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Polícia apreende material antissemita em Mea Shearim

Nunca imaginei que veria isso acontecer em Jerusalém! A polícia israelense varejou a sede do Naturei Karta em Mea Shearim para remover três bandeiras da Palestina colocadas na parede externa. Quando entraram encontraram mais bandeiras, rádios, e cartazes “com conteúdo de incitação contra o estado de Israel”, conforme consta na informação policial oficial.

“Judeus não são sionistas” e “Judeus autênticos sempre se opuseram ao sionismo e à existência de Israel” estavam entre os cartazes padronizados do Naturei Karta apreendidos. Ninguém foi preso.

Meir Auerbach (1815-1878), o rabino-chefe ashkenazita de Jerusalém, foi um dos fundadores do bairro. Conrad Schick, um arquiteto protestante alemão, elaborou o primeiro projeto de Mea Shearim em 1846. Mea Shearim, um dos primeiros assentamentos judaicos fora dos muros da Cidade Velha, foi fundado em 1874 por uma sociedade de construção de 100 acionistas, daí o nome “Cem Portas”.

As notícias citam o Naturei Karta como um grupo “fringe” do judaísmo. Fringe é um termo em inglês que não tem tradução em português. Fringe é o espaço que existe entre um borda e algo. Poderíamos traduzir por “minoria à margem”, mas não é mesma coisa. Só que eles não são fringe, são raiz. Na falta de possibilidade gramatical, alguns escrevem “seita minoritária judaica”. Os artigos também os qualificam como “hareidim”.

Aí fui ver os comentários de leitores nas diversas mídias israelenses: “Como podem os mais religiosos entre os religiosos serem contra Israel? Preciso entender melhor”; “Como a polícia vai contra os hareidim?”; “Hareidim não são todos como o Naturei Karta”. Eu sei que o mundo judaico não tem a mínima ideia do que seja o Naturei Karta.

Originou-se em uma ruptura do Agudat Israel polonês, a oposição religiosa original organizada em 1912 ao sionismo político iniciado em 1897. Portanto, 15 anos depois. O conceito era criar uma entidade político-religiosa para combater o sionismo político. Boa parte deles foi para Jerusalém tanto durante o Império Turco-Otomano, quando durante os anos iniciais do Mandato Britânico da Palestina com a finalidade de lá, aguardar a chegada do Messias.

Eles se separaram em 1938 logo antes de novembro. Poucos sabem, mas seria apresentada no Parlamento Britânico um projeto de lei para a criação do Lar Nacional Judaico, no dia 12 de novembro. Mas com a repercussão POSITIVA da Noite dos Cristais, de 9 para 10 de novembro de 1938, nos dias seguintes várias coisas foram canceladas. No dia 11 seriam as comemorações pelos 20 anos do final da Primeira Guerra Mundial e derrota da Alemanha. Não aconteceram. No dia 12 seria apresentado o projeto no parlamento em Londres. Foi retirado de pauta.

Mas o Naturei Karta tinha certeza de que seria aprovado e não aceitava, em 1938, residir num Estado de Israel. E os “Guadiões dos Portões” (ou das 100 portas do bairro) foram então para Nova York. O Agudat Israel atual, não é o de 1912, mas homônimo.

Eles sempre usaram os mesmos lemas e slogans, mas o mundo judaico tende a não os ver. Eles aceitam um Israel consolidado pela magia mística ou poder divino, não pelos homens. Não aceitam a tese de Deus “escrever por linhas tortas” e que a existência do Estado de Israel pode ter sido a mão divina operando através dos homens, como entende a maior parte do sionismo religioso. Eles querem algo que se crie com um estalar de dedos, com trombetas nos céus ou com “a palavra”. E não são só eles. Existem outros grupos minoritários que pensam da mesma forma.

Não aceitar é uma coisa. Trabalhar ativamente para destruir o verdadeiro Israel é outra coisa.

Nunca entendi por que o Estado de Israel permite a presença deles em seu solo. Isto não é democrático. Uma pergunta estúpida: serão realmente cidadãos de um Estado que não acreditam que deva existir? Ou eles estão ilegalmente lá? Ou entram e saem renovando vistos de turistas? Eu nunca soube? Hoje são cerca de 10.000 principalmente em NY, em Londres e Jerusalém também (o menor contingente).

Durante a reunião mundial do G20 no Rio de Janeiro, em novembro de 2004, o líder do grupo e um auxiliar vieram à cidade e participaram em uma irada manifestação marxista, organizada pelo PCO, contra Israel no centro da cidade, na Cinelândia. Em outros momentos reuniram-se com Khomeini, com Ahmadinejad, com Khamenei e outros líderes iranianos, apelando-lhes à destruição de Israel. Recentemente foram a Teerã homenagear Pezekhian com novo presidente.

Conheça outras frases que o Naturei Karta utiliza em cartazes durante manifestações que pregam abertamente a destruição do Estado de Israel: o judaísmo condena as atrocidades do estado de Israel; o judaísmo exige a liberdade de Gaza e de toda a Palestina; Israel é o responsável pelo banho de sangue no mundo árabe; a Torá exige que toda a Palestina seja devolvida à soberania palestina; os rabinos verdadeiros sempre expuseram o sionismo e o estado de Israel; o sionismo é causa do banho de sangue no Oriente Médio.

Por que essa porcaria é permitida em Israel? Eu creio que foi a primeira ação da polícia de Israel contra o Naturei Karta. Espero que outras sejam realizadas.

por José Roitberg jornalista e pesquisador.

Imagem: divulgação da polícia de Israel.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.