Situação de Bibi Netanyahu no caso 1000 se complica: não eram só pelos 20 charutos
Qualquer um que cubra ou tente cobrir a política israelense precisa estar sentindo-se enganado no dia hoje. Por vários anos todos nós até brincamos com um dos casos da acusação de corrupção e quebra de confiança aos quais Bibi Netanyahu está indiciado. É o tal caso 1000. Sempre falamos que ele tinha recebido uma caixa de charutos e meia dúzia de garrafas de champagne, de um milionário norte-americano amigo dele. As provas teriam sido fumadas e bebidas. E por que isso caracterizaria uma acusação judicial?
Hoje, 26/jun/2023, Arnon Milchan, 78, cidadão israelense, testemunhou em teleconferência a partir de Londres. Obviamente não foi de Los Angeles à Jerusalém para evitar receber voz de prisão e seu testemunho foi considerado “em boa fé”, pois ele é quem deu os “presentes” recebidos pelo casal Netanyahu.
Resumindo, Milchan é um produtor de cinema, com uma fortuna estimada em 5 bilhões de dólares. Entre os 130 longas metragens onde ele participou na produção estão: Uma vez na América, Brazil (do Terry Gillian), Pretty Woman (Uma linda mulher), FJK, Clube da luta, Sr e Sra Smith, Under Siege (Força em alerta), Assassinos por Natureza, Somente elas, Fogo contra fogo (Heat), Los Angeles – Cidade Proibida, Infidelidade, Encontro Explosivo, Guerra dos Roses, Alvin e os Chipmunks, Marley e Eu, Bohemian Rhapsody e Free Willy.
O testemunho foi devastador. Milchan declarou que providenciou um fluxo permanente de charutos, champagne e joias para o casal Netanyahu a pedido deles.
Isso parece ter durado sete anos e segundo a promotoria o valor total dos “presentes”, passado dos 200 mil dólares.
Milchan alegou que Bibi lhe disse que não existiam limites para presentes, que não poderia receber uma casa. Alegou ainda que não sabia estar cometendo uma ilegalidade até ser contatado pelos investigadores da polícia. Os presentes passaram ser uma rotina e o produtor encarregou seu assistente pessoal de comprá-los e remetê-los, com carta branca para os pedidos do casal. Garantiu que são amigos a décadas.
O promotor indagou se alguma vez Milchan recusou um pedido de presentes de Netanyahu e a resposta foi: “Não, que eu me lembre”. E disse ainda que nada pediu ou recebeu em troca.
A promotoria alega que Bibi teria tentado passar um projeto de lei que teria dado a Milchan (e muitas outras pessoas, com certeza) brechas para diminuir suas cargas de impostos. Uma segunda alegação da promotoria seria a intervenção direta de Bibi, então junto ao secretário de estado norte-americano John Kerry para a extensão do visto de trabalho de Milchan nos EUA, durante um telefonema.
Isso parece uma acusação muito primária. Imaginar que um dos megaprodutores de Hollywood precisaria da intervenção de um chefe de estado de outro país para resolver questões de seu visto nos EUA.
Portanto, a questão dos presentes recebidos de Milchan parece estar esclarecida e não foram 20 charutos, mas anos de charutos, joias e champagne. O que a promotoria ainda não conseguiu provar, ao logo de três anos de julgamento além de outros tantos anos de investigações é qual teria sido a contrapartida de Netanyahu, como primeiro-ministro. O que ele teria ativamente feito, que pudesse caracterizar corrupção ou abuso de poder.
Até agora, a promotoria apresenta apenas narrativas e conclusões, e não fatos e provas.
Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador
Imagem: ilustrativa Bibi Netanyahu, fotos de Amos Ben Gershom/GPO.