Úlimo judeu do Afeganistão preferiu ficar com o Talibã
É algo complicado para compreender, mas tem explicação. Em 1996, quando o Talibã assumiu o controle do Afeganistão, havia apenas dez judeus por lá, entre homens e mulheres. Ao contrário da aplicação dura da sharia (a lei islâmica para os muçulmanos) os talibãs igualmente aplicaram a sharia no que tange aos judeus e cristãos: são Povos do Livro protegidos. Não houve cobrança do imposto Jizya, a taxa prevista na sharia para judeus e cristãos.
Absolutamente nada fizeram contra os judeus a não ser, deixar claro para eles que nada seria feito contra eles e que podiam continuar seu culto na única sinagoga restante em Cabul. No prédio da sinagoga, os judeus já haviam aberto um pequeno restaurante de kebabs e uma pequena loja de tapetes. Os preceitos da comida Kosher judaica e Hallal muçulmana são basicamente os mesmos, então não há questão filosófica a ser discutida.
Os judeus mais velhos morreram naturalmente e o mais novo, Zebulun Simantov, 62, ostenta o título de Último Judeu do Afeganistão, já há alguns anos. Ganha a vida com restaurante, cuida a usa a sinagoga sozinho. Seu nome na língua local é Zablon Simintov. Dos dez judeus, quatro compunham a família Simintov.
Em maio, ele declarou que iria para Israel quando as tropas americanas se retirassem. Agora, que o Talibã lhe mandou alguns homens informar que poderia continuar tranquilamente lá, Zebulum decidiu permanecer em sua cidade natal. Ou será porque lhe aguarda em Israel um processo, por se recusar a conceder o divórcio à esposa dele que saiu de Cabul no ano de 2001, levando os dois filhos do casal, ainda no Regime Talibã? Vinte anos de recusa em conceder o divórcio.
Recusar o get (o divórcio religioso judaico em Israel), pode ser punido com pena de prisão.
Em 1948 a população judaica do Afeganistão era de 5.000 pessoas. Em 1951 o governo afegão permitiu a imigração dos judeus para Israel sem lhes retirar a cidadania, ao contrário do que aconteceu no Egito. Em 1979 o União Soviética invadiu o Afeganistão em 1996 tinham restado apenas 10 judeus por lá.
Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador