Conheça os judeus do Japão
Com as Olimpíadas de Tóquio ainda em andamento, saiba mais sobre os judeus do Japão.
Os primeiros registros de qualquer interação entre judeus e japoneses datam do século XIV, através da infiltração europeia no mercado japonês e as interações mercantis que sucederam a “descoberta” portuguesa do Japão.
Como parte do setor mercantil, os primeiros judeus em território nipônico ali chegaram com fins comerciais e sem a possibilidade de ali se estabelecer – o país possuía uma rígida política de entrada de imigrantes, chamada “portas fechadas”.
Isso só mudou a partir de 1853, quando o Comodoro Matthew Perry, enviado dos EUA, chegou ao país para firmar um acordo com a ordem vigente de Shoguns (que depois seria conhecido como Convenção de Kanawaga, nomeado pela cidade aonde foi firmado) que anulou essa política. A primeira comunidade com registros no Japão foi a de Yokohama, com cerca de 50 famílias. A segunda comunidade a se desenvolver foi a comunidade de Nagasaki, que chegou a ter cerca de 100 famílias, antes de entrar em processo de declínio e, finalmente, extinção devido à guerra Russo-Japonesa que durou de 1904 até 1905.
A próxima comunidade a se estabelecer foi a comunidade de Kobe, para onde foi transferida a Torá de Nagasaki após o fim da comunidade. Essa nova comunidade era constituída, basicamente, de imigrantes russos judeus, ex-prisioneiros de guerra que haviam lutado no exército do Czar e participado na Revolução Russa de 1905 (estes judeus chegaram ao Japão através da cidade de Harbin, na Manchúria – atual Manchuoko – que possuía cerca de 30.000 habitantes judeus, uma escola judaica e três sinagogas construídas). Além deles, ainda haviam imigrantes do Oriente Médio e Europa Oriental (principalmente da Alemanha), e após o terremoto Kanto, Kobe absorveu a comunidade de Yokohama. Esta comunidade se desenvolveu bastante até os anos 50, mas eventualmente foi ultrapassada em número e organização pela comunidade de Tóquio.
Com a aliança entre o Japão e a Alemanha nazista, durante o período da Segunda Guerra Mundial, os níveis de antissemitismo na literatura (com tradução de textos antissemitas para o japonês) e na propaganda (vinda diretamente da Alemanha) aumentaram exponencialmente; contudo, mesmo sob pressão de autoridades nazistas, o governo japonês não aceitou implementar no território programas de extermínio de judeus, e grande parte da população japonesa permaneceu indiferente a estes escritos.
De 1937 a 1941 houve um fluxo de imigrantes judeus fugindo da Alemanha e Europa Oriental chegando ao Japão e Shangai, cidade portuária chinesa sob ocupação japonesa desde 1937. Hongkew, a parte japonesa de Shangai não fazia controle de passaportes e os judeus vieram da Europa em navios de passageiros japoneses. Não podiam desembarcar na área britânica ou francesa da cidade. Cerca de 20 mil judeus terminaram sua viagem por lá e não foram importunados por atitudes antissemitas. Sua vida difícil, pobre, faminta e doente não foi diferente da dos outros moradores da cidade no período.
Quando os EUA entraram na guerra no final de 1941 após o ataque japonês contra Pearl Harbour, todos os civis britânicos, americanos, franceses e holandeses de Shangai foram enviados para campos de prisioneiros fora da cidade. Entre eles a rica e antiga comunidade judaica iraquiana com passaporte britânico que estava por lá há mais de 40 anos e sustentava os refugiados judeus europeus.
No pós-guerra, durante a ocupação americana do território japonês (1945-1952), muitos americanos judeus desembarcaram no Japão, através do exército ou não, e ali se estabeleceram. Assim se formou, majoritariamente, a comunidade judaica de Tóquio, hoje a maior no país. Esse processo teve seu auge em 1950, e hoje há na cidade algumas centenas de famílias judaicas e uma comunidade ativa.
Em 1952, o governo japonês iniciou o processo de estabelecimento de relações diplomáticas com o governo israelense que progressivamente foram evoluindo até o estabelecimento de Embaixadas no ano de 1963. Hoje, embora pequena, a parcela judaica da população japonesa é completamente livre para qualquer tipo de prática religiosa.
Atualmente, a comunidade no Japão tem em torno de 1.400 judeus. Um pequeno número de judeus de outros países vivem no Japão temporariamente para negócios, pesquisa, graduação, ou outros fins.