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CNN mostra especial sobre o “aumento do antissemitismo” nos EUA e os judeus acreditam ser verdade

A mídia pode fazer um papel perverso. Chama-se violência publicada, versus violência verdadeira. Basta massificar um tema relacionado à violência a o público engole, aceita e propaga. É exatamente isto que a CNN acabou de fazer publicando “Rising Hate: Antisemitism in America,” (Ódio Aumentando: Antissemitismo na América). Parece até uma ação orquestrada com a esquerda judaica realizando um evento em São Paulo denominado perniciosamente “O aumento do antissemitismo DO governo Bolsonaro”, e não, como seria gramaticalmente correto, NO governo Bolsonaro. Ou seja, o título já acusa o presidente amigo de Israel de ser o causador do antissemitismo no Brasil, como projeto de governo.

Curiosamente, a CNN que é ligada ao partido Democrