Radicais continuam radicais e agora podem ter polícia particular, outros passam a moderados
Interessantemente, o Shas e o UTJ atenderam o pedido do rabino-chefe sefaradita e baixaram muito, mas muito mesmo a bola. Comentaristas israelenses afirmam que os três partidos que compõe estes dois grupos, Shas, Agudat Israel e Degel ha Torá, abandonaram suas agendas de leis radicais, pois os rabinos entenderam que eles estavam contribuindo para a divisão do povo judeu. O que se é inadmissível para nós, também é para eles.
Estes comentaristas estão publicando e falando na TV israelense e em podcasts que Shas e UTJ agora são a “voz moderada”, quase de centro na Coalizão de governo, inclusive se comparados ao Likud. Os membros do Shas e UTJ não estão participando das manifestações de rua a favor do governo.
O Arie Dery pediu a remoção da lei que permitiria a ele voltar ao ministério e vem trabalhando todos os dias em relação a Bibi para o primeiro-ministro manter Gallant (do Likud) como ministro da defesa.
E desta vez é necessário aplaudir o discernimento mostrado por Dery e pelos hareidim do UTJ.
Mas isso não está acontecendo com os kahanistas. Smotrich anda quieto demais. Deve estar ponderando que também precisa dar uma centrada. Seria melhor permanecer no poder desenvolvendo agendas menos radicais ou chutar o balde? Veremos.
E o Itamar ben Gvir conseguiu na reunião ministerial de domingo dia 2, a aprovação da Guarda Nacional Privada Dele… É algo sem precedentes na história de Israel. O gabinete ministerial deu a Gvir o direito de recrutar 2.000 homens da Polícia de Fronteira e compor com eles e uma verba de 1 bilhão de shekels (cerca de 278 milhões de dólares) uma enorme polícia privada. A verba é oriunda de corte arbitrários nos orçamentos de outros ministérios.
O prazo para implantação era de 60 dias, mas ficou indefinido no texto final. A missão da Guarda Nacional, como definida na decisão ministerial (que não é uma lei) é composta por três vertentes absolutamente distintas, duas delas redigidas de forma absolutamente indefinidas: combater o “crime nacionalista” e “restaurar a governança onde for necessário”. Ninguém em Israel consegue definir o que isso quer dizer. A terceira, combater o terrorismo é muito clara.
Existem advogados de juízes que já se posicionaram, com receio de que Gvir decida restaurar a governança no governo e dê um golpe de estado.
É possível que essa Guarda Nacional privativa do ministro da segurança nacional nunca chegue a existir. Será que existem 2.000 policiais de fronteira com o desejo de serem subordinados e receberem ordens de Gvir? Pouco provável. E é muito provável que o recrutamento se dê pela oferta de salários consideravelmente maiores que os atuais.
Também é muito provável um futuro conflito de jurisdições entre as forças de segurança tradicionais e a Guarda Nacional. Torça aí para Gvir não criar um uniforme preto, o que também é muito provável.
Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador
Imagem: muitos anos atrás um carrancudo David Ben Gurion em bronze foi colocado no aeroporto que leva seu nome em Israel. O artista não poderia imaginar com estaria correto ao passarem-se os tempos. Foto de Ronaldo Gomlevsky.