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ALTALENA – O navio da discórdia

 Você já ouviu falar no navio ALTALENA? Esse tema é pouco discutido vez que mostra uma fratura na sociedade israelense, no primeiro momento de sua afirmação como nação independente e como país soberano.

O que teria levado soldados das forças de defesa de ISRAEL (IDF) a dispararem contra judeus sobreviventes do Holocausto que chegavam ao país recém-criado para se unir ao exército regular de defesa do Estado Judeu no combate à invasão árabe ocorrida no dia 15 de maio de 1948, um dia após David Ben Gurion declarar a independência do Estado Judeu.

O navio Altalena pegando foto após ser bombardeado na praia de Tel Aviv
Crédito: Hans Pinn, domínio público, via Wikimedia Commons

Como foi possível acontecer este combate nas areias da praia de Tel Aviv, menos de um mês após o estabelecimento do Estado de Israel?

A resposta é simples e deplorável.

Política! E, ódio!

 O ódio nutrido pela esquerda política judaica contra a direita política judaica. Qualquer semelhança com os dias atuais não é mera coincidência, não.

Resumindo: a esquerda política judaica instalada hegemonicamente no primeiro governo de Israel, mandou o exército do Estado, disparar tiros de canhão e metralhadora contra o navio com os combatentes da direita política judaica, então, fora do governo.

O Altalena

O Altalena era um grande navio norte-americano de desembarque de tropas, como os utilizados na invasão da Itália e no Dia D, originalmente USS LST-138.

Desta forma, o Altalena vinha carregado com uma fortuna em armamentos franceses, doados pelo governo de Gaulle para  usar na defesa de Israel contra os árabes.

O Irgun pretendia atracar na praia de Tel Aviv, mas o governo escolheu a praia de Kfar Vitkin, onde não havia observadores da ONU, convencendo assim, os líderes do Irgun a desembarcarem em outro local.Kfar Vitkin é um moshav (tipo de fazenda coletiva um pouco diferente de um kibutz) fundada em 1933, alguns quilômetros acima da cidade de Natanya.

Ainda na reta final de chegada, as negociações entre Begin (que se encontrava em Israel) e o Governo já haviam sido iniciadas. O governo aceitou a primeira proposta. 20% dos equipamentos seriam destinados ao Batalhão Jerusalém, do Irgun, que lutava de forma independente. Mas a segunda proposta de Begin, de que o restante do armamento fosse transferido através do IDF para os novos batalhões que o Irgun pretendia formar, não recebeu aceitação. Foi então que começou a crise.

O Desembarque

Durante a operação de desembarque o Gabinete de Governo se reuniu e Ben Gurion lança em seu diário: “Precisamos decidir se vamos entregar o poder a Begin ou ordenar a ele que cesse suas atividades em separado. Se ele não aceitar, vamos abrir fogo. Senão, devemos decidir desfazer nosso próprio exército.” Não havia mais possibilidade de cooperação. A resolução do encontro foi dar ao IDF a força que fosse necessária para se sobrepor ao Irgun e com isso, apreender o navio e toda a sua carga bélica.

O IDF escolheu sua tropa de elite para cumprir esta missão horrível. A Brigada Alexandroni cercou Kfar Vitkin, com dois regimentos equipados com tanques e artilharia. Três corvetas da marinha completaram o bloqueio pelo mar e o ultimato foi lançado.

Begin e os oficiais do Irgun estavam na praia. No final da tarde tiros de fuzil começaram a ser disparados pelos dois lados. Hillel Kook, que estava lá, declarou que alguns homens do Irgun dispararam do navio contra a água para mostrar que iriam resistir e isto foi interpretado com um ataque contra as tropas da Alexandroni e respondido. Begin saiu da praia e foi para o Altalena num barco a remos sob tiros. Os homens do Irgun que ficaram na praia, foram vencidos e presos. Este primeiro combate deixou seis combatentes do Irgun mortos e dezoito feridos. Pelo lado do IDF houve dois mortos e seis feridos. Às 21h35, sob as ordens de Begin, o Altalena seguiu para Tel Aviv. O IDF levou um batalhão de artilharia para Tel Aviv e quando posicionado, Ben Gurion ordenou abrir fogo e afundar o navio do Irgun.

O saldo do combate em Tel Aviv foi 16 mortos pelo lado do Irgun e  3 soldados do IDF.

 Resultado dos combates

Apenas 200 integrantes do Irgun foram presos por algumas semanas e depois libertados. O navio assentou no fundo da praia, devido aos danos e tornou-se um ponto turístico. Cerca de um ano depois, ele tornou a flutuar e foi levado até 15 milhas da praia e afundado.

Na campanha eleitoral de 1977 em Israel o caso do Altalena voltou a pauta. A esquerda judaica não podia admitir que aquele tal de Menachem Begin (1913-1992) “que causou o conflito interno em 1948” sequer fosse candidato pelo partido Likud. Begin venceu a eleição e foi o primeiro-ministro que assinou o Acordo de Paz com o Egito. Ele e Anuar Sadat, receberam o Prêmio Nobel da Paz. Begin foi primeiro-ministro de Israel entre 1977 e 1983.

 Foto: O navio Altalena pegando foto após ser bombardeado na praia de Tel Aviv

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.