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9 de Av: o dia das tragédias judaicas

Tisha B’Av, é um dia de luto pelas tragédias que se abateram sobre o povo judeu, muitas das quais coincidentemente ocorreram no dia nove de Av.

Em 2023, o dia 9 de Av começa ao pôr do sol do dia 26 de julho, e termina na noite de 27 de julho.

Destruição de Jerusalém pelos romanos liderados por Tito, 70 E.C. Óleo, por David Roberts,1850

O significado da data

Tisha B’Av significa literalmente “o nono (dia) de Av” em hebraico. Geralmente ocorre durante o mês de agosto. No 9º dia de Av do ano de 423 A.E.C, Nabucodonosor e os babilônios destruíram o Primeiro Templo de Jerusalém. No ano de 70 E.C., também em 9 de Av, os romanos destruíram o Segundo Templo Sagrado. Historicamente entende-se que que o general Tito escolheu esta data que era conhecida para marcar as duas derrotas dos judeus no mesmo dia.

Embora este feriado seja principalmente destinado a relembrar e lamentar a destruição do Templo, é apropriado considerar as muitas outras tragédias do povo judeu que também foram atribuídas a este dia, mesmo que não tenham de fato acontecido. Entre eles estão: o esmagamento da Revolta de Bar-Kokhba nas mãos dos romanos em 133 EC. Inexiste qualquer documento indicando data e mês do fim da revolta. 9 de Av foi atribuído cerca de mil anos depois por rabinos talmudistas que preencheram lacunas de nomes e datas tanto na Torá quanto em outros textos e tradições judaicas.

A expulsão dos judeus da Inglaterra em 1290 EC a expulsão dos judeus da Espanha em 1492 também foram encaixadas em 9 de Av. Mesmo hoje não é possível calcular a data correta no calendário judaico, em primeiro lugar pelo fato do calendário judaico atual ser outro. Em segundo lugar porque as datas “normais” entre Julio Cesar (46 AEC) e o Papa Gregório (1581 EC) são datas pelo Calendário Juliano. Mas o Calendário Gregoriano não foi imediatamente aceito em todo o mundo ocidental. Os calendários na Internet são baseados no ano de 1752, quando o Império Britânico aceitou a mudança. Outros impérios só mudaram o calendário muito depois. A Primeira Guerra Mundial foi lutada com calendários diferentes. Russia (1918), Turco-Otomano (1923), Letônia e Lituânia (1915), Romênia e Iugoslávia (1919), China (1912).

Não existe conversão para data do calendário hebraico para anos antes de 1752. Pelas contas mais aproximadas, a data de 1492 aconteceu no final de Adar II ou início de Nissan, enquanto a data de 1290 teria sido entre o final de Tamuz e meados de Av, podendo ter acontecido sim no dia 9 de Av.

Já início da Primeira Guerra Mundial em 1914, que por consenso histórico geral levou à Segunda Guerra Mundial e ao Holocausto que também é incorporado pelos rabinos a 9 de AV, aí é inequivocamente o dia 28 de julho de 1914, que matematicamente e precisamente foi o dia 5 Av e não o dia 9.

Curiosamente o atentado contra a AMIA em Buenos Aires acontecido em 18 de julho de 1994, dia 10 de AV é deixado de lado pelos rabinos.

O 9º dia de Av se tornou um dia de lembrança para as tragédias do povo judeu ao longo das gerações. A precisão não importa. O significado importa.

Se o nono dia de Av cair no Shabat, Tisha B’Av é observado imediatamente após o Shabat. O jejum é adiado até então porque o jejum e o luto são contrários ao espírito do Shabat, que tem precedência sobre outras observâncias

A observância do feriado

Tisha B’Av é um dia de jejum de 24 horas que começa ao pôr do sol. As restrições são as mesmas do Yom Kipur, incluindo comer ou beber, tomar banho, ungir o corpo com óleo, usar sapatos de couro, etc.

Na sinagoga, o Livro de Eichah (Lamentações) é cantado, assim como os kinot poemas litúrgicos tristes).

Em vez do normal sidur (livro de orações) usa-se um livro de orações especial para Tisha B’Av, Kinot (Elegias), que contém os serviços de oração ( Maariv, Shachrit e Mincha , os serviços da noite, da manhã e da tarde), o texto das Lamentações , uma seleção de elegias adicionais.

Sentados em bancos baixos, um costume associado ao luto pelos mortos, os judeus também leem partes dos livros de Jeremias e Jó, bem como passagens da Bíblia e do Talmude que tratam das destruições dos templos em 586 aC e 70 dC.

Se o nono dia de Av cair no shabat, Tisha B’Av é observado imediatamente após o shabat. O jejum é adiado porque o jejum e o luto são contrários ao espírito do shabat, que tem precedência sobre outras observâncias.

O judaísmo liberal nunca atribuiu um papel religioso central ao antigo Templo, então lamentar a destruição do Templo pode não ser particularmente significativo para os judeus liberais. Nos tempos modernos, muitos judeus entendem Tishah B’Av como um dia para lembrar muitas tragédias que aconteceram ao povo judeu ao longo da história e refletir sobre o sofrimento que ainda ocorre em nosso mundo.

Marcia Salomão

Publicitária, com formação em publicidade, propaganda, marketing e relações públicas, Atua nas áreas de produção editorial e assessoria de imprensa.