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Amia 30 anos de fatos esquecidos e desconhecidos

Dia 18 completam-se 30 anos do ataque terrorista conta a AMIA em Buenos Aires. Aqui, vários fatos que as pessoas já esqueceram e as mais novas nunca souberam.

Um verdadeiro Arquivo-X. Veja alguns dos fatos que compõe este grande complô. Em primeiro lugar, sempre foi mostrado que a AMIA – Associação Mutual Israelita, à Rua Pasteur 633 em Buenos Aires foi um alvo “judaico” legítimo. Sim, era uma instituição judaica. Todavia boa parte das vítimas não eram judias e quase todas não trabalhavam na AMIA, quase todas eram pessoas desempregadas ou trabalhadores da construção civil e, muitas morreram na rua e nos prédios vizinhos, inclusive um funcionário de padaria que tinha ido cobrar de cliente.

Pouco conhecida imagem de instantes após a explosão.

O número total de mortos foi de 85 e frequentemente é exagerado nas mídias sociais
32 das vítimas fatais eram cristãs
53 das vítimas fatais eram judias
26 delas eram funcionários da AMIA ou DAIA
22 delas estavam na rua ou em prédios vizinhos
240 outras pessoas ficaram feridas

A AMIA possuía uma bolsa de empregos 16 vítimas fatais estavam procurando emprego. A coordenadora da bolsa também foi morta. Outras quatro eram do serviço social.

11 vítimas fatais estavam no setor de sepultamento, 5 delas tratando de enterros. Todos os funcionários do setor foram mortos, inclusive os diretores.

14 vítimas eram trabalhadores da obra de reforma AMIA, inclusive o arquiteto judeu.

Só aqui, estão 41 das 86 vítimas fatais.

Versão 1 picape bomba com terrorista não suicida que foi visto correndo antes da explosão

Versão 2 picape bomba que subiu a calçada e a escada de entrada com uma bomba voltada para cima

Versão 3 Furgão Renault Trafic bomba que teria subido a escada e penetrado até o hall

Versão 4 Furgão Renault Trafic bomba que explodiu na rua; há uma cratera nos autos do processo e restos de explosivo Amonal em pedaços de um veículo deste tipo

Versão 5 bomba colocada em caçamba de entulho de empresa árabe colocada minutos antes defronte a porta a AMIA. A empresa trabalhava sempre com o arquiteto das reformas que morreu no ataque e evidentemente impediria que o carro-bomba chegasse até a porta a AMIA. Várias testemunhas viram a enorme caçamba de aço ser colocada no local mas nenhum fragmento dela aparece em nenhuma imagem. O motorista que a colocou testemunhou e confirmou que não a deixou na porta, mas alguns metros afastado o que teria facilitado a entrada do carro bamba

Versão 6 da defesa dos policiais envolvidos é que a bomba estava dentro da AMIA devido à falhas na segurança

Pelo estado desta van de passageiros que estava na rua e foi arremessada contra a calçada pode-se ter uma noção da força da explosão.

Fato – Apesar dos xiitas não aceitarem o martírio suicida-homicida como os sunitas praticam (homens-bomba), definindo que o martírio só pode ser em combate aberto, o ataque foi suicida. O terrorista foi Ibrahim Hussein Berro, 21, membro do Hezbollah (confirmado por dois irmãos dele que moram nos EUA). No Sul do Líbano existe uma placa memorial a ele honrando o martírio realizado em 18/jul/1994. Os peritos argentinos encontraram a cabeça, que se imagina ter sido de Berro, e não realizaram qualquer exame ou colheram DNA, apenas a descartaram (parte dos encobrimentos nas investigações.

Fato – O ataque foi realizado com uma van Renault Trafic carregada com uma bomba de 275 kg de fertilizante nitrato de amônia e óleo diesel, explosivo potente, conhecido como amonal. A bomba foi construída com um grande penetrador formado por explosão, portanto direcional. A explosão arrancou toda a fachada do prédio antigo construído com tijolos, e o penetrador atingiu um pilar. A combinação fez toda a edificação desabar.

Fato – Os dois policiais militares que estavam de guarda na porta da AMIA abandonaram o carro de polícia e se afastaram dali minutos antes da hora do ataque: o carro semidestruído foi documentado em imagens

Este era o prédio da AMIA em foto do início dos anos 1980.

