Minissérie da Globo conta a história da brasileira “Justa entre as Nações”
Estreou na semana passada, a minissérie em oito capítulos, que é a primeira produção internacional da Globo em parceria com a Sony Pictures Television. A série foi totalmente gravada em inglês, com atores de diversos países.
Entre os brasileiros, além de Sophie Charlotte e Rodrigo Lombardi, como Aracy de Carvalho e João Guimarães Rosa, estão também Tarcísio Filho como o cônsul Souza Ribeiro; Gabriela Petry como a cantora de cabaré Vivi Landau, de família judia; João Cortês como Wilfried Shwartz, soldado nazista; Bruce Gomlevsky como Hugo Levy, um dos judeus que recebe ajuda de Aracy; e Jimmy London como Mendel Krik, chefe da máfia judaica do porto de Hamburgo.
Escrita pelo autor Mário Teixeira, em parceria com a roteirista inglesa Rachel Anthony, a obra “Passaporte para Liberdade” conta a história real de Aracy de Carvalho, filha de um brasileiro com uma alemã, que, em 1935, depois do fim do casamento, se mudou de São Paulo com o filho pequeno e foi recomeçar a vida na Alemanha.
Na Alemanha ela conseguiu um cargo no consulado brasileiro em Hamburgo, no setor de passaportes.Seu trabalho permitiu que a brasileira ajudasse judeus a obter vistos para o Brasil, fugindo da perseguição nazista e a consequente deportação para os campos de concentração.
Em 3 de junho de 1982,o Yad Vashem, o Museu do Holocausto de Israel, reconheceu Aracy Carvalho de Guimarães Rosa, como Justa Entre as Nações.
Na construção do enredo para a série os roteiristas contaram com informações fornecidas pelo Museu para reconstituir a história de Aracy.A instituição conta que durante o pogrom da Kristallnacht de 9 a 10 de novembro de 1938, Aracy Carvalho abrigou Margarethe Bertel-Levy e seu marido em sua casa. Ela então ajudou a ela e a outros judeus com todos os preparativos para uma partida segura da Alemanha, o que incluía providências para levar muitos pertences a bordo do navio, incluindo móveis. Albert Feis, Grethe Jacobsberg, Tuch e Kazenstein, são alguns dos outros judeus que foram igualmente assistidos por Aracy Carvalho. Aracy Carvalho casou-se com o cônsul e escritor brasileiro João Guimarães Rosa em 1940 e trabalharam juntas no consulado brasileiro de Hamburgo até o rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e Alemanha em meados de 1942. Gunther Heilborn, um dos judeus resgatados, chamou sua filha brasileira de Aracy em sua homenagem.
Em 1938,entrou em vigor no Brasil a Circular Secreta 1.127, que restringia a entrada de judeus no país. Aracy ignorou a circular e continuou preparando vistos para judeus, permitindo sua entrada no Brasil. Como despachava com o cônsul geral, ela colocava os vistos entre a papelada para as assinaturas, fazendo com que ele permitisse, sem saber, a vinda de judeus para o país. Para obter a aprovação dos vistos, Aracy simplesmente deixava de pôr neles a letra “J”, que identificava quem era judeu.
Em março de 2011, Aracy Carvalho de Guimarães Rosa faleceu em São Paulo aos 102 anos.