Bibi Netanyahu interrompe tramitação da reforma judicial e é apoiado quase por todos
Um dia depois de demitir seu próprio companheiro de partido, o general Yoav Gallant, da função de ministro da defesa, que é considerado o segundo cargo mais importante na linha de governo israelense, por ter este pedido a pausa no processo da reforma judicial, o primeiro-ministro declara tal pausa.
Bibi anunciou a pausa pela TV e foi muito claro, afirmando que era para evitar a guerra civil. Quando o presidente de Israel, o rabino-chefe sefaradita e o primeiro-ministro estão falando abertamente em impedir a guerra civil, a questão está no limite jamais imaginado.
O anúncio da demissão de Gallant, no domingo dia 27/mar elevou o número de manifestantes nas ruas, contra o governo, para mais de 600.000 segundo a mídia israelense. Imediatamente a Histadrut que é central sindical israelense convocou greve geral de uma semana a partir zero hora de segunda-feira. Apenas os funcionários do aeroporto Ben Gurion entraram em paralização, impossibilitando a partida de 28 voos.
Após a declaração da pausa, a Histadrut cancelou a greve em todo o país.
Avi Dichter, atual ministro da agricultura e ex-comandante do Shin Bet é o cotado para substituir Gallant, mas não se pode descartar que ele volte ao cargo. Dichter que já esteve no Rio de Janeiro dando palestrar, estaria mais corretamente na defesa que na agricultura.
Mas durante a declaração da pausa, mais de 100.000 pessoas se manifestavam nas imediações do Knesset contra o governo, e pela primeira vez, outras 100.000, em outra áreas de Jerusalém foram às ruas a favor do governo exigindo a reforma judicial já.
Os líderes dos partidos judaicos de oposição, Yar Lapid, o general Ganz e Avigdor Lieberman apoiaram a decisão da pausa, bem como o presidente de Israel, Isaac Herzog, que após conversar com deles e Netanyahu pediu que as negociações comecem imediatamente. A mídia israelense afirma que todos os partidos já nomearam seus representantes para a mesa de negociações que vai começar nesta terça-feira se nada mudar repentinamente, novamente. Hoje, segunda-feira, era para ser votada e aprovada a Reforma Judicial e com o texto que ameniza a possibilidade de controle total da Suprema Corte pelo primeiro-ministro. De fato, Bibi poderia nomear apenas dois, para as próximas duas vagas e escolher entre os juízes o presidente do tribunal. Percebam que o discurso de que Bibi e os ortodoxos vão dominar a Suprema Corte passou a ser falso a partir da nova redação da lei de escolha de juízes. São 15. Bibi só nomeará os próximos 2. Com 13 votos “contra”, a situação do governo e dos ortodoxos em relação às leis que os incomodam, não muda em nada.
Já Itamar ben Gvir, ministro da segurança nacional e líder do partido kahanista Otzma Yehudit, apoiou a pausa após pedir a Bibi, e ter recebido um ok, para criar uma Guarda Nacional, de caráter policial, sob seu comando pessoal. Se você vê um padrão aqui consistente com a Venezuela e a possibilidade ou não de algo semelhante no Brasil, obviamente não se pode apoiar uma medida destas em Israel: a mesma fórmula aplicada por ideologias opostas, e errada em ambos os espectros. Seria um compromisso verbal e não uma determinação ou autorização expressa do primeiro-ministro.
Existe outra possibilidade em relação à Reforme Judicial. Ainda não se viu, fora do Knesset, o texto completo. Provavelmente tem cláusulas de “erro programado”, cláusulas absurdas onde o professor Bitton redigiu coisas que não quer implementar, e podem ser retiradas durante as negociações, contentando os opositores e acalmando os ânimos. Isso é uma prática normal de negociação política interna e internacional. Eu espero estar certo.
Confesso nunca ter estado tão preocupado com Israel como agora. Nem nas guerras. Simplesmente ambos os lados da questão governamental não podem fazer o “inimigo” recuar, nem o inimigo vai fugir, não podem eliminar o inimigo e não podem estabelecer fronteiras seguras.
Enfim, nesta segunda-feira a situação geral ficou melhor que nos últimos três meses inteiros.
Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador
Imagem: ilustrativa, Bibi Netanyahu e a imprensa no dia 15/mar/2023 – foto de Haim Zach, GPO