Os judeus e as vestimentas discriminatórias ao longo dos séculos
O traje judaico foi ao longo dos séculos determinado por decretos restritivos emitidos pelas autoridades gentias nos países em que os judeus viviam na diáspora.
Esses decretos e restrições tinham como objetivo marcar a população judaica e separá-la das demais, visando assim degradá-la e humilhá-la.
Essas leis exigiam que os judeus usassem roupas especiais, proibiam-nos de usar tecidos e cores específicos e os obrigavam a marcar suas roupas com distintivos.
Na diáspora
A partir do ano 70 E.C, quando os judeus, expulsos por Roma da Terra de Israel, começam a se espalhar pelo mundo, suas vestimentas passaram a refletir a vida no exílio. Obrigados a viver como minoria no seio de uma sociedade maior, eles desenvolveram formas diferentes de se vestir, dependendo dos costumes e das restrições que frequentemente lhes impunham.
O objetivo sempre foi torná-los facilmente reconhecíveis além de servir de “lembrete constante” de sua posição de “inferioridade”.
Sob o domínio do Islã
Em terras muçulmanas, os éditos começaram com as Leis de Omar (no século VIII) que exigiam que todos os não-muçulmanos(dhimmis) se distinguissem por sua aparência externa, por suas roupas, principalmente com relação às cores e qualidade dos tecidos e, às vezes, a componentes específicos do vestuário, como acessórios para a cabeça ou calçados.
Os infiéis deveriam usar cores escuras, como preto ou azul escuro (alguns lugares tinham cores específicas para judeus e outros para cristãos). O verde foi reservado para os muçulmanos porque é a cor sagrada do Islã. Os judeus não podiam usar tecidos luxuosos.
No século 14, os mamelucos obrigaram os cristãos a se vestir de azul e os judeus de amarelo, cor associada à “vergonha” desde a Antiguidade.
Na Europa cristã
Em 1215, o Concílio de Latrão emitiu a conhecida restrição de vestimenta como reação à mistura proibida de cristãos com judeus e muçulmanos.
O infame “Distintivo amarelo da vergonha” consistia em um pedaço de pano de diferentes formatos, costurado no casaco. Com algumas variantes, seu uso tornou-se obrigatório na França, Inglaterra, Polônia, Hungria, Alemanha, espalhando-se também por outros países. Em 1267, o Concílio de Viena determinou que os judeus usassem roupas escuras ou pretas.
Em muitos países, foram obrigados a usar o Judenhut, o “chapéu do judeu”. De formato cônico, bem pontudo e amarelo, tinha o objetivo de ridicularizar os usuários, tornando-os objeto de escárnio popular. As mulheres eram obrigadas a usar chapéus com duas pontas, o Cornélia.
Idade Contemporânea
Foi somente durante a Revolução Francesa, em 1789, que se aboliu o uso do distintivo, considerado pelos revolucionários “a vergonha” não dos judeus, mas da Europa. O exemplo da França espalhou-se rapidamente por todo o continente, à exceção da Inglaterra, onde o distintivo já deixara de existir um século antes, quando os judeus foram oficialmente readmitidos no país.
O uso do distintivo judaico, porém, foi ressuscitado em setembro de 1941, pelos nazistas, sob a forma de uma Estrela de David amarela, ostentando a palavra Jude no centro. Todos os judeus da Alemanha e do resto da Europa sob domínio nazista foram obrigados a usá-la enquanto durou o Terceiro Reich.
O conflito entre a vontade de integrar e a vontade de isolar a sociedade judaica das culturas gentias circundantes foi mais forte na Europa no período de emancipação e modernização durante o século XIX. Judeus chassídicos ou ultraortodoxos adotaram trajes tradicionais em uma espécie de uniforme pelo qual são reconhecidos:um chapéu de pele, o shtreimel, pesados casacos pretos fechados na lateral, chamados bekeshe, e meias brancas grossas e altas.
Leitura complementar:
Na edição 749 a revista Menorah traz uma extensa matéria sobre o Judenhut, o chapéu judaico. Para adquirir acesse o site: www.menorah.com.brFoto: