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Tradução de cuneiforme para inglês, por IA em Israel pode mudar a história da humanidade. Queremos isso?

Apenas 15 dias atrás o CEO da NVIDia, Jensen Huang (taiwanês-nortemericano) explicando o que o “deep learning” (aprendizado em profundidade) das IA permitiu, que o tradutor universal já existe. Pode-se traduzir não só de qualquer língua para outra língua em tempo real como de “coisas” para línguas, e vice-e-versa, como: de DNA para inglês, de alemão para matemática, de matemática para proteínas. Algo bastante incompreensível para meros seres humanos como nós.
No primeiro caso, as análises de DNA já viriam em inglês. A reprogramação de DNA e RNA para novas vacinas seria feita em inglês e traduzida quimicamente. Ficou ainda mais difícil de compreender, eu garanto.

A IA é da Google. Estima-se que o último ser humano que falou akadiano viveu 2.000 anos atrás. Ninguém tem a mínima ideia de como seria a pronúncia. O acadiano era a língua da Mesopotâmia entre o ano 3000 AEC até 100 EC, tendo se dividido em acadiano assírio e acadiano babilônio em torno do ano 2000 AEC. O aramaico original (não o atual com alfabeto hebraico vogalizado do ano 1000 EC) começou a ser utilizado em torno de 600 AEC e foi assumindo o lugar do acadiano, principalmente no Oriente Médio, nos reinos de Judah e Israel.

Portanto, Abrão, quando saiu da Cidade dos Caldeus (Ur Kasdim) falava acadiano, assim como seus descendentes até o período da escravidão no Egito quando os escravos hebreus certamente adoram a língua local, com a qual depois passaram os 40 anos no deserto após receber as leis de YHWH. Ano 600 AEC é o final do período do Primeiro Templo de Jerusalém cujo nome era Casa de YHWH.

A importância da tradução do acadiano é existirem já no projeto SEAL-Sources of Early Akkadian Literature (Fontes Antigas da Literatura Akadiana), na Universidade Hebraica de Jerusalém, em torno de 80.000 textos a serem traduzidos, sejam em imagens de tabletes armazenados em outras universidades ou museus, seja em tabletes de argila originais oriundos de trabalhos arqueológicos.

É a mais antiga biblioteca do mundo. Todos hão de convir que a produção escrita da Mesopotâmia era enorme, que eles jamais esperariam que seus pedaços de lama riscados com gravetos e estiletes de pedra ainda existissem 5.000 anos depois e que alguém ia conseguir ler. Escreveram para eles e não para nós.

A primeira impressão é: “Uau, vamos saber o que eles faziam e o que pensavam.” A primeira consideração é: “Apesar do avanço tecnológico fantástico desejamos mesmo ler o que eles escreveram?” Me atrevo a dizer que não, não queremos saber o que eles escreveram.

A justificativa é simples: pode haver um desmonte dos textos monoteístas, principalmente do Pentateuco, ao se constatar que várias partes dele foram escritas lá atrás, por assírios, babilônios e quiçá anunakis. Um dos melhores exemplos é o Épico de Atrahasis da primeira dinastia do Reino da Babilônia, do rei Ammi-saduqqa (1646–1626 AEC): é a versão do Dilúvio Universal deles, com vários pontos comuns com a nossa e muitas diferenças fundamentais.

Resumo do Épico de Atrahasis, cuja parte é a imagem deste post: Uma grande enchente foi enviada pelos deuses para destruir a vida humana. Apenas um bom homem Atrahasis (cujo nome significa ‘extremamente sábio’) foi avisado da devastação iminentes pelo deu Enki, que o instruiu a construir uma arca para salvar a si mesmo. Atrahasis atendeu as palavras do deus, e colocou dois de cada espécie de animais dentro da arca e assim preservou da vida na Terra. Isso foi escrito em torno do ano 1650 AEC e é quase uma cópia do texto sumério anterior, o Épico de Gilgamesh datado de 2150 AEC (meio milênio antes). A data para o nascimento de Abrão é aceita como 1812 AEC, portanto, na Suméria. Evidentemente a história de Noé no Gênesis é a terceira versão desta lenda, mito, ou relato de tradição oral oriundo da Mesopotâmia.

Os textos são basicamente éditos, poemas, lendas, estórias sobre demônios, fórmulas mágicas, misticismo. Não havia uma produção do que poderíamos denominar “história”. De fato na antiguidade, lendas, mitos e revelações chegaram aos dias de hoje consideradas como “história”, especialmente pelos homens e mulheres de fé.

Sim, tudo será traduzido, livros e mais livros serão publicados, dificilmente serão comprados e lidos por pessoas fora do meio acadêmico e serão absolutamente desprezados pelas religiões monoteístas formais, tais como os Manuscritos do Mar Morto, que não são alguns e sim centenas, todos já traduzidos para a linguagem atual, estudados e desprezados.

Só como exemplo, o Livro do Profeta Isaias do século 1 AEC, do qual se encontrou um rolo inteiro de pergaminho com sete metros de comprimento, contendo todo o texto, tem meramente 2.600 diferenças em relação ao texto contemporâneo que está no cânone judaico, datado do século 10 EC. Portanto, todos preferem achar muito interessante, mas é melhor não saber do que se trata.

Os textos da literatura acadiana que conflitarem os textos judaicos, cristãos e muçulmanos serão traduzidos, estudados e guardados no fundo da gaveta de baixo.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.