A foto da vitória soviética sobre Berlim foi tirada por um judeu
De fato, existem três fotos emblemáticas na Segunda Guerra Mundial. A primeira é a de Adolf Hitler, com a Torre Eifel ao fundo logo após a rendição da França, onde ele está se saco cheio por ter ido até Paris.
A segunda é do erguimento da segunda bandeira norte-americana no topo do Monte Suribachi onde os japoneses construíram uma intrincada rede de casamatas e túneis no vulcão que dominava a Ilha de Iwo Jima. A história desta bandeira é bem conhecida e virou filme. Os fuzileiros navais que atingiram o topo do vulcão nem eram da mesma unidade, pois as tropas americanas estavam bagunçadas e destroçadas. Um deles tinha uma bandeira pequena que levara dentro do uniforme. Ela foi erguida, presa a um cano. Quando o comando viu por binóculos, achou que era pequena demais e mandou levar uma bandeira militar de tamanho padrão lá para cima. Quando chegou, os soldados se uniram para levantar o cano com a bandeira e a ação foi filmada e fotografada, pois a invasão de Iwo Jima teve 114 soldados fotógrafos incluindo correspondentes oficiais de jornais e revistas. Alguns foram mortos em combate. A foto que ficou absolutamente eternizada foi o sortudo ângulo e momento exato clicado por Joe Rosenthal (1911-2006) no dia 23 de fevereiro de 1945.
Talvez a maior curiosidade Joseph Rosenthal ter se alistado como fotógrafo militar e ter sido rejeitado porque usava óculos, quando era fotógrafo da Associated Press (AP). Joe, seus óculos e câmeras, ainda assim se uniram ao Serviço Marítimo Norte Americano e ele cobriu aspectos da Inglaterra em 1943 (já com 32 anos de idade) e depois os combates dos EUA no Norte da África. Em 1944 voltou para a AP e foi despachado para acompanhar os Marines, os fuzileiros navais e participou “apenas” dos desembarques e combates em Hollandia, Nova Guiné, Guam, Peleliu, Angaur e Iwo Jima. Vários fotógrafos e cinegrafistas de guerra norte-americanos eram judeus.
No outro extremo da guerra, também existiam fotógrafos judeus no exército comunista soviético além de dezenas de milhares de soldados. Um dele era Yevgeny Khaldei (1917-1997), judeu, nascido na pequena cidade de Yuzovka, hoje na Ucrânia. Aos 19 anos de idade (1936) conseguiu seu primeiro emprego como fotógrafo da agência soviética de notícias TASS. Esteve envolvido nos combates desde a invasão da URSS pela Alemanha nazista, em 1941.
Khaldei e Rosenthal nunca se encontraram. Mas o russo viu a foto de Rosenthal que foi estampada nas capas de todas as revistas e jornais aliados. A partir daquele momento Yevgeny decidiu que iria fazer uma foto como aquela quando Berlim caísse e ele estava junto com as tropas que lideravam a corrida para a capital de Hitler. Mas essa corrida de dois exércitos completos, para capturar a cidade, incentivada por Stalin, manipulando ambos generais, além de custar a vida de dezenas de milhares de soldados soviéticos, parece muito organizada, mas não necessariamente. Mesmo Yevgeny tendo acesso ao comando do Marechal Zukov, ele simplesmente não encontrou nenhuma bandeira grande.
A história é curiosíssima. Ele conseguiu entrar em contato com o tio, um judeu alfaiate em Moscou, e pediu para fazer uma bandeira e mandar para a frente de batalha. Hoje, numa época de e-mails e mensagens instantâneas, as pessoas não conseguem imaginar os correios levando cartas e pacotes através e continentes em guerra e conseguindo entregar aos soldados certos, onde quer que estivessem, mas todos os exércitos possuíam espetaculares sistemas de correio militar.
Não tendo tecido vermelho lá na cidadezinha onde o tio de Yevgeny estava, o alfaiate judeu pegou uma toalha grande de mesa da casa dele, cortou em três tiras e com elas costurou uma bandeira vermelha. Com uma fronha de travesseiro fez o emblema Foice/Martelo/Estrela e mandou para a frente de Batalha.
Conta Yevgeny em seu livro “De Murmansk a Berlim”, com suas melhores 93 fotografias da Segunda Guerra Mundial, que o pacote com a bandeira feita com a toalha da mesa do tio, chegou quando as tropas já estavam combatendo em Berlim. O resto é a história da batalha.
