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Se oposição vencer na Turquia promoverá uma reviravolta regional para pior

Fiquem de olho na eleição turca pois pode mudar a configuração do Oriente Médio e do mundo, levando em conta que a Turquia é membro da OTAN.

Kemal Kilicdaroglu que a mídia está praticamente torcendo para tirar o Erdogan do poder foi presidente da Internacional Socialista, eleito em 2012. É líder do partido CHP – Partido Republicano do Povo, fundado por Mustafa Kemal Atatürk em 1919 como movimento de resistência se tornando partido político em 1923.

Ataturk é considerado o pai da moderna Turquia e era a oposição do sultão turco otomano e do califado. O último califa muçulmano sunita foi Abdulhamid II, derrubado por Ataturk, definido como nacionalista e secular, em 1924. Em meio a uma pequena guerra civil após o desmonte total do Império Turco Otomano pelas potências ocidentais vencedoras de Primeira Guerra Mundial. Império aquele, que controlava o Oriente Médio por mais de meio milênio até então. A Turquia entrou na guerra como aliada das Potências Centrais, basicamente Alemanha, Áustria-Hungria e Bulgária.

Mas o CHP já a algumas décadas é considerado oficialmente como social-democrata de centro-esquerda. Todavia é filiado à Internacional Socialista. Leve em conta que o único partido brasileiro filiado é o PDT do Leonel Brizola. A bandeira do partido é vermelha, é claro.

O CHP também é membro do Party of European Socialists (PES – Grupo dos Socialistas Europeus), uma confederação europeia de partidos socialistas. Na última eleição, em 2018 o CHP obteve 148 das 600 cadeiras do parlamento (cerca de 24% dos votos), se mantendo como segunda força desde 2002. Entre 1927 e 1946 esteve sempre com mais de 80% das cadeiras.

A posição internacional dele é ruim para a estabilidade. Sempre pretendeu uma união política e comercial local entre Turquia, Irã, Síria e Iraque, o que seria péssimo e provavelmente impossível.

A posição de Kemal Kilicdaroglu sobre Israel em 2022 é simples: “Israel, Arábia Saudita e Grécia vão ter que pagar pelas ações praticadas contra a Turquia nos últimos anos.” Sobre a Arábia Saudita, não sabemos exatamente do se trata. Sobre Israel ainda é o caso da “flotilha de Gaza” em 2010, com o Mavi Marmara e a abordagem israelense. Em relação à Grécia é a questão de Chipre com etnias gregas e turcas sempre em conflito lá. E neste momento Chipre está alinhado com Israel.

Ou seja, como líder socialista este sujeito é um perigo para Israel e se for eleito estará no comando do maior contingente de forças armadas da região, com centenas de caças F-16, milhares de tanques de guerra modernos alemães e de fabricação local. A Turquia é fabricante de armas e veículos militares modernos de qualidade. Pior que isso, a OTAN tem bases lá e armas nucleares lá.

Então, pode acontecer uma virada de situação, e existe até mesmo a possibilidade da Turquia passar a apoiar a Rússia contra a Ucrânia, sempre lembrando que o Império Turco Otomano já dominou a Hungria (centro-sul), Romênia, Moldávia, a maior parte da Ucrânia e principalmente a Crimeia. Por outro lado, no dia 12 de maio de 2023, Kemal acusou a Rússia de produção de deep fakes de áudio e vídeo divulgados na Turquia para desmoralizá-lo, e interferir nas eleições a favor de Erdogan.

O CHP foi contra várias das operações da Turquia contra o Estado Islâmico na Síria.

O primeiro turno das eleições indicou uma forte preferência popular ao CHP que passou de 24% para 45% dos votos, deixando os partidos políticos menores apenas com um resíduo eleitoral. A polarização entre “direita e esquerda” que se constata entre todas as democracias, desta vez chegou a Turquia também.

No caso, a esquerda do CHP é clássica e assinada. Mas a direita de Erdogan, é apenas porque não existe outra forma de se referir. Ele é do Partido da Justiça e Desenvolvimento, um partido islamita e democrata conservador e mais recentemente voltado ao liberalismo econômico. É difícil as pessoas compreenderem que a Turquia é um país muçulmano sunita moderno e democrático, onde não existe a lei islâmica, a sharia, e pratica o islã de forma mais “ortodoxa” quem quiser, e não pratica quem não quiser. Não existem restrições legais às mulheres, que inclusive estão nas forças armadas até como pilotos de combate.

O segundo turno será sujo, com muitos fakes de ambos os lados, como está acontecendo em todos os países. A tendência é Erdogan vencer, mas isso não é garantido. Obteve 49,42% no primeiro turno. Precisa de mais de 50% para ser reeleito.

Os inimigos internos fatais na Turquia são o Estado Islâmico e o PKK curdo, Partido dos Trabalhadores do Curdistão, agremiação ilegal e abertamente comunista-marxista praticando eventualmente ações terroristas generalizadas e também sendo atacado pelas tropas governamentais. O PKK também é inimigo do CHP.

Por José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: montagem com todos da Wikipedia.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.