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Bibi deu a Smotrich autoridade total e final para expandir as colônias israelenses e cidades na Judeia e Samaria como ele quiser

Equivale a dar um caminhão de querosene para um piromaníaco. E com isso, as dezenas de milhares de israelenses que foram às ruas protestar contra o governo pelo 24º sábado a noite seguido ganharam uma nova pauta para o 25º.

Enquanto não é posta na linha de frente a votação da Reforma Judicial no Knesset, vale a regra atual. E na semana passada o governo sofreu uma derrota inimaginável na escolha, pelo voto, de um representante para a vaga que existia no painel que escolherá o próximo juiz da Suprema corte. Tendo 64 cadeiras na Coalização o governo só obteve 54 votos e a oposição 58. Entendeu? A oposição ficou com a vaga no painel de escolha.

A palavra mais moderada usada entre os membros da coalização foi: traidores. Pelo menos 4 parlamentares do Likud não votaram a favor do seu próprio governo. A resposta de Bibi veio hoje, anunciando que vai retomar a colocação das leis que promoverão a Reforma Judicial a começar por uma que não permita a Suprema Corte é decidir sobre a razoabilidade das decisões do governo, mas só daqui a seis semanas quando acontecerão os 31os protestos.

A mudança no comitê de seleção judicial está prevista (hoje) apenas para outubro, mantendo o clima de insatisfação e completa indefinição das ruas de Israel.

No domingo a Suprema Corte interpelou o governo, oficialmente, impedindo a implementação da lei proposta por Ben Gvir e aprovada pelo Knesset, dando a ele mesmo poderes sem precedentes sobre a polícia.

A impressão é de que Netanyahu decidiu chutar o balde nesta segunda feira. A definição dada a Smotrich é de que depende apenas dele as autorizações para ampliações das estruturas de residências judaicas na Judeia e Samaria, não sendo mais necessário o parecer e anuência do setor militar, da segurança ou de quem quer que seja. Em tese, isso permitira a Smotrich utilizar terrenos fora da Area C, o que vai gerar imediatamente conflito com os palestinos o que sempre fez parte da agenda de Smotrich e dos kahanistas: aumentar o conflito.

Depois de Israel precisar usar um helicóptero Apache bombardeando posições do Jihad Islâmico em Jenin para retirar seus soldados de lá, o Smotrich passou a exigir que o IDF vá para lá com tanques de guerra. O que era para ser uma operação de busca e prisão de dois suspeitos começou com uma emboscada contra um veículo do IDF e uma batalha. Parece que o IDF ainda não compreendeu que a Jihad Islâmica não é a OLP: é muito mais capacitada taticamente.

O segundo chute no balde foi o primeiro-ministro dizer no Knesset e ser publicado em todas a mídias em Israel que o IDF está treinando dez divisões para “combater os quinta colunas árabes-israelenses em caso de guerra”. Eu se fosse árabe-israelense já estaria nas ruas protestando hoje a noite. Não se sabe se a informação dada por Bibi é verdadeira. Se for, é algo a ser tratado com sigilo militar e não divulgado para mídia. Não se sabe o que isso pode causar na sociedade israelense já abertamente fragmentada.

O Shas e o Otzma Yehudi, de Ben Gvir, estão se pegando mesmo devido a escolha do próximo rabino chefe sefaradi de Israel. Por enquanto a preferência está com Meir Kahana (com A no final), do Otzma Yehudi o que vai romper com o feudo da família Yossef e de outros rabinos nascidos em países árabes. Calma, ele não é descendente do Meir Kahane (com E no final), mas o nome foi-lhe dado exatamente por isso. Ele é razoavelmente jovem e considerado menos linha dura que o atual.

Certamente em Teerã e no Vale de Bekaa tomaram umas águas minerais geladinhas para comemorar.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: ilustrativa, praça e frente do Knesset em Jerusalém – Google Earth

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.