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Bibi diz que vai arquivar a reforma judicial

A declaração do primeiro-ministro de Israel foi dada neste domingo, dia 6/ago/2023 em entrevista ao canal de TV Bloomberg. Novamente, Netanyahu diz em inglês o que as pessoas que pretendem que a diversidade em Israel prevaleça, o que elas querem ouvir. O curioso é ele saber, é claro, que as entrevistas levadas ao ar em emissoras globais sediadas nos Estados Unidos, são exatamente isso: globais. Passam e são assistidas em todos os países, inclusive em Israel.

Ele não fala para o investidor norte-americano através da Bloomberg, e sim para todos. Pegando o gancho do blog do Ronaldo desta semana, precisamos questionar se isso é verdade ou se faz parte do malabarismo do único político de ponta portador de marcapasso.

Literalmente, Bibi afirmou que vai levar em frente as mudanças na configuração do Comitê de Seleção para os juízes da Suprema Corte e em seguida arquivar todas as outras medidas da reforma judicial. Vários juristas que estudaram e criaram a legislação da reforma já haviam pedido para ele arquivar e não ir adiante. Seria de bom senso atender os pais do texto.

A notícia seria ótima, senão tivessem existido momentos semelhantes nos últimos meses, com situações mudando de uma hora para outra. Bastam os ortodoxos da coalização declararem que não votarão mais com o Likud que Bibi poderá inverter, novamente, sua decisão. Aliás, decidir e voltar atrás e depois ir a frente novamente, para voltar atrás, tem sido a tônica dos últimos meses, mostrando que a maioria do Knesset está refém da minoria do Knesset aliada. Não são reféns da oposição, e sim de seus próprios acordos.

Sempre precisamos lembrar que o governo anterior (cujos parlamentares hoje estão na oposição), não foi derrubado nem pelo Likud, nem pelos partidos ortodoxos, mas por uma médica árabe-israelense cristã, parlamentar pelo Meretz (partido hoje fora do parlamento). O Meretz sempre foi oposição militando ativamente para minar e derrubar o governo, sem sucesso. Quando fazia parte do governo, finalmente pôde exercer a definição original de seus membros. A situação dar um tiro no pé e perder o governo é algo daquelas coisas que só acontecem em Israel.

Sempre precisamos lembrar que qualquer protesto de rua, violência, intimidação ou seja lá o que for, relacionado a mudanças no Comitê de Seleção dos juízes é de uma burrice extremada, pois o governo atual, se conseguir se manter, terá o direito de indicar apenas dois novos juízes substituindo os que se aposentam ao longo dos próximos dois anos, em um tribunal de quinze. Portanto absolutamente nada mudará das decisões por maioria da Suprema Corte e criar o caos nas ruas, que nestes dias entra pela trigésima segunda semana, é uma ação idiota, irrelevante, contraproducente e já sem uma pauta efetiva.

Ainda assim, muitas pessoas inclusive a chefia da polícia e o presidente de Israel saúdam a conflagração social ainda não violenta como “exemplo de democracia”. Mas vamos imaginar o seguinte: se cada parcela das populações mundiais peitar as decisões aprovadas pelo voto livre e democrático dos parlamentos democraticamente e livremente eleitos, por não concordarem com as leis, por não gostarem das leis, por não “acharem” que as leis são corretas, ou simplesmente por serem contra os governos, não é apenas a Democracia que terminada, mas a própria sociedade.

Democracia é um regime onde você é obrigado a ouvir o que não lhe agrada.

Democracia é um regime onde a minoria perdedora nas eleições sempre se sujeitou as leis que a maioria vencedora vai criar e a discussão é realizada pelos parlamentares eleitos, dentro do parlamento, a casa de “parlar”, de falar absolutamente livremente sem receio, e não nas ruas.

31 semanas de protestos e ninguém morreu. Está ótimo, por enquanto.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: Miri Regev, ministra dos transportes, Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro e Bezalel Smotrich, ministro das finanças, foto de Haim Zach / GPO 31/jul/2023

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.