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Acordos de Abraão já permitem trabalho arqueológico em antigas comunidades judaicas no sul do Marrocos

Até pouco mais de um ano atrás os arqueólogos judeus entravam no Marrocos de forma dissimulada e não podiam publicar seus achados. Mas a normalização das relações entre o Marrocos e Israel mudaram o quadro. Arqueólogos e estudantes israelenses podem ir ao país árabe oficialmente e ainda obter apoio lá.

A pesquisa tem se concentrado nas antigas comunidades da cordilheira do Atlas, um deserto montanhoso mas com muitos oásis onde se fixaram judeus desde o ano 70 EC quando o Templo de Jerusalém foi destruído pelos romanos.

Existem cemitérios com lápides legíveis, conservadas pelo clima do deserto desde o século 3 EC e acredita-se que várias das ilegíveis sejam do final do século 2, da primeira geração de judeus que chegou lá.

Além dos túmulos existem os locais onde tradicionalmente funcionavam sinagogas, algumas por mais de 1.500 anos. A grande dificuldade é que são edificações construídas com tijolos de barro e sofreram desgaste pelo tempo. Não é possível datar as paredes nem imaginar por quantas vezes foram reconstruídas. Quase nenhum teto sobreviveu.

Todavia as instalações denominadas “guenizá”, locais onde as comunidades judaicas armazenam textos religiosos e objetos litúrgicos danificados ou que não podem ser mais usados ainda existem. Ao contrário do que vemos no ocidente a partir do final do século 19 onde as “guenizot” ficam localizadas nos cemitérios judaicos, lá nas comunidades dos judeus marroquinos primeiro bérberes, depois árabes, ficavam dentro das sinagogas, por vezes um buraco na parede de terra.

Ao longo dos séculos saqueadores encontraram várias e levaram objetos de valor, talvez candelabros e joias. Mas deixaram os papéis e livros. Mesmo expostos no deserto ficaram razoavelmente preservados. Muitos depois de espalhados por saqueadores, acabaram enterrados e protegidos por paredes e telhados de terra que ruíram sobre eles.

Uma nova luz sobre a história dos judeus bérberes, também chamados de “Amizigh” está prestes a ser encontrada. Até o momento foram encontrados artefatos e textos que remontam ao século 18. Mas é só cavar mais.

Imagem: Duas mulheres judias bérberes na sala da casa delas no Marrocos em 1950, antes da maioria dos judeus marroquinos ir para Israel. Apesar de viverem basicamente nas Montanhas do Atlas, a cultura judaica bérbere era muito colorida e bonita. Foto em domínio público.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.