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Estamos brincando com o ômicron? 650 mil casos nos EUA

Opinião de José Roitberg, jornalista e pesquisador

O texto escrito por mim em dezembro de 2019 poderia ser publicado novamente: só muda a cepa. O momento geopolítico era semelhante e dois anos depois poucos parecem ter aprendido. Eu escrevi que o tal do covid-19, nome ainda estranho à maioria das pessoas deveria ser algo muito complicado, ou não seriam justificados os primeiros impedimentos de linhas aéreas e a situação na Itália, beirava o inacreditável, o além da imaginação.

Por que se falaria em lock down, pessoas trancadas em casa e quarentenas? A multidão que prefere as teorias de conspiração tem a resposta na ponta da língua: Terceira Guerra Mundial lançada pela China, Primeira Guerra Econômica Lançada pela China, vão fazer os preços caírem e comprarem tudo… Mesmo que isso não tenha ocorrido e muitas das notícias verdadeiras de aquisições chinesas como a do sistema elétrico do Estado de SP, redes de TV etc, tenham se dado anos antes da pandemia, as pessoas continuam acreditando que aconteceram devido a pandemia.

Já perguntei a vários conhecidos meus negacionistas, inclusive amigos, se ao invés das conspirações chinesas eles não preferiam adotar as conspirações que apontam a mim e a eles próprios, todos nós judeus, como responsáveis pelo vírus para faturar fortunas com as vacinas. Normalmente eles não me respondem mais.

Eu não consigo compreender como qualquer judeu acredita em teorias de conspiração sobre uma pandemia, mesmo os que conhecem a história dos judeus no mundo. Fomos acusados pelas pestes na Europa, inclusive a Peste Negra. Fomos acusados de envenenar poços de água em epidemias de cólera e outras doenças gastrointestinais. Fomos acusados de usar magia negra para provocar secas. Fomos acusados de usar magia negra para provocar tempestades. Por isso, é muito difícil para mim fazer aos outros o que sempre fizeram a mim. Para algumas pessoas, parece ser a hora do troco, mas os chineses nunca tiveram problemas com os judeus, muito pelo contrário, então o troco está sendo dado sobre que não foi perpetrador de antissemitismo bizarro.

Depois de dois anos, o contingente de pessoas que não acredita que a pandemia sequer exista, se manteve ou até mesmo aumentou. Um ano atrás, no meio da pandemia, questionei um amigo meu: “Cara, você diz que não morreu ninguém que você conhece. Lamento informar que você tem poucos amigos e conhece pouca gente.”

Uma semana atrás, as pessoas “achavam” o omicron um treco bobinho, como “achavam” igualmente o SarsCov-2 bobinho em dezembro de 2019. Um punhado de casos na África do Sul. Caraca! Está tudo ótimo no Rio de Janeiro! Temos um caso só confirmado e é de quem veio de fora! (claro que é de quem veio de fora… é assim que o vírus pula de continente andando nas asas da modernidade). Estamos só com 19 pessoas internadas com covid-19! Mas, hoje, também já existem 650.000 casos confirmados de omicron nos EUA, inclusive todo um ramo de minha família que tomou três doses da Pfizer. Aparentemente, todos com sintomas fracos.

Sendo assim, parece termos voltado à estaca zero. Mesmo que as bigfarmas estejam correndo para adaptar-se ao omicron os ativistas da não-vacinação estão correndo para mostrar que as vacinas não funcionam.

Entenda que a vacina pretende diminuir a mortalidade da doença e não é 100%. Aliás, dependendo do tipo é entre 55% e 85% apenas. A título de comparação, a vacina anual da gripe é 65% apenas. Já ao antivaxer, não peço nada. Não lave as mãos, não use máscaras, recomende que não tomem vacinas mesmo em seus leitos de morte, pois entendo que é uma questão de fé e não de lógica. Uma questão de crença individual e não de tecnologia.

Aguardem mais medidas de exceção social. Serão obrigatórias.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.