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Condição de saúde de Netanyahu é uma incógnita

Ele parece estar bem e já participou da agenda normal desta segunda-feira. Mas existem perguntas no ar e um sério problema a ser resolvido politicamente.

O primeiro-ministro de Israel deu entrada no Sheba Medical Center no final da tarde de sábado com tonteira. A versão oficial é de que ele estaria no Kineret, em Tiberíades, num dia especificamente quente, sem usar chapéu, sem se hidratar corretamente e teve sofreu um quadro de desidratação. Faz sentido? Sim, totalmente.

No hospital foi submetido a monitoramento cardíaco e todos os exames de coração, provavelmente um eco-cardiograma que comprovou inexistir qualquer componente físico e que tudo está ok. O boletim médico oficial indicou que todos os exames foram normais.

Mas ao sair do hospital, o boletim médico indicou que Bibi recebeu um holter subcutâneo, que é um “chip”, semelhante ao da foto deste post, tecnologia já antiga com mais de dez anos em uso em todo o mundo. Serve para monitorar os batimentos do coração e detectar arritmias, basicamente. A leitura dos dados é realizada por um dispositivo externo.

O procedimento é simples, através de uma pequena incisão na pele do peito do paciente sob anestesia local. Consciente o tempo todo e isso é importantíssimo em relação a questão política. O dispositivo pode funcionar por até três anos seguidos.

A pergunta é óbvia: se tudo está ok, então porque o monitoramento permanente. Em parte eu posso explicar. Os médicos suspeitam de uma arritmia cardíaca que pode ocorrer a qualquer instante e pode se normalizar sozinha. Por exemplo: ele pode ter tido arrtimia no Kineret, sentido mal, mas no início do atendimento ao ser encaminhado para o Sheba ela poderia ter revertido sozinha, o que é absolutamente comum. Todos os exames dariam ok. A arritmia não deixa rastro.

A maior parte dos pacientes que sofrem arritmias as tem durante o sono e nem sabem que o quadro aconteceu. É aí que entra o monitoramento permanente. Se acontecer, o chip pega. São três tipos básicos de arritmias: pulso irregular e muito baixo (exige marcapasso), pulso irregular (exige medicamento simples diário), e pulso irregular e muito acelerado, exigindo outros tratamentos. As condições um e três são perigosas. A dois está dentro do que se considera normalidade. E como ele é o líder do Estado Judeu, todo cuidado é pouco.

Difícil imaginar como alguém com a pressão incessante por todos os lados acrescida da enorme responsabilidade, consegue não ter problemas cardíacos.

O que nos leva ao problema político. Ao sentir-se mal ele não designou um nome para agir interinamente como primeiro-ministro. A lei israelense exige este nome apenas quando o primeiro-ministro for se ausentar do país ou quando for passar por um procedimento sob anestesia geral, ou seja, for ter um período inconsciente além da recuperação obrigatória do anestésico. Portanto, em princípio ele ficou consciente o tempo todo e não violou a lei.

Mas muita gente ficou preocupada, inclusive os parlamentares de seu próprio partido. Desde seu primeiro mandato Bibi nunca deixou um vice designado para o substituir. A lei não exige. O vice atual seria Arie Dery do Shas, que ainda possui o cargo de vice-primeiro-ministro, mesmo que esteja impedido de exercê-lo pela Suprema Corte. Mas ser o vice-primeiro-ministro não significa uma substituição automática como no caso dos vice-presidentes no regime presidencialista.

Ele precisa ser oficialmente determinado a substituir o primeiro-ministro. A cada viagem, Bibi escolhe alguém para o substituir e isso está também dentro da lei israelense. Caso Bibi tenha um piripaque e não possa manter sua atividade, sem designar substituto, a Coalizão precisará rapidamente definir um nome para um governo temporário de 100 dias com a convocação de novas eleições. O nome que substituiria Bibi Netanyahu precisaria necessariamente ser um ministro que tivesse sido também um membro do Knesset. E isso o Likud entendeu que precisa decidir rapidamente e antecipadamente.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador.

Imagem: Holter subcutâneo da marca Reveal Link, imagem de divulgação da empresa

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.