As primeiras tropas chegaram a sede do Governo Nazista, subiram até o telhado, apenas quatro soldados liderados por Mikahil Minin (1922-2008), 23 anos, enquanto ainda havia combates com soldados nazistas dentro do prédio, no dia 30 de abril de 1945 às 22h40. Minin também tinha sua bandeirinha dentro do uniforme, como o soldado americano na longínqua ilha do Pacífico dois meses antes. Mas não havia fotógrafo. Minin e seus três companheiros correram para o prédio debaixo de tiros dos alemães e precisaram abria caminho até o telhado com suas metralhadoras e granadas. Foi um combate dentro do prédio e não apenas uma ida ao telhado. Pegaram um pedaço de cano, pelo caminho, para servir de mastro.
No dia seguinte, 1 de maio, snipers nazistas acertaram cortaram a tiros o cano que sustentava a bandeirinha e a derrubaram.
No dia 2 de maio, Yevgeny decidiu subir lá com sua toalha e recolocar a bandeira. Chamou três soldados ao acaso, que estavam por ali, e subiram ao telhado. Ele seu sua bandeira-toalha ao soldado Aleksei Kovalev (1925-1997), 18 anos, de Kiev, que se esticou todo para faze-la tremular e Yevgeny Khaldei tirou o rolo todo, 36 fotos, e uma delas foi a foto perfeita que marcou o final da guerra na Europa (se bem que os combates não terminaram ali, mas Hitler estava derrotado). A foto foi publicada pela primeira vez no dia 13 de maio de 1945, como foi tirada. Posteriormente foi editada com adição de fumaça ao fundo e retirada de um dos dois relógios que um sargento portava. Mas depois foi constado que ele estava com um relógio no pulso esquerdo e uma bússola militar no direito.
O que a imensa maioria das pessoas não sabe e nem faz ideia, é que depois do genocídio de seis milhões de judeus, era a toalha da mesa de um alfaiate judeu através da foto de seu sobrinho, fotógrafo militar judeu, que enterrava o Reich de Mil anos dos super-homens arianos.
A ordem de Stalin foi de que “qualquer pedaço de pano vermelho fixado no prédio simbolizaria que a batalha tinha sido ganha, e Minin, como todos os soldados envolvidos no ataque final receberam esta ordem.
As duas fotos emblemáticas são cenas refeitas, cada uma com suas peculiaridades. Não são foram encenadas. Em seguida, vários fotógrafos soviéticos subiram ao telhado e também fotografaram a bandeira.
O destino dos dois soldados soviéticos que levantaram a bandeira em Berlim foi mais tranquilo que o destino dos americanos de Iwo Jima. Aleksei Kovalev ficou no exército até 1950. Quando deu baixa, entrou o Corpo de Bombeiros de Kiev (capital da Ucrânia) onde atuou até 1988 se aposentando como tenente-coronel. Mikahil Minin também continuou nas forças armadas e se graduou como oficial de engenharia militar em 1959, passando a integrar as Forças Estratégicas de Foguetes, onde se aposentou em 1969, também como tenente-coronel.
Yevgeny Khaldei voltou para agência TASS de onde foi demitido em 1947 por “seu baixo nível cultural” e por “não conseguir, em tempo de paz, o desempenho ótimo de fotógrafo que teve durante a guerra”. Passou a ser freelancer para jornais soviéticos até ser contratado pelo Pravda em 1959, sendo forçado a se aposentar em 1970. Khaldei portava 11 das principais medalhas soviéticas mostrando as batalhas onde esteve: defesa de Sebastopol, defesa do Cáucaso, defesa da rota naval trans ártica (rota de suprimentos entre os EUA e o porto de Murmansk, considerada a mais difícil da guerra), captura de Berlim, captura de Viena, captura de Konigsberg, captura de Budapeste, vitória sobre a Alemanha, vitória sobre o Japão, Ordem da Guerra Patriótica segunda classe e, Ordem da Estrela Vermelha.
Pena que em Monte Castello nao tinha nenhum fotografo para registrar a chegada ao topo dos brasileiros, rompendo a Linha Gotica. A primeira unidade a alcançar o alto da montanha foi um pelotão do 11 RI, comandado pelo tenente Moretzhon Brandi, descendente de David Moretzhon, Ministro da Fazenda de Afonso Penna. Ele nao pôde se candidatar a Presidente da Republica por ser judeu.