Fato – Tanto a AMIA quanto a embaixada de Israel atacada em 1992 estavam em reformas

Fato – O ataque contra a AMIA foi feito uma semana antes da comemoração dos 100 anos da entidade

Fato – O ataque contra a AMIA no dia 18 de julho de 1994 foi um dia após Tishá b’Av que caiu no domingo quando a AMIA estava fechada

Fato – Carlos Saúl Menem, ex-presidente argentino era muçulmano allawita (xiita sírio) e se converteu ao cristianismo apenas para concorrer às eleições pois a constituição argentina só permitia um presidente cristão. Foi sepultado em cemitério muçulmano

Fato – No primeiro mandato de Menem a embaixada de Israel foi destruída a bomba em Buenos Aires e não houve esclarecimento do ataque. Em seu segundo mandato presidencial a AMIA foi destruída por carro bomba

Rapazes judeus religiosos no alto do prédio vizinho observam o resgate. Veja os danos terríveis que a explosão deixou nos prédios defronte a AMIA.

No início não havia testemunhas nem culpados mas a investigação do caso foi tão profunda que gerou um processo impossível de ser analisado:

20 acusados sendo 5 deles envolvidos diretamente no ataque: Carlos Telleldín vendedor de carros roubados e agente de prostituição e 4 ex-policiais: Juan José Ribelli, Mario Barreiro, Anastasio Leal y Raúl Ibarra.

1.470 testemunhos tomados em juízo

400 telefones grampeados com ordem judicial

300 mil horas de gravações de conversas telefônicas

Processo com 146 volumes e 29.200 folhas

Conexão Brigada – polícia de Buenos Aires – mais 40 volumes

Conexão Armas – Carapintadas (setor do exército) – mais 40 volumes

Perícias – mais 10 volumes e 270 anexos

No total o processo vai a mais de 45.000 páginas para algo que ninguém tem certeza de quem fez ou quem são os responsáveis

Desapareceram de dentro da Polícia Federal argentina a agenda de telefones e compromissos de Telleldín e 60 horas de gravações de seus telefones. Ele teria fornecido o furgão Renault Trafic e acusou os policiais em 1996. Anos depois, afirmou que foi pago para dizer isso.

O New York Times acusou o presidente Carlos Menen de ter recebido 10 milhões de dólares do Irã para encobrir o caso. Depois o jornal disse que a informação foi de um desertor iraniano.

O Hezbollah sempre foi acusado pelo ataque mas nunca assumiu. Em 2001 a Al Qaeda assumiu o ataque mas ninguém levou a sério

Quatro corpos, quatro homens comigo, quatro baldes? O que será que ele quis dizer?

O brasileiro Wilson Dos Santos que foi à embaixada brasileira em Roma avisar sobre o atentado, mas não foi levado a sério, acabou sendo preso na Argentina e condenado a 6 anos de prisão por falso testemunho. Ora, como ele poderia dar testemunho falso ANTES do ataque? É o único condenado até agora, o que aconteceu em 29 de abril de 2003. Cumpriu a pena em liberdade.

Em agosto de 2005, o juiz federal Juan José Galeano, encarregado do caso, foi acusado de manipulação e supressão de provas e retirado do caso.

Em novembro de 2007, na sequência da acusação, a Interpol publicou os nomes de seis indivíduos oficialmente acusados no atentado terrorista e entraram na lista de procurados da Interpol, todos iranianos: Imad Fayez Moughnieh (morto por carro bomba, em 2008, em Damasco, Síria), Ali Fallahijan (aiatolá, foi ministro da inteligência iraniana, acusado na Suíça por outros homicídios, não pode deixar o Irã), Mohsen Rabbani (aiatolá, viveu na Argentina entre 1983 e 1997, considerado o planejador dos ataques contra a embaixada de Israel em 1992 e AMIA 1994), Ahmad Reza Asghari (diplomata, ex Guarda Revolucionária Iraniana, considerado organizador os atentados, hoje funcionário do ministério das relações exteriores do Irã), Ahmad Vahidi (comandante na Guarda Revolucionária e ministro do interior no Irã desde 2021) e Mohsen Rezaee (major-general da Guarda Revolucionária, assessor direto do aiatolá Ali Khamenei).

Em 18/jan/2015 (talvez, não coincidentemente, um dia 18) Natalio Alberto Nisman, judeu, procurador federal que investigava o atentado, foi assassinado em sua casa em Buenos Aires, poucas horas antes de apresentar suas conclusões ao Congresso.

Em abril de 2024 o judiciário argentino responsabilizou o Irã e a organização terrorista Hezbollah pelo ataque à Associação Mutual Israelense Argentina (AMIA), ocorrido em 1994 em Buenos Aires, no qual 85 pessoas foram assassinadas e 300 feridas, e classificou o atentado como “crime contra a humanidade”.

Rapidamente uma multidão afluiu para ajudar.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.