Jerusalém dedica praça ao cônsul japonês que salvou 2 mil judeus no Holocausto
Chiune Sugihara era cônsul do Japão na cidade de Kovno (Kaunas), na Lituânia e emitiu 2.000 vistos redigidos a mão para que judeus ortodoxos e suas famílias pudessem escapar para o Japão em 1940.
Foi execrado no Japão, mas reabilitado no ano 2000. Em Israel, foi reconhecido como um Justo entre as nações, pelo Yad Vashem em 1984.
O contexto aqui não é simples. Em 1940 a Lituânia fazia parte da União Soviética, então aliada à Alemanha Nazista. Hitler e Stalin foram oficialmente aliados entre 23/ago/1939, com a assinatura do pacto Ribentrop-Molotov e o dia 22/jun/1941, quando Hitler rompe a aliança e invade a URSS.
A maioria dos judeus que queriam sair de Kovno naquele momento, cerca de nove meses antes de qualquer ameaça de invasão nazista eram judeus poloneses que fugiram para o lado da Polônia invadido pelos soviéticos, na “partilha da Polônia”, entre Hitler e Stalin, e conseguiram entrar na Lituânia. Ou seja, não estavam fugindo diretamente dos nazistas na Lituânia.
O deslocamento entre cidades da União Soviética era controlado para todos os cidadãos e dependia de um passaporte interno e autorizações de viagem específicas.
O Japão não foi signatário da Conferência de Evian, de julho de 1938, onde todos os países, menos a República Dominicana fecharam suas fronteiras para judeus oriundos da Alemanha Nazista. De fato, o Japão não possuía política de vistos para imigração. Qualquer pessoa podia embarcar num navio para o Japão e desembarcar livremente lá, ou em qualquer porto sob ocupação japonesa, como Xangai (na China), por exemplo.
Os documentos que Sugihara deu foram vistos de imigração para o Japão aceitos pela União Soviética, mostrando que aquele passageiro iria pegar o trem do Expresso do Oriente, atravessar todo o território soviético chegando à Manchúria, nordeste da China, já sob ocupação japonesa desde 1932. E não houve problema algum com nenhum dos judeus neste trajeto.
Conta a estória verdadeira, que Sugihara foi ordenado a voltar para o Japão quando o governo descobriu o que ele estava fazendo, e ao cumprir a ordem, mesmo dentro do trem na estação de Kovno, rumo a Moscou, redigia apressadamente os vistos e os lançava pela janela do trem. De fato, um herói da humanidade.
Nobuki Sugihara, 74, filho de Chiune, que vive na Bélgica foi a Jerusalém e se emocionou ao ver que a praça arborizada ficava perto de onde ele morou, no final dos anos 1960. Quando a estória de Chiune ficou conhecida, a Universidade Hebraica de Jerusalém convidou Nobuki para estudar lá e ele passou vários anos em Israel.
O evento teve autorização para 100 pessoas. Entre elas sobreviventes e descendentes deles. Vários canais da TV japonesa gravaram e fizeram reportagens no evento.
Opinião de José Roitberg, jornalista e pesquisador, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto pelo Yad Vashem