Separatistas do Iêmen vão restaurar cemitério judaico de 160 anos
Notícia estranha, convenhamos. O Iêmen vem mergulhado em uma guerra civil há mais de seis anos e uma trégua estabelecida em abril vem sendo mantida. Para entender se isso é ou não relevante, precisamos dar uma escavada na areia.
Segundo a ONU, permanecem no Yemen sete judeus. Na primeira metade do século 20 eram 50.000. Entre 1949 e 1950, Israel levou 49.000 para o recém-criado estado judeu. O Yemen jamais expulsou seus judeus. E a contribuição da comunidade iemenita em Israel é importante desde que lá chegaram.
A notícia foi publicada no canal Khan, da TV israelense, através de uma fala do jornalista do Iêmen, Ahmad Shalbi. Foi uma fala um pouco tensa pois ele tinha receio de entrar em contato com israelenses. Em princípio, acredita-se que Shalbi foi determinado por pelo general Aidarus Abdulaziz al-Zoubaidi, comandante do Conselho de Transição de Governo do Iêmen do Sul, a dar a declaração: “… a liderança política quer garantir a preservação e o respeito a seus cemitérios judaicos… o cemitério foi negligenciado, partes estão em ruínas e uma seção do muro caiu… Ele (al-Zubaidi) estabeleceu uma comissão para renovar o cemitério e os muros deles, bem como de outros cemitérios negligenciados ao longo dos anos.”
E a notícia foi confirmada oficialmente, publicada em nota curta pelo serviço de notícias dos separatistas, chamado South24.
O cemitério judaico em questão é o da cidade de Aden (na foto principal), onde al-Zubaidi foi prefeito por muitos anos. Não se pode imaginar que a redução da comunidade de 50 mil para mil, permitiu qualquer possibilidade de manutenção dos cemitérios judaicos. Ao que parece, al-Zubaidi está tomando o mesmo caminho que os governos do Marrocos e Tunísia seguiram desde a década de 1950.
Mas estaria o general Aidarus sendo explicitamente amigável com os judeus por qual motivo? Ele comanda a principal força militar muçulmana sunita do país, e prega o retorno ao status territorial antigo quando existiam o Iêmen, ao Norte, e Aden, ao Sul. É o principal inimigo dos rebeldes houtis muçulmanos xiitas, patrocinados pelo Irã, em sua tentativa de se aproximar de Meca. Sanaa, a capital do Iêmen, se localiza a pouco mais de 400 km de Meca.
O apoio ao Movimento Separatista do Sul é direto da UEA – União dos Emirados Árabes, que está capitaneando os Acordos de Abraão. Portanto, provavelmente está havendo, ainda que com receio compreensível, uma tentativa de aproximação do general Aidarus com Israel. Como ele nada pode fazer diretamente com Israel, faz um gesto cortês e bem vindo em relação a herança judaica no Yemen.