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Dois ataques bem diferentes em Jerusalém

O primeiro foi num bairro hareidi, no momento mais crítico de qualquer dia em que se vai à sinagoga: na saída. Em qualquer lugar, judeus, muçulmanos e cristãos vão chegando, espaçadamente, cada um a seu tempo para as cerimônias religiosas.

Quando os serviços religiosos chegam ao fim, as pessoas costumam sair juntas ou em grupo, de qualquer templo, conversando despreocupadas e de alma leve. É normal, e indesejável, que os frequentadores fiquem conversando na calçada ou defronte a um templo naquela janela de tempo que dura a saída. Cinco minutos depois não tem mais ninguém na calçada.

Muitos frequentadores se sentem indignados quando se lhes pede para irem embora para suas casas e não ficarem conversando na calçada. E não é só por uma facilitação para ação terrorista. Também é uma questão de segurança urbana nas maiores cidades do mundo. As pessoas podem ser simplesmente assaltadas.

Mas uma sinagoga num bairro hareidi, se bem que o outro lado da avenida é um bairro árabe de Jerusalém Oriental, leva os judeus a terem a certeza de estarem protegidos por Deus. Já o terrorista muçulmano xiita, tem a certeza de estar protegido por Allah.

Qualquer ataque igual a este ou parecido com este é um ataque suicida. Ao se tornar mártir, um jovem árabe muçulmano sunita de apenas 21 anos tem a certeza de ir para o Paraíso ao lado do Profeta Maomé e de Allah. Um Paraíso onde ele terá 72 virgens (as houris) e rios de leite e mel. Estas virgens, teriam um caráter mágico: elas praticam sexo com o mártir e voltam a ser virgens. Mas isto não existe no Corão.

Vem de uma haddith, uma estória com força de lei religiosa, cuja origem é atribuída ao século 7. Esta haddith ficou absolutamente esquecida e não praticada até que a Irmandade Muçulmana e redescobriu na década de 1970 e a implementação da mentalidade do mártir que vai para o colo das virgens começou apenas dentro do islã sunita jihadista. A Irmandade Muçulmana foi a que calçou Haj Amin al Husseini como mufti de Jerusalém em 1923. Haj Amin é o primeiro clérigo muçulmano que ostensivamente manda matar judeus. Qualquer judeu. Antes mesmo de Hitler ir para a cadeia em Munique, quando ainda nem pensava em escrever o livro Mein Kampf onde propunha a eliminação física de todos os judeus.

Um jovem árabe de 21 anos ir matar judeus na saída da sinagoga no shabat e ser morto pelas forças de segurança é a penúltima ação de uma matança que ocorre na região desde 1923 e nada tem a ver com a criação do Estado de Israel, 25 anos depois. Muçulmanos sunitas, em Jerusalém, Hevron, Jenin, Akko, Tel Aviv, Yafo, Haifa e outras cidades matarem judeus é uma questão já com 99 anos. Daqui poucos meses completa um século.

Antes era só uma questão pecuniária, havia um prêmio por cabeça de judeu e os ataques não eram suicidas. Mas depois que a haddith das 72 virgens foi ressuscitada do seu esquecimento histórico, enterrada pelos próprios muçulmanos, a situação mudou. Hoje, ou melhor, nos últimos 15 ou 20 anos, a mãe do rapaz homicida-suicida recebe o status de “mãe de mártir” que é muito importante na sociedade palestina. A família passa a receber um bolsa-martírio mensal, em valor muito maior que a bolsa-família ou bolsa-presidiário brasileiras. O filho mártir irá abrir as portas do Paraíso para os pais (não importa o que eles façam). O filho mártir vai interceder junto ao Profeta para que o Paraíso seja aberto também para seus irmãos e irmãs. É a crença jihadista e centenas de milhares acreditam nela.

Acreditam porque lhes é ensinado nas escolas e nos programas infantis da TV Palestina. Como é duro assistir um vídeo de crianças 5 ou 6 anos do Hamas numa escola em Gaza, ao invés de cantarem Ciranda Cirandinha, cantarem Vou Derramar Meu Sangue por Al Aqsa. Mas isto é antigo. O jovem de 21 anos era filho das crianças que cantavam isso nos anos oitenta.

