 km (são dois modelos) com guiagem inercial e/ou por GPS. Não podem realizar manobras em voo. É impossível saber quantos foram danificados nos lançamentos (mas estão sendo consertados). Alguns anos atrás dizia-se que havia apenas 100 destes caminhões. Portanto, o número atual de 180 é coerente. É imprevisível saber se existem mais destes caminhões com o caminhão tanque de abastecimento de combustível líquido agregado. Cada míssil precisa de um caminhão transportador lançador e um caminhão de combustível. Os outros 5 modelos de mísseis balísticos iranianos não têm alcance para atingir Israel caso disparados desde o Irã, Iraque ou Iêmen.´

O que é de conhecimento público é o fato das principais fábricas de mísseis no Irã e seus depósitos estarem colocados embaixo de montanhas de rocha.

Israel possui também mísseis balísticos, a família Jericho, com modelos que possuem alcance de 1.000 a 4.000 km e guiagem precisa. Mas Israel ainda não os utilizou em combate. Diferente dos modelos iranianos de tecnologia soviética os Jericó são disparados de silos subterrâneos fixos. A família Jericho pode realizar manobras em voo.

Infantaria

Juntando o exército regular do Irã e a Guarda Revolucionária, o efetivo ativo anunciado é de 350.000 soldados e 220.000 policiais. A reserva imediata acionável é de 310.000 soldados adicionais. O Irã possui 88 milhões de habitantes.

Israel, com apenas 9 milhões de habitantes, praticamente 11% da população do Irã, tem um exército regular de 145.000 soldados e acionou 320.000 reservistas desde o dia 7/out/2023. Israel também conta com 35.000 homens e mulheres nos diversos serviços de segurança.

Mas, a infantaria, em princípio também não faz parte de um conflito à distância. Caso existisse uma guerra tradicional através de uma fronteira o Irã teria muita vantagem. O número de israelenses que atinge idade de serviço militar anualmente é de 126.000 (mas, a imensa maioria dos ortodoxos não se alista e se recusa a servir às forças armadas. Claro que existem cerca de 3.000 voluntários ortodoxos por ano). A recusa de religiosos em servir às forças armadas o Irã não tem, muito pelo contrário. E o número de cidadãos que atinge idade de serviço militar é de 1.401.000 pessoas por ano.

Tanques de Guerra

Merkava IV amarrotado numa rua na Faixa de Gaza. A seta mostra um dos radares blindados do sistema de defesa ativa. A cobertura é uma tentativa de proteção contra drones e também provê sombra, foto oficial FDI.

O Irã possui 1.337 em condição de combate, todos da era soviética, ante a 1.096 de Israel, todos Merkava. Adicionalmente as FDI possuem 34.726 outros veículos, inclusive os blindados de transporte de tropas Namer (um Merkava sem torre do canhão). Os modelos IV, tanto do Merkava como do Namer, possuem proteção ativa contra mísseis antitanque (um mini domo de ferro), absolutamente posta a prova e comprovada na Guerra de Gaza. Mas um grande número deles ainda é do modelo III, que não dispõe desta proteção e não tem como sobreviver aos modernos mísseis antitanque e isso, o Irã tem de sobra. Os outros veículos blindados e não blindados iranianos, chegam a 46.000, de fato pouco para o território gigantesco do país. E tanques e qualquer outro veículo também não tem papel na guerra à distância.

Sistemas antiaéreos

Israel tem os mais modernos do mundo, automáticos, operados por IA com mísseis diferentes para baixa, média e alta altitude, além do Arrow 3, o único míssil a conseguir abater mísseis balísticos fora da atmosfera, em combate real. Abates entre 30.000 e 40.000 metros de altitude.

O Irã conta com sistemas soviéticos, russos e clones, todos com o mesmo conceito. Apesar de serem muito avançados nas características técnicas e sistemas de guiagem, nenhum destes mísseis lançados da Síria contra aviões israelenses acertou nada, porque a FAI conta com um pacote de medidas eletrônicas contra estes mísseis. E os mesmos que são disparados e não acertam na Síria, estão instalados no Irã, portanto, são apenas alvos para a FAI e não ameaças.


Arsenal Nuclear

E estimativa internacional é de que Israel possua entre 80 e 90 bombas atômicas de diversos tipos, mas trata-se de achismo, pois Israel jamais confirmou ou negou. Pode ter, pode não ter, podem ser menos, podem ser mais. Os 3 modelos de aviões F-15i, F-16 e F-35i tecnicamente podem transportar estas armas. O Irã, nada tem, até o momento, oficialmente. Isso não impede que possua algum armamento nuclear adquirido à Coreia do Norte.

A maior vantagem iraniana

Como qualquer grupo radical islâmico morrer em batalha é uma realização teológica desejável, que os judeus não têm. Nenhum judeu quer ser mártir. Os muçulmanos radicais procuram o martírio que gera benesses financeiras e de status às suas famílias e benesses muito maiores no pós vida. Portanto, combate exércitos que desejam morrer em batalha é algo muito complicado.

Consta do Livro da Jihad, que é sunita, mas deve existir algo parecido entre os xiitas. É um verso em que Allah disse a Maomé: “Eu poderia eliminar seus inimigos com um estalar de dedos, mas vocês precisam se comprovar em batalha. Aos que morrerem, nada lhes faltará”. Pelo lado judaico, nas palavras do sacerdote Hillel: “Quem salva uma vida, salva o mundo”. Essa é uma evidência de nossas diferenças.

Além disso a produção e venda de petróleo iraniano, mesmo com embargo ocidental gera uma quantidade imensa de dinheiro a ser gasto com a máquina militar e o financiamento dos proxies terroristas, Hamas, Hezbollah, houtis e xiitas no Iraque, que Israel não possui.

por José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.