IsraelÚltimas notícias

Ataque preventivo de Israel contra o Irã, quais seriam os alvos?

Vou tentar explicar do ponto de vista estratégico e tático e não do ponto de vista político.

Atacar o Irã primeiro, significaria exatamente atacar quais alvos lá? Vamos por partes.

1) Muita gente mesmo está defendendo atacar a produção de petróleo iraniana. São alvos enormes, fáceis e provavelmente não são protegidos por mísseis antiaéreos. O Irã tem 38 campos petrolíferos. Praticamente todos estão localizados numa faixa a oeste do país, portanto mais próximos de Israel.

1a) Como vc pode ver no mapa, cada campo é operado por uma multinacional petrolífera. Neste momento, com o embargo em vigor, eu não posso AFIRMAR, que os campos pertencem ao governo do Irã, ou continuam pertencendo à petrolíferas. Se for este o caso, como bombardear instalações da Shell, Repsol, Petronas, Luk etc? O ataque seria contra empresas de todo o mundo e não exatamente contra o governo do Irã.

1b) Após o início do embargo o Irã passou a vender quase que exclusivamente à China. Portanto remover o acesso da China ao petróleo iraniano e de fato desestabilizar o mundo inteiro, pois além da China ser um imenso consumidor, é voraz e vai fechar rapidamente contratos com outros países (em poucos dias) e isso vai elevar o preço do petróleo e tudo que deriva da cadeia de combustíveis e polímeros de uma forma, devastadora. A China compra 1,5 milhões de barris/dia do Irã e tem 40 refinarias só trabalhando com isso, e ainda recebe um desconto de 13 dólares por barril. Ou seja, atacar a produção de petróleo do Ira é comprometer a China. E isso não pode acontecer.

2) Programa nuclear iraniano como alvo. São 150 instalações espalhadas por todo o território do Irã. É absolutamente fundamental que as pessoas compreendam as dimensões territoriais do Irã. A Alemanha, que é considerado um país grande na Europa tem 375.000 km2. O Irã tem 1.645.000 km2. Todos os 150 locais são absolutamente conhecidos. Mas nem todos são alvos.

2a) Atacar o reator nuclear em Busher é impossível pois a nuvem radioativa comprometeria o Kwait e o Norte da Arábia Saudita, talvez até a capital, Ryad. Esta é a defesa de Busher que nem tem artilharia antiaérea. Só há um reator lá. Os outros 3 estão em fases distintas de construção de engenharia civil ainda e bem atrasados. Ali, na área do reator, o alvo é a Casa de Turbinas, de geração elétrica que fica em um prédio anexo. Mas qual seria o impacto de destruir a geração elétrica de Busher sobre o Irã? A geração de eletricidade no Irã é 94% a partir de combustíveis fósseis e é muito avançada. 86% é por turbinas a gás natural e apenas 8% por óleo cru. Busher com suas turbinas a vapor representa apenas 6% do consumo iraniano. Portanto, é um alvo irrelevante. Além disso, o reator não contribui com o necessário para se chegar a uma bomba atômica.

2b) O que contribui são as centrífugas de enriquecimento de urânio. E o Irã possui 19.000 em operação, quase todas em Natanz (na foto acima), mais exatamente 30 km ao norte da cidade, numa região isolada a 250 km de Teerã. Atacar ali é fácil, apesar da instalação ser absolutamente protegida por artilharia antiaérea. No ataque anterior a IAF destruiu uma das unidade de mísseis russos S-400 que protegia o local, mostrando que poderia ter destruído o local inteiro. Precisa de um bombardeio intenso, inclusive com bombas antibunker de 2,5 toneladas, mas Israel tem isso e tem os meios para acertar os alvos ali. Isso paralisaria o enriquecimento de urânio do Irã. Caso o urânio enriquecido esteja armazenado lá (coisa que eu não faria), pode ser disperso pelas explosões também. Não gera um comprometimento radioativo.

2c) Existem outros locais que devem ser destruídos do programa nuclear, mas eu não sei exatamente quais são. Só sei que não precisa atacar os 150 alvos e que a prioridade é Natanz.

3) Nenhum destes ataque acima evitaria que o Irã atacasse Israel e e de fato não se caracteriza como ataque preventivo. Atacar os depósitos de mísseis iranianos, em princípio não dá para ser feito pois estão dentro de montanhas de pedra. Como venho falando há anos, destruir as portas antibomba, as entradas destas instalações nas montanhas, obliterar as estradas de acesso por onde os mísseis precisam ser deslocados para seu locais de lançamento, são alvos simples e fáceis e podem ser feitos. Que os mísseis fiquem dentro das montanhas.

