Rússia começa a usar arma terrível de baixa tecnologia: o tanque-bomba
Tanques de guerra velhos e ultrapassados, verdadeiras sucatas foram utilizadas já por duas vezes contra as posições ucranianas durante a ofensiva do sul do país. Não para atirar nos soldados, mas como como bombas de 5 a 6 toneladas de explosivos militares.
A tecnologia é especificamente simples. Um tanque antigo tem o seu espaço interno completamente cheio com explosivos: área onde seria armazenada munição, área da torre onde ficariam o comandante e operador do canhão e área do operador da metralhadora dianteira. Apenas a posição do motorista fica livre o suficiente para o tanque ser levado a “linha de partida”.
Ali, o motorista posiciona o tanque em direção à trincheira inimiga, acelera, trava o acelerador e pula fora do veículo. (normalmente os veículos militares possuem travas de acelerador, principalmente para manterem baixas velocidades constantes ao acompanhar tropas de infantaria a pé. A detonação provavelmente é realizada com a queima de um pavio militar ou industrial com o tempo estimado que o tanque levaria para chegar a posição inimiga.
Na ação filmada e divulgada no dia 18/jul/2023, um T-55 vai em direção às trincheiras, antes russas, ora ocupadas por ucranianos na linha de árvores, com seu deslocamento tipicamente lento em terreno não pavimentado. Atinge uma mina, talvez até colocada pelos russos mesmos. Uma lagarta é quebrada (para isso servem as minas). O tanque desvia para a esquerda e se imobiliza. Pouco tempo depois uma grossa fumaça branca sai do tanque seguida por uma explosão devastadora. Como existem dezenas de vídeos desta guerra mostrando munições de tanque explodindo depois do veículo ser atingido por arma antitanque, todos que acompanham sabem exatamente como esta explosão foi diferente.
A detonação é impressionantemente violenta arremessando dezenas de toneladas de fragmentos de aço de blindagem e dos outros componentes do tanque em todas as direções. A maior bomba aérea, é a norte-americana chamada MOAB, com 8.500 kg de explosivos, mas “apenas” 1.300 kg de envoltório de aço.
No caso do tanque-bomba flagrado por um drone ucraniano estima-se que havia 6.000 kg de explosivos (calcularam quanto cabe dentro do tanque), mas o aço em volta é de 30.000 kg gerando estilhaços enormes, pesados e de alta velocidade. Imagine uma granada de mão de 40 toneladas ao invés de 400 gramas.
Nos meses recentes, os russos tentaram utilizar este método com veículos blindados de transporte de tropas, mas eles foram imobilizados facilmente pelas tropas ucranianas ainda longe das trincheiras. Podem ser impedidos até mesmo com metralhadoras pesadas. Mas os tanques T-55 (projetos muito velhos mesmo, de 1948, a primeira geração após a Segunda Guerra Mundial) resistem a todas as armas de infantaria. Mas não resistem a nenhuma arma antitanque. Não necessariamente um grupo de infantaria possui armamento antitanque.
A constatação do emprego do tanque-bomba permite compreender o motivo das notícias de fevereiro e março dando conta de que a Rússia estava retirando de depósitos militares, museus, e até mesmo praças, todos os tanques T-54/55 que pudessem dar partida e os enviando, por ferrovia, para o Donetsk, na Ucrânia ocupada.
Existiam duas avaliações e ambas erradas. A primeira era de que as notícias eram falsas e que os vídeos dos tanques sobre vagões plataforma de trens eram antigos relativos a outra situação qualquer. A segunda era a incredulidade de que os russos iriam enviar seus soldados para um combate suicida com tanques incapazes de resistir até a mais antiga das armas antitanque em uso atualmente.
Somente a União Soviética fabricou 35.000 unidades do T-54 e 27.500 do T-55. Não existe qualquer avaliação de quantos estão em condições de servir como tanques-bomba. Talvez alguns milhares. É o modelo de tanque que participou de todas as guerras e conflitos fora das Américas, desde o Vietnã em 1955.
Assista o vídeo aqui. Não possui áudio.
Por José Roitberg – jornalista e pesquisador
Imagem – Tanque T-55 operado pela Síria, capturado por Israel na Guerra do Iom Kipur (1973), parte da coleção do Imperial War Museum de Londres. Foto CC 2.0. de John Harwood