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Acordos de Abraão dão frutos mesmo: etrogs do Marrocos

O Marrocos é o segundo maior produtor mundial do etrog, espécie de casca amarela assemelhada ao limão utilizada ritualmente na festa de Sucot pelos judeus do mundo inteiro.

A tradição conta que as primeiras árvores foram plantadas nas montanhas do Atlas por judeus vindos da Judeia Romana após a destruição do Segundo Templo de Jerusalém, no ano 70 EC. Eles encontraram boa acolhida pelas tribos bérberes que viviam por todo o Norte da África.

Israel possui grandes plantações de etrog, sob controle da ortodoxia judaica e preferido pelos membros destes grupos. E são mais caros que os marroquinos, estes, vindos de agricultores muçulmanos em sua maioria. Existe em Israel e em Nova Iorque um mercado de frutas especiais, muito disputadas, principalmente por integrantes do movimento hassidico, onde um fruto de altíssima qualidade (AAA) pode chegar a custar centenas de dólares.

Por outro lado, os etrogs do Marrocos são bem-vindos e comercializados em Israel no sétimo ano (ano de descanso da terra para agricultura, como disposto na Torá), quando, evidentemente não há produção agrícola em todas as fazendas ortodoxas israelenses.

Com o acordo de normalização entre Israel e Marrocos, as entregas de etrog agora são diretas e rápidas. Até então, as compras podiam e deviam ser realizadas, mas o transporte direto não era permitido e as cargas precisavam trafegar do Marrocos para Espanha, Itália ou Turquia e destes países para Israel, encarecendo o frete e o preço final.

Mas a plantação do etrog no Marrocos não é exclusiva dos muçulmanos. Apesar de residirem apenas 2.000 judeus no país e cerca de 60 pessoas na região de Agadir, no Atlas, a maior produtora de etrogs, também permanecem ainda duas ou três famílias judias dedicadas ao plantio.

Uma delas é de Hervey Levy que possui um pomar imenso, com 400 árvores e produziu 9.000 frutos este ano. Levy é o mais procurado para colocar os frutos em Israel e comemorou poder embarcá-los direto pela Royal Air Marroc.

Segundo Levy, um pomar típico de pequenos agricultores muçulmanos tem entre 60 a 100 árvores. O negócio da família sempre foi a plantação de etrog e Levy não faz ideia de quantas gerações já se dedicaram a isto. Afirma que a família está lá há mais de mil anos, talvez 1.500, quem sabe, mais.

E quanto vale um etrog marroquino? Sequndo Levy, o top, classificado como qualidade “AA – alef-alef” pode custar mais de 80 dólares, já o “bet” fica na faixa de 15 dólares e o “gimel”, não chega a 10 dólares. A produção de Levy se divide em 5% de alef, 40% de bet e 55% gimel. E esta é a norma geral para os produtores.

O Marrocos exportou este ano 600.000 unidades do fruto, inclusive para o Brasil. Provavelmente o da sua mesa deve ser marroquino.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.