Só o Shas ainda não assinou e parte da sociedade israelense já se posicionou pela desobediência civil
Artigo de Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador
Nesta segunda-feira 5/dez, após 12 horas de negociações que vararam a noite a madrugada o UTJ – United Torah Judaism (Judaísmo Unido pela Torá) assinou o acordo com o Likud para entrar no novo governo. Nunca se pode perder de vista que o UTJ é uma coalizão formada pelo Agudat Israel (União de Israel), partido dos hareidim hassídicos europeus, que é anti-sionista desde sua fundação em 1912, e pelo Degel HaTorah (Bandeira da Torá), partido que congrega os principais reitores das escolas religiosas e os lituanos (litvaks) hareidim, não hassídicos.
Deste modo, Bibi garantiu, por acordos assinados, 53 das 61 cadeiras necessárias. Falta o Shas, partido dos judeus ultra-ortodoxos e ortodoxos árabes, com suas 11 cadeiras. O prazo termina a meia-noite do dia 11 de dezembro. Se for necessário Bibi pode pedir uma extensão regimental de 14 dias. Portanto, apesar das assinaturas e acordos nada está resolvido. Só quanto terminarem as negociações.
Não assinando, o Shas se colocou numa posição de obter mais cargos ou mais compromissos. O Shas pretende cargos no primeiro escalão, enquanto o UTJ, não.
O acordo com Bezalel Smotrich do partido de nome enganador “Sionismo Religioso”, também já está assinado e foi divulgado que ele e Arie Dery, líder do Shas, farão gestões alternadas de dois anos no Ministério da Economia, onde Smotrich começa e no Ministério do Interior. No acordo foi dado ao intolerante Smotrich o comando das políticas populacionais na Judeia e Samaria. Smotrich será o número dois do Ministério da Defesa.
O sistema jurídico israelense ainda não chegou à conclusão se com uma sentença por fraude suspensa (não anulada) Dery pode ou não ser ministro. Ninguém que esteja cumprindo pena pode ser ministro. As penas embutem um prazo de sete anos de desincompatibilização. Setores do judiciário defendem a posse de Dery e outros afirmam que só em 2029.
Ele, que brada pela expulsão dos árabes de Israel, vai ser o sujeito que terá a caneta para definir as construções de judeus (que deverá liberar) e as construções de palestinos (que deverá limitar)
A DESOBEDIÊNCIA CIVIL
Os mais diversos setores da sociedade israelense já se posicionaram contra o que pode ser efetivado daqui uns dias. Sobre Dery, parece que o Likud e os outros partidos ortodoxos não vêm nada demais em uma pessoa condenada duas vezes por suborno e fraude se tornar o Ministro da Economia. É uma definição imoral e antiética.
O general Aviv Kochavi, chefe do Estado Maior das forças armadas de Israel, declarou publicamente que os ministérios dados a Smotrich, Maoz e ben Gvir, quebram a cadeia de comando das forças armadas e das polícias. Não pretende aceitar, como disse que não vai permitir que Smotrich aponte generais e determine comandos. Kochavi será substituído pelo general Herzi Halevi em janeiro, que garante ter a mesma posição. Não perca de vista que o trio de intolerantes pretende remover as mulheres das forças armadas e polícias.
Vários comandantes militares e policiais já afirmaram publicamente que não vão seguir ordens de Smotrich, nem de Ben Gvir, nem do sujeito de 27 “perigoso para a sociedade” que ele definiu como chefe das polícias.
Mais de 20 prefeituras, inclusive a de Tel Aviv já anunciaram que não seguirão nenhuma determinação do homofóbico Avi Maoz sobre educação nas escolas públicas. Nas negociações Maoz ficou com um departamento do Ministério da Educação que define o ensino informal nas escolas.
Vários nomes de peso entre os norte-americanos judeus apoiadores históricos de Israel, passaram a afirmar que o apoio agora será condicional. Perceba o que pode ocorrer. Sabe-se que cerca de 22% da população judaica norte-americana (1,3 milhões de pessoas) é contrária ao Estado de Israel. Agora, podermos ver uma parcela significativa dos que não tem posição ou são favoráveis à Israel passarem para o lado sombrio da questão do antissionismo.
Bibi Netanyahu, domingo, dia 4/dez foi o entrevistado no Meet The Press (Encontro Com a Imprensa), prestigiadíssimo programa da rede de TV norte-americana NBC. No ar, ele deixou claro que quem vai mandar no governo vai ser ele. Não vai permitir que seja retirado nenhum direito LGBT+ em Israel, e dúvida que a Lei do Retorno será alterada. E aí, o que nós devemos pensar?
Agora vamos cair dentro. Você consegue imaginar Israel com uma parcela da população em desobediência civil? Como não… Isso já existe e sempre existiu. A comunidade hareidi que está sendo emponderada sempre esteve em desobediência civil: construir barracos na Judeia e Samaria em cima de colinas para requerer a posse da Terra, é desobediência civil.
Se recusar ao serviço militar ou suas alternativas, é desobediência civil. Lançar pedras contra policiais e outros israelenses, é desobediência civil. Interditar ruas e estradas, é desobediência civil. Rabinos líderes de escolas religiosas e outros proclamarem que as decisões da justiça e da Suprema Corte não tem validade e não precisam ser seguidas, é desobediência civil. Determinar abertamente que os policiais e soldados israelenses são nazistas, e suas ordens não devem ser cumpridas, é desobediência civil.
A Democracia é o governo da maioria da população e não da minoria, como está se formando agora.
Imagem: ilustrativa – existe uma minoria em Israel que se pudesse, transformaria o Estado Judeu em Reino de Mea Shearim. Foto de Ronaldo Gomlevsky,
A Esquerda Israelense(e a Internacional) acreditam na Democracia somente quando estao no Poder.