São em Gaza e no Líbano, os civis, inocentes?
Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador
Apesar do formato parecer igual entre o Hamas e o Hezbollah, em relação a serem encontradas armas militares, explosivos e mísseis nas casas de “civis inocentes”, são situações semelhantes mas diferentes.
Pelo menos para mim, está claro que o Hamas tinha como estratégia deixar fuzis, munição, granadas de mão, foguetes anti-tanque e eventualmente lançadores RPG destes foguetes espalhados por toda a Faixa de Gaza. Não eram as armas de uso imediato dos terroristas. Trata-se de uma reserva técnica e tática. Pelas fotos, muita coisa velha, muitas armas com ferrugem (mostrando que não existia manutenção por parte dos “civis inocentes” que as guardavam. A questão tática é permitir o deslocamento de terroristas desarmados e em roupas civis. Chegando a novos locais ou de volta a um local de onde antes foram expulsos ou se retiraram, poderiam se armar rapidamente e atacar as tropas de Israel.
Há 3 ou 4 meses, vemos estes ataques, já de guerrilha, acontecerem a cada dia, o que demonstra que as tropas do IDF não entraram, AINDA, em cada imóvel e continuam existindo armas a granel para os terroristas do Hamas. Por outro lado tem a vertente que considera um absurdo os soldados entrarem em cada imóvel e que tudo deveria ser explodido e posto a baixo. Mas, nos primeiros meses, precisavam entrar, pois aparentemente não tinham informações sobre onde estavam os refén. Então tinham de ir, não de casa em casa, mas de quarto em quarto, de armário em armário, de cama em cama, e atrás e embaixo de armários e camas foram encontradas muitas, mas muitas entradas de túneis, mesmo.
Por acaso houve um encontro inicial de alguns reféns. Por desgraça, mataram três reféns na confusão da batalha e depois, eu tenho CERTEZA de que baseado em informações precisas e confirmadas através de uma operação de infiltração complicadíssima, que merece filme, deram opções ao primeiro-ministro: podemos salvar um refém desta lista, pois depois que formos lá, o Hamas vai entender que sabemos onde os reféns estão.
Eu, se fosse o Bibi, tinha tomado exatamente a decisão que ele tomou: tragam a moça, a Noa, a menina da moto, a filha cuja mãe está morrendo de câncer. Mas em campo, as tropas de operações especiais viram a possibilidade REMOTA de conseguir resgatar mais três, pois estavam “logo ali do lado”. E conseguiram trazer os quatro de volta. Depois disso, os reféns restantes ou foram mortos ou trocados de lugares. O próprio Sinwar ordenou a execução de seus 6 escudos humanos. O beduíno israelense que foi solto e se salvou, também tinha a execução ordenada, mas os terroristas não quiseram desafiar o Corão na questão “o muçulmano que assassinar um muçulmano vai direto pro inferno”. Será que ser mártir passa por cima disso? Entenderam que não e foram todos mortos por tropas as FDI.
Mas armazenar armas em casas de “civis inocentes” em Gaza é um crime de guerra? Não, não é por duas questões. A mais elementar é que o Hamas é um “grupo” e não um país. Não existe qualquer legislação de guerra ou combate que exija que um “grupo” faça ou deixe de fazer qualquer coisa. Grupos podem realizar qualquer atrocidade sem que exista foro que os critique. Um país que tenha assinado alguma das várias Convenções de Genebra está sujeito a cumprir o que assinou DESDE QUE O INIMIGO TAMBÉM TENHA ASSINADO. Como o Hamas não assinou nada, porque não é um país, nada que Israel faça contra o Hamas viola qualquer convenção de Genebra. O Hamas não é protegido e não é obrigado, podendo cometer todo o tipo de atrocidades contra Israel ou qualquer outro, sem ser criticado. Ademais as armas não estão escondidas, mas colocadas nas casas de seu próprio povo, seus próprios civis, parentes, vizinhos, amigos. E não existe crime de guerra contra seu próprio povo, apenas contra civis do inimigo.
Temos um exemplo curioso neste momento. A Coreia do Norte está participando, com 12.000 soldados, da força de 50.000 soldados que a Rússia aglomerou para atacar os ucranianos em Kursk. Mas a Coreia Norte tem um acordo de Armistício com a Coreia do Sul e ONU no qual não pode se envolver em guerras de agressão. Por que então a Coreia do Norte não foi criticada pela ONU? Porque Kursk é território russo invadido pela Ucrânia e os soldados norte-coreanos estão combatendo em solo amigo, solo russo, numa batalha defensiva que visa expulsar um invasor. Então existem coisas que parecem ilegais, mas não são. Por outro exemplo: se Putim pirar e mandar uma meia dúzia de bombas atômicas táticas (pequenas) sobre as tropas ucranianas em Kursk ELE VAI ESTAR COBERTO E NÃO PODERÁ SER CRITICADO, pois o tratado sobre uso de armas nucleares diz, primeiro que podem ser utilizadas de forma defensiva contra tropas inimigas e segundo, nada consta sobre o uso em seu próprio solo.