Míssil iraniano Shahab 3ER para 2.000 km, modelo padrão iraniano em posição de abastecimento e lançamento, foto oficial iraniana

3a) Os mísseis balísticos iranianos com alcance de 2.000 km são de apenas 2 modelos, de projeto soviético. Eles exigem um caminhão lançador enorme e lento além de um caminhão de combustível líquido específico. Estes projeto de mísseis só podem ser armazenados vazios e transportados vazios. Quando chega o caminhão no local de lançamento, o míssil é ereto e nesta posição é abastecido. Levantar o míssil pode levar até 10 minutos. Abastecer leva mais 45 minutos a uma hora. Somente depois que o caminhão de combustível se afasta é que o míssil pode ser disparado. E é isso que os satélites, drones e aviões radar de controle estão procurando: a movimentação destes caminhões. Apenas quando eles foram movimentados se tem a confirmação de algo em andamento. No momento em que pararem e começarem a colocar o míssil da posição vertical, Israel tem cerce de 65 minutos para destruir cada alvo destes. Se os alvos estiverem no oeste do Irã dá tempo, até porque os aviões não precisam chegar ao caminhões e podem disparar de até 250 km de distância, talvez nem entrando no espaço aéreo iraniano. Este sim, será um ataque preventivo correto e vitorioso. Se participarem os aviões americanos e britânicos que estão no Catar, então os caminhões vão ser atacados antes de encher metade do tanque dos mísseis.

3b) Israel não tem necessidade de atacar qualquer base aérea iraniana pois a aviação do Irã é velha, sucateada e não representa qualquer ameaça. Portanto, também não são alvos para um ataque preventivo.

4) Outros alvos típicos para o ataque preventivo seriam os depósitos de munições da Guarda Revolucionária Iraniana.

5) Em relação ao Hezbollah, parece que todo mundo esquece que já existe guerra entre o Hezbollah e Israel, desde o dia 8 de outubro. Anteriormente o comando do IDF no governo anterior, convocou uma coletiva de imprensa para mostras os 10.000 alvos já marcado para a próxima guerra com o Hezbollah. Dado o número de aviões que Israel tem, operando em capacidade máxima, seriam necessários 10 a 11 meses para apenas acertar uma bomba em cada alvo. E precisa-se levar em conta que 10% das bombas e mísseis falham em explodir, e isto é uma estatística para todos os exércitos. De fato, nestes 10 meses, terminados no dia 8 de agosto, Israel já atingiu cerca de 6.000 alvos do Hezbollah. Além de um ou dois lançadores de mísseis por dia, o IDF vem limpando a lista pré existente dentro do planejamento deles. As pessoas imaginam que o IDF não está fazendo nada mas está. São atacado principalmente os depósitos de munição e postos de comando e observação do Hezbollah.

5a) As principais instalações do Hezbollah são profundamente escavadas na rocha e a única opção é obliterar suas entradas principais conhecidas. A grande maioria dos caminhões lançadores fica estacionada em garagens no piso térreo de edifícios residencias, para provocar grande número de vítimas civis se atacados. Os lançadores que Israel vem destruindo todos os dias, em sua maioria são descartáveis, produzidos para apenas uma utilização podendo ser em metal ou concreto, já prevendo que serão bombardeados em seguida. Isso foi uma solução tática muito interessante do Hezbollah. Os lançadores de mísseis anti tanque são transportados por dois soldados, que depois de disparar o carregam e saem correndo para uma posição protegida.

5b) Os grandes mísseis do Hezbollah são de tecnologia mais antiga que os mísseis iranianos. Alguns ainda são SCUD fabricados na União Soviética. Tal qual os mísseis iranianos, os SCUD não podem ser lançados desde o subsolo e dependem de grande caminhão lançador, abastecimento de combustível líquido etc. A grande dúvida é ser o Hezbollah possui combustível para os SCUD, pois aquela imensa explosão no subsolo do porto de Beirute, certamente foi o depósito deste combustível. Aliás foi a maior explosão não nuclear ocorrida até hoje. Assim para a IAF a missão básica é localizar e atacar imediatamente os caminhões lançadores dos grandes mísseis do Hezbollah durante o abastecimento. Eu diria que esta missão é muito fácil para a IAF, pois em minutos as patrulhas de prontidão aérea já estarão ao alcance dos alvos. E possuem uma hora para atacar. Moleza. Tiro ao alvo.

A pergunta que ninguém faz é muito simples. Se o Hezbollah, tem a certeza de que consegue dizimar Israel, por que ainda não o fez?

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem do post, ilustrativa gerada por IA.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.