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Os alvos do programa nuclear iraniano

O ataque de Israel contra o Irã está mais perto de acontecer do que de não acontecer. Para quem advoga que Israel deve eliminar o programa nuclear iraniano, das 150 instalações conhecidas, estas são as mais importantes para evitar que o Irã consiga produzir e armazenar o urânio enriquecido em grau militar. É fácil ver como o Irã espalhou as instalações, o que deve dificultar também para eles a defesa delas. Será que todas possuem defesas antiaéreas? Provavelmente não. Porque precisam de defesas também as instalações militares, os depósitos de mísseis, os campos de petróleo, as refinarias, o sistema de eletricidade do país, e locais específicos do governo. Ou seja, precisa de muitas defesas antiaéreas. Ou contrário do cenário em Israel onde os mísseis vem sempre das mesmas direções, os aviões israelenses podem atacar vindos de qualquer direção.

Aliás existem analistas afirmando que é possível que Israel apenas destrua todas as unidades de radar e controle dos mísseis antiaéreos que estão no Irã e isso seja o ataque. Seria uma missão perfeita para os F-35i. Em vermelho à direita, Natanz (também na foto principal do post), uma instalação isolada, em um vale entre montanhas. Alvo apenas militar. Possui cerca de 4.000, das pouco mais de 6.000 centrífugas que o Irã opera. Existem três edifícios subterrâneos lá. Um alvo precioso, se o serviço de informações militares das FDI souber a localização, é a instalação onde fica armazenado o urânio enriquecido. Um bom impacto ali, destrói duas décadas de trabalho. Será que guardam em Natanz mesmo?

Pelas informações públicas, o Irã possui pouco mais de 142 kg de urânio enriquecido a 60% e não possui urânio enriquecido a 90%, que é o grau militar. Também segundo dados públicos, com 42 kg de urânio 235 a 60% é possível (usando as centrífugas é claro) obter a quantidade necessária de U235 a 90% para construir uma bomba atômica pequena. O processo de centrifugação não é grama a grama, mas átomo a átomo. Apesar da velocidade fenomenal de uma centrífuga de 1.500 rotações por SEGUNDO, os átomos são capturados lentamente. Não é um moedor de café. Pelo Acordo Nuclear de 2015, o Irã se comprometeu a enriquecer apenas até 3,67%, o necessário para o reator nuclear. Mas nunca respeitaram acordo nenhum, nem vão respeitar.

Portanto, destruir estes 142 kg de U235 60% seria o golpe mais efetivo contra o programa nuclear iraniano.

Um de nossos leitores perguntou se Israel seria capaz de atacar o projeto nuclear, ar refinarias, o sistema de distribuição elétrica e os pontos principais de abastecimento dos petroleiros. Bem, se Israel utilizasse 150 aviões, como no primeiro grande ataque ao Líbano, a resposta seria sim. Mas os aviões precisam ser reabastecidos no ar na ida e na volta e provavelmente não há aviões de reabastecimento suficientes. Mas nada impede que sejam usados reabastecedores dos EUA, Inglaterra e talvez outros países. (OBS: este texto foi escrito originalmente no dia 6/out; no dia 7/out quatro aviões de reabastecimento aéreo americanos foram transferidos da base deles na Inglaterra, para uma base aérea em Israel).

O que mudou de 2008 para 2024?

Em 2008 eu estava em Israel no dia das eleições. A principal propaganda era: “Quem você prefere para liderar Israel numa guerra contra o Irã? O Bibi ou a Tzipi (Livni)?” A população escolheu o Bibi e a guerra contra o Irã já começou. Assisti uma aula muito boa sobre a história do antissemitismo. O professor era um major da força aérea e fui conversar com ele.

Perguntei se a FAI podia destruir o programa nuclear iraniano. Ele disse que sim, mas que o problema era a previsão da perda de metade da força de ataque. Acrescentou que mesmo sabendo disso todos os pilotos da ativa tinham se voluntariado. Conversamos mais sobre drones e novos aviões. A visão dele era muito objetiva: quanto mais se adiasse, maior seria a tecnologia disponível para Israel.

Bem, em 2008, não tinha o F-35i, os F-15 ainda não tinham os sistemas que possuem hoje, não havia drones de ataque de longa distância, ainda existia a força aérea da Síria, não havia possibilidade dos aviões de Israel passarem sobre a Jordânia e sobre a Arábia Saudita. Hoje o quadro mudou e os F-35i passam sobre a Síria, indo e vindo e ninguém percebe. Já realizaram vários ataques junto à fronteira entre Síria e Irã. O reabastecimento pode ser feito sobre a Jordânia ou sobre a Arábia Saudita. Portanto não há impedimento no ar nem missões suicidas a taxa de 50%.

opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.