Voltando a questão das armas nas casas de “civis inocentes”. Não imagino que ninguém na Faixa de Gaza tenha sido coagido pelo Hamas a permitir deixar as armas lá. Você pode imaginar ter uma mochila de criança em casa cheia de granadas de mão prontas para uso? Ou ter vários fuzis AK 47 e muita munição? Lançadores de foguetes antitanque e muitos foguetes embaixo da cama ou no armário da cozinha?
Será que é difícil as pessoas entenderem que se os moradores destas casas fossem CONTRA O HAMAS eles iriam utilizar estas armas contra o Hamas? Como nunca utilizaram é porque acham correto e AJUDAM o Hamas. E não verás nenhuma crítica aos pais palestinos do Hamas que deixam essas armas todas nas casas onde vivem suas crianças. Mas ai do pai que vestir um meninho como PM ou soldado num desfile de 7 de Setembro!
O que nos leva a outro ponto das leis de guerra vigentes: civil armado em área de combate é considerado inimigo combatente e pode ser abatido. Da mesma forma, civil em posse de mísseis, granadas, minas e outros explosivos e equipamentos militares dentro de sua cozinha ou quarto, passa a ser um alvo militar legítimo. Fosse o Hamas um país, todas as baixas de civis nestas circunstâncias seriam culpa tipificada do Hamas. Como não é um país, jogam a culpa em Israel.
Agora o Hezbollah.
Pelos menos duas vilas no Sul do Líbano não eram vilas. Eram unidades militares com depósitos, pontos de lançamento de mísseis, áreas de subsolo DISFARÇADAS em vila civil. A maioria das outras vilas tinha complexos subterrâneos, civis na superfície, Hezbollah no subsolo, também de foram consentidas, pois os civis eram do Hezbollah. E o Hezbollah não é, especificamente, um “grupo”. Tem 15 cadeiras no Parlamento e junto com o Amal, controlam o governo do Líbano. Mas o Hezbollah também não é um país e tem zero de controle sobre os 60.000 soldados libaneses. Imaginem o Brasil com o Exército Brasileiro e um exército maior, do MST. É uma anomalia governamental que vai ser extinta.
Mas o principal do Hezbollah não é o que está sendo encontrado aldeia a aldeia, casa a casa no Sul do Líbano, e sim as imensas instalações no subsolo do bairro de Dahie, em Beirute, o bairro do Hezbollah, e em diversos outros bairros e cidades.
Ponto principal. Escavaram e construíram no subsolo à VISTA DE TODOS e de todas as outras instâncias do governo, polícia, e UNIFIL. Não dá para encher um bunker debaixo de prédios residenciais com mísseis na capital de um país sem que todos a volta percebam. Não são só caixas de munição, mas mísseis de 2, 3, 7 e 11 metros de comprimento. Os maiores exigem guindastes para o manuseio. Então, todos os “civis inocentes” são mesmo civis coniventes. E existe algo ainda pior.
O Hezbollah alugava subsolos já existentes ou terraços para armazenar seus armamentos e montar posições de lançamento de mísseis prontas para uso. Quem pode imaginar que uma família que tem sobre o teto dela um lançador de míssil com alcance de 170 km e ogiva de 200 kg (bomba) é “inocente”. “Habibi, antes de dormir, dê uma olhadinha lá em cima para ver como nosso míssil está hoje”. Não são mísseis guardados, mas prontos para serem disparados contra Israel. E todo mês entrava uma grana na conta.
E nada disso acima sequer arranhou o desejo pelo martírio do muçulmanos jihadistas ou a fala de Khaled Meshal, hoje o principal quadro ainda vivo do Hamas: “Nossos civis mortos são uma perda tática”. Explicando: ele fala abertamente que a morte de seus civis é uma tática de guerra. Além de todos se tornarem mártires com as benesses teológicas as eles e aos parentes deles no pós-vida, cada um deles compromete mais e mais a posição de Israel e dos judeus, a cada dia mais denominados de genocidas, pelos apoiadores do Hamas, que seriam trucidados pelo Hamas, caso pisassem em Gaza.