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Shas queria passar lei para criminalizar contatos entre homens e mulheres nas rezas no Muro das Lamentações

Mas Bibi Netanyahu novamente manteve a promessa feita em inglês de não permitir a mudança do status quo da relação entre os diversos setores da sociedade israelense e o Likud removeu a proposta de lei colocada pelo Shas, do comitê de análise.

A lei que foi proposta e retirada previa penas de até seis meses de prisão ou multa de 2.900 dólares para rezas onde estivessem juntos homens e mulheres, inclusive no “setor igualitário”, destinado para isto anos atrás. As atividades religiosas do grupo Mulheres do Muro, quando elas usam talit, tefilim e leem a Torá seria englobada nesta lei, tornando-se crime igualmente punível com seis meses de prisão.

Eu tenho certeza de que alguns leitores vão pensar: paro de ler por aqui, pois é um absurdo as mulheres quererem agir daquela forma. Mas vejam bem: é um preceito religioso judaico absolutamente fundamental, ou era, que se algo não é especificamente proibido, então é permitido. Ora, aos homens é obrigatório usar cobertura na cabeça, é obrigatório colocar tefilim diariamente e é obrigatório usar o talit, o xale de oração em algumas ocasiões. Repetindo: os homens são OBRIGADOS. Já as mulheres, não possuem qualquer legislação a respeito que as obrigue ou que as proíba. Imaginar que as mulheres tem que usar um lenço cobrindo a cabeça é ter perdido a noção que lenço na cabeça era o que absolutamente todas as mulheres campesinas do Império Russo e Europa Central utilizavam nos dias de sol, principalmente no campo. Se a mulher fosse obrigada a cobrir a cabeça, como os homens, poderia e deveria utilizar o que bem entendesse, exatamente como os homens fazem, e não usar um lenço porque os homens assim o determinam.

Já as que viviam em países árabes eram o obrigadas as se cobrirem, por lei islâmica, e não lei judaica, como as muçulmanas eram obrigadas.

Mas o texto da lei não criminaliza apenas a interação de homens e mulheres ou a religiosidade das mulheres não ortodoxas consideradas abertamente como “profanadoras” pela ortodoxia. Um dos parágrafos pretendia transformar uma área enorme e não apenas a praça do Kotel em uma extensão de Mea Shearim, proibindo “roupas imodestas e instrumentos musicais”. A área imediata ao Kotel está marcada em cinza na imagem. Em vermelho está o perímetro da área onde o Shas pretendia impor restrições a liberdade de culto.

Em outro ponto a lei declarava a proibição de “realizar uma cerimônia, incluindo uma cerimônia religiosa, em desacordo com as tradições do local, que firam os sentimentos dos adoradores (worshipers) em relação ao local”. Caso tal lei passasse iam proibir tirar fotos e gravar vídeos, alegando que isto fere os sentimentos deles.

Fotografar em Mea Shearim é praticamente considerado crime por eles. Eu recordo uma experiência que tive no Kotel. Estava eu com uma câmera de vídeo profissional, bem tranquilo. Aí, um sujeito na faixa dos setenta anos, todo vestido de ortodoxo, se aproximou gritando comigo que era proibido filmar e fotografar lá, porque eles não eram animais de circo. Este é um exemplo legítimo, e que deve ser levado em consideração sobre “ferir os sentimentos deles”.

Esta fala representa não apenas o sentimento daquele religioso, mas de vários outros também. Eles não compreendem que estamos documentando a vida judaica e não documentando a bizarrice da vida judaica. Nossa discussão evoluiu para um: “se quiser que eu saia, chame a mistará (polícia) para me tirar daqui. Sou tão judeu quanto você.” E o sujeito foi embora.

VOCÊS PRECISAM TER MEDO DE NÓS

Na quarta-feira dia 9/fev/2023, o ministro da educação Haim Biton, 45, também do Shas foi convidado para a conferência anual das autoridades de educação municipais e de conselhos de todo o país, realizada em Eilat.

Durante a fala dele, mais da metade dos 450 participantes se levantaram e abandonaram o salão.

O incômodo se iniciou quando o ministro Biton afirmou que 40% das crianças nas escolas israelenses são ultra-ortodoxas hareidim, enquanto os números oficiais são de 28%.

“Se vocês não sabem disto e você não estão com medo suficiente, então tenham mais medo”, disse o ministro. E os educadores começaram a levantar e sair. Durante a movimentação o ministro ultra-ortodoxo da educação prosseguiu afirmando foram realizadas tentativas para diminuir a taxa de nascimentos das crianças ultra-ortodoxas.

Que comentário racional se poderia tecer? O ministro da educação se dirigindo aos homens e mulheres que dirigem as escolas de Israel avisando a eles que precisam ter medo os hareidim?

MINISTÉRIO DO INTERIOR CAÓTICO

Funcionários do ministério do interior, cadeira de Arie Dery do Shas, até ser afastado pelo primeiro-ministro atendendo decisão da Suprema Corte, procuraram os jornais israelenses alertando para o fato do ministério estar caótico e sem liderança. Informaram que o ministro em exercício, vice de Dery, também do Shas, jamais esteve no ministério até hoje.

Ao menos, a cada semana são feitas e publicadas abertamente declarações de hareidim que estão hoje em posição de muito poder em Israel, que descartam qualquer possibilidade da manutenção da narrativa de que o Povo de Israel é Um Só (Am Israel Echad) e que qualquer judeu é visto como judeu por qualquer judeu. Quem não enxergar que isso acabou é porque não quer ver para crer.

Opinião de José Roitberg – Jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.