Informações roubadas pelo Irã parecem se referir a centro de pesquisa nuclear de Israel
O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Mariano Grossi, afirmou nesta segunda-feira que as informações supostamente obtidas pelo Irã sobre o programa nuclear de Israel “parecem se referir” ao Centro de Pesquisa Nuclear de Soreq, em Israel. A declaração, feita durante uma coletiva de imprensa em Viena, marca a primeira confirmação externa das alegações de Teerã sobre a obtenção de um grande volume de inteligência israelense. O gabinete do primeiro-ministro de Israel não respondeu imediatamente aos comentários de Grossi.
Do que se trata? No domingo, o Irã publicou em todas as suas mídias que havia obtido (não se sabe se furtado, nem de onde obteve) milhares de documentos sobre o programa nuclear israelense, contendo “tudo”, inclusive projetos e pesquisas que permitiriam alavancar o programa iraniano. Nos parece que o Irã decidiu “clonar” a ação espetacular de Israel em 31 de janeiro de 2018, quando menos de duas dúzias de agentes do Mossad infiltraram-se num armazém secreto no distrito de Kahrizak , no sul de Teerã (a capital do Irã, e roubaram 100.000 documentos, incluindo registros em papel e arquivos informáticos, e em papel, que documentavam o trabalho com armas nucleares. Mas isso não parece ter dado em nada. O Irã divuglou duas versões: uma de que era um arquivo falso, e outra de que era um arquivo lixo, com documentos velhos, propostas e pesquisas que nunca foram adiante ou não deram certo. Israel nunca mais tocou no assunto.
Segundo relatos, o suposto roubo de informações ocorre em um momento de tensões renovadas em torno do programa nuclear do Irã, que enriquece urânio a níveis próximos aos necessários para armas nucleares e parece inclinado a rejeitar uma proposta dos Estados Unidos para um possível acordo sobre seu programa atômico. “Vimos algumas reportagens na imprensa. Não recebemos nenhuma comunicação oficial sobre isso”, disse Grossi a jornalistas. “De qualquer forma, isso parece se referir a Soreq, que é uma instalação de pesquisa que, aliás, inspecionamos.”

A AIEA mantém acordos específicos de salvaguardas com Israel, Paquistão e Índia, países que não aderiram ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. No caso de Israel, a agência monitora o centro de Soreq, mas não tem acesso à instalação nuclear de Dimona, considerada a fonte do combustível para o programa de armas nucleares não declarado de Israel. No fim de semana, a televisão estatal iraniana e, posteriormente, o ministro da inteligência do país afirmaram, sem apresentar evidências, que Teerã obteve um “tesouro importante” de informações sobre o programa nuclear de Israel. Israel, que possui o único programa de armas nucleares não declarado no Oriente Médio, não reconheceu qualquer operação iraniana contra si, embora tenha havido prisões de cidadãos israelenses acusados de espionar para Teerã durante a guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.
De acordo com a agência de notícias iraniana Tasnim, próxima ao Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC), a inteligência foi coletada e transferida por dois israelenses, Roy Mizrahi e Almog Atias, presos pela polícia de Israel em maio, sob suspeita de coletar informações para o Irã.
A revelação ocorre em um contexto de tensões internacionais. O anúncio israelense sobre as prisões precedeu a decisão do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, em seu primeiro mandato, de retirar os Estados Unidos unilateralmente do acordo nuclear com o Irã, firmado em 2015, que limitava o programa nuclear iraniano em troca do alívio de sanções econômicas.
Esta semana, nações ocidentais devem apresentar uma proposta ao Conselho de Governadores da AIEA para declarar o Irã em não conformidade com as obrigações de fiscalização da agência. Essa seria a primeira vez em décadas que tal medida seria tomada, podendo levar a questão ao Conselho de Segurança da ONU. Isso permitiria que um dos países signatários do acordo de 2015 invocasse o chamado “snapback” de sanções da ONU contra a República Islâmica. A autoridade para restaurar essas sanções expira em outubro, pressionando o Ocidente a agir rapidamente contra o programa nuclear de Teerã.