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Há 80 anos, os nazistas inventavam o abate industrial de judeus

Em dezembro de 1941 a União Soviética já havia sido invadida há 3 meses e o abate de judeus por seus vizinhos da Estônia, Lituânia, Latvia e Ucrânia, estava institucionalizado. Os 3 batalhões nazistas de extermínio atingiam seu efetivo máximo de 3.000 soldados e começaram a fuzilar sistematicamente os judeus na frente oriental. Até o final de suas operações absolutamente documentadas e relatadas pelos seus comandantes, 1,5 milhões de judeus foram assassinados.

Mas logo no primeiro mês já existiam reclamações de estresse dos soldados assassinos que se sentiam desconfortáveis por ficarem dia após dia com as faces e frente dos uniformes molhados com sangue de judeus. Além do custo das balas e da demora para as execuções.

O comando nazista decidiu tentar outra solução. Foram adaptados caminhões Magirus Deutz de transporte de móveis, fechados herméticos com o cano de descarga voltado para dentro da área de carga.

O ponto de destino para a descarga de corpos foi a pequena vila de Chelmo, 100 km ao Sul da cidade de Lodz, na época com apenas 35 famílias residentes e hoje, não muito maior que isso. Era um local estratégico pois num raio de 60 km ao redor dela eram localizados 57 guetos judaicos menores, além da grande área industrial de trabalho escravo na grande cidade de Lodz.

O funcionamento era simples. Os judeus eram levados em trens para Chelmo. Lá, 50 prisioneiros eram colocados dentro da área de carga do veículo, enganados, com a certeza de estarem sendo transferidos dos guetos para áreas de trabalho. Fechada a porta, trancada por barras de ferro pelo lado de fora, imediatamente ao ser ligado o motor as pessoas começavam a ser envenenadas por monóxido de carbono. Motorista e auxiliar, soldados da SS, se dirigiam então por 20 minutos até a grande vala aberta em Chelmo, descarregavam os corpos e voltavam para nova viagem.

O número de veículos empregados nesta operação é desconhecido. Todos eles foram desmantelados a partir de 1944 na Operação Reinhard da SS, que visava destruir todas as provas do genocídio (mas falhou). Apenas duas fotografias sobreviveram, além de relatórios oficiais e relatos de testemunhas.

Parecia à SS que tinham encontrado uma solução para industrializar a matança de judeus, mas ao fim de duas semanas os soldados da SS começaram a se queixar do trabalho, de ser desagradável percorrer os 20 minutos escutando os gritos dos judeus e de ser abjeto lidar com os cadáveres em meio a todos tipos de fluidos corporais advindos do terror e da morte lenta por sufocamento. Pior ainda, tinham que limpar a área de carga para que os próximos 50 judeus não percebessem nada e entrassem no caminhão com tranquilidade.

Para proteger seus soldados das fezes, urina e sangue dos judeus a SS então determinou que prisioneiros judeus operassem a descarga e limpeza dos caminhões.

Logo foi compreendido que o sufocamento ao longo de 20 minutos era contraproducente e a imundície deixada era ainda pior. Foi então a SS buscar formas mais velozes e eficientes de asfixiar judeus.

Mesmo assim, foram assassinados com absoluta crueldade pelos nazistas em Chelmo 172.000 judeus e 5.000 ciganos.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.