Centenas de milhares de israelenses nas ruas contra o governo
Neste fim de semana os protestos completaram sete semanas e foram os maiores até então. A estimativa da polícia de Israel foi de 250.000 manifestantes no sábado a noite, após o shabat, em Tel Aviv e noutras cidades. Mas na segunda-feira pela manhã, outros 100.000, portando bandeiras de Israel estiveram nas ruas de Jerusalém.
O governo está acusando a oposição de levar o país à anarquia. A oposição acusa o governo de demolir a democracia. Complicado. E sempre lembrando que é direita política contra direita política.
Foi uma tentativa de pressão para a coalizão de Bibi Netanyahu não prosseguir com a apresentação, leitura e votação do projeto de lei que alterará a forma como os juízes da Suprema Corte são indicados. Apesar de várias pessoas afirmarem que já é como no Brasil ou que vai ficar como no Brasil, a situação lá é diferente.
O judiciário israelense é autônomo, e indica os juízes da Suprema Corte. O que o governo atual pretende é passar esta indicação e aprovação para o Parlamento, onde possui maioria, neste momento. Isso claramente significa que o governo irá remover os atuais juízes e colocar os seus juízes, seus amigos, seus apoiadores. Nós brasileiros sabemos o que vai resultar disto.
Em que pese o sistema brasileiro ter sido montado para que os juízes sejam apontados pelo presidentes e aprovados (ou não) pelo Senado a medida em que se aposentem ou se afastem, não sendo prevista ou imaginada uma troca total. Hoje no STF temos juízes colocados por Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. Em Israel Bibi quer os juízes colocados por Bibi.
O presidente Herzog, neste domingo 12/fev/2023 fez um apelo “implorando” (mesmo) para que tal reforma não prossiga e que seja feito um acordo entre o primeiro-ministro e o judiciário.
As últimas pesquisas publicadas na mídia israelense (se é que se pode confiar nelas) apontam que apenas 25% da população estaria a favor desta reforma do judiciário, enquanto a coalizão detém 48,31% dos votos da última eleição. Ou seja, esta proposta teria apoio de pouco mais da metade dos eleitores que apoiaram a formação deste governo.
Apesar da manifestação de hoje, segunda-feira em Jerusalém, o comitê parlamentar de análise aprovou o encaminhamento do projeto de lei para votação no Knesset. Depende de Bibi levar adiante. Se for votada, vai passar e ser aprovada.
Imagem: Haifa, protesto contra a reforma do judiciário proposta pelo governo de Israel. Foto de “David King” CC 2.0.
Opinião de José Roitberg – jornalista