A história da estória falsa de Hitler ser judeu
Por José Roitberg
Todos já souberam que Sergey Lavrov, desgraçadamente afirmou acreditar que Hitler tinha “sangue judeu”. Muitos acham que ele inventou isso porque é maluco. Lavrov nasceu em 1950. Quando a União Soviética caiu, em 1991, ele era um diplomata comunista tão tarimbado que chefiava o departamento de Relações Econômicas Internacionais no Ministério Russo de Relações Exteriores. Passou do governo comunista ao governo não comunista, no primeiro escalão do poder. Mas ainda parece pensar e falar como se fora soviético e não russo.
Hoje vimos na TV comentaristas dizerem que a asneira de Hitler ser judeu veio do livro e 1953 de Hans Frank. Como assim? Foi o pai da Anne Frank que disse isso? Não, o pai da Anne se chamava Otto. Hans Frank é ninguém menos que o governador geral militar nazista da Polônia durante a Segunda Guerra Mundial, um advogado alemão nazista e o grande carrasco do povo polonês, tanto dos católicos quanto dos judeus.
Em 1945 Hans Frank abandonou o nazismo após o suicídio de Hitler e colocou em prática uma ideia antes de ser enforcado por crimes contra a humanidade em 1946. Simples: culpar os judeus pelo nazismo. Note: Hitler culpou os judeus tanto pelo comunismo como pelo capitalismo. Os soviéticos culparam os judeus pelo capitalismo e controle da mídia internacional. A Igreja culpou os judeus pela morte de Jesus imposta pelos romanos. Judeus foram culpados por secas e por enchentes. Culpados pela peste e doenças. Isso sempre deu certo. O discurso falso jogado sobre os judeus sempre rendeu frutos para quem o emitiu.
Ninguém sabe quem foi o avô de Hitler, pai do pai dele, Alois Hitler. Frank criou a estória (hoje denominada fake news) de que Alois, nascido em 1837, era filho ilegítimo da empregada Maria Anna Schicklgruber com o patrão dela, um judeu rico de sobrenome Frankenberger, na cidade de Graz. Teria sido confidenciado à Frank pelo próprio Adolf Hitler. Mas, historicamente a região onde se localiza a cidade de Graz, expulsou os judeus em meados do século 16 a sua volta só foi autorizada em 1860. Jamais qualquer historiador ou pesquisador encontrou qualquer traço de uma família “Frankenberger”.
Mas Frank apenas adaptou uma estória anterior. No dia 14/jun/1942 (abaixo), os principais jornais de todos os países aliados tremeram com a manchete de primeira página: “Sensação para hoje: Hitler é judeu também!” A fake news então era atribuída a “von Thyssen”, na verdade Fritz Thyssen, ex-mega industrial alemão da siderurgia, nazista e financiador do partido desde a primeira hora, que caiu em desgraça ao se opor à invasão da Polônia, no dia em que ela aconteceu. Se refugiou na Suíça. O texto atribuído a ele contava que o pai de Adolf era o filho ilegítimo de um Rothschild de Viena com uma moça empregada dele. Colocando ambos os textos lado a lado, se constata a absoluta mentira de ambos e se consolida o mau caratismo do ministro russo em exercício.
Foto: parte da primeira página do Diário da Noite (RJ) do dia 12 de junho de 1942 – arquivo do autor (acervo digital da BN).
Parabéns pela riqueza deste comentário, se Hitler fosse judeu não faria sentido ele exterminar seu próprio povo.