E aí temos o segundo ataque, dentro de Jerusalém, perpetrado por um molequinho árabe de meros 13 anos de idade. Lá em Israel isso foi um choque. Aqui no Brasil não nos faltam casos de crianças desta idade matando antes de roubar ou depois de roubar, pois a lei, o ECA lhes protege. Neste caso, um dos feridos reagiu e disparou contra o garoto e matou.

O garoto de 13 anos, já é da terceira geração das Sementes do Ódio. Mas note: não é um fenômeno geral nem muçulmano nem árabe. A educação para o ódio puro e mortal aos judeus em nome de Allah é exclusiva dos palestinos. Em nenhum momento histórico anterior, em nenhum império ou califado islâmico existiu a senha assassina dos muçulmanos contra os judeus. Muito pelo contrário, os judeus e os cristãos eram dihhimis, protegidos, Povos do Livro a serem protegidos pelo califa, sheique ou sharif, pagando imposto anual por sua proteção.

E não existe como interromper o resultado de mais de 30 anos de educação para o ódio e o racismo contra os judeus, enquanto os clérigos palestinos lhes prometerem o paraíso para os mortos e dinheiro fácil para mamãe e papai incentivarem seus filhos a morrerem matando judeus.

Acredito que a solução virá apenas quando a Arábia Saudita entrar nos Acordos de Abraão, e seus clérigos chefes que tem domínio teológico e físico sobre Meca, passarem uma fatwa,  uma lei islâmica obrigando os clérigos palestinos que lhes deveriam ser subordinados e reverterem a fatwa da Haj Amin al Husseini da década de 1920.

É um bom momento para tirar a limpo o que está especificamente escrito, onde e quando foi escrito. O texto é atribuído a al-Miqdam bin Ma’di Karb, que nasceu 4 anos antes da revelação ao profeta Maomé, e viveu até o ano 87 após a revelação. Portanto, até os 91 ou 92 anos. Contemporâneo de Maomé. O texto está no Sunan e só diz respeito aos muçulmanos sunitas, e não a todas as outras escolas. Sunan At-Tirmidhi verso 1663.

“Há seis recompensas junto a Allah pelo martírio. Ele é perdoado com o primeiro fluxo de sangue, à ele é mostrado seu lugar no Paraíso, ele é protegido da punição na sepultura, ele está à salvo do maior terror, a coroa da dignidade é colocada sobre sua cabeça e suas gemas são melhores que o mundo e o que há nele, ele é casado com setenta e duas esposas entre as donzelas puras do Paraíso, e ele pode interceder por setenta de seus parentes próximos.”

Esta tradução é a versão oficial islâmica para o português. Sempre lembrando que qualquer tradução do Corão e Sunan, para outras línguas diferentes do árabe, são denominadas versões, e não traduções.

Nós judeus sabemos o que é a tradução do Velho Testamento para português católico, a partir do latim romano vaticano, a partir do grego feita por escribas judeus de Alexandria. O texto em português nem sequer é uma versão do original, mas uma perversão. Estão absolutamente corretos os muçulmanos nesta questão.

Do 1,5 bilhões de muçulmanos, apenas parte dos 5 milhões de palestinos mantém a ira teológica contemporânea de matar judeus. Alguns aderentes ao Estado Islâmico também têm, pois são criados e educados no jihadismo resumido e não no Corão.

“Nós podemos perdoar os árabes por matarem nossos filhos. Nós não podemos perdoá-los por forçar-nos a matar seus filhos. Nós somente teremos paz com os árabes quando eles amarem seus filhos mais do que nos odeiam.” Disse Golda Meir, meio século atrás.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: divulgação oficial do MFA – Ministério das Relações exteriores de Israel, vítimas fatais do ataque contra a sinagoga em Jerusalém. Que suas almas façam parte da Corrente Eterna da Vida.

Asher Natan, 14
Irina Korolova, 60
Ilya Sosansky, 26
Shaul Hai, 68
Rafael Ben Eliyahu, 56
Eli and Natalie Mizrahi, 48 and 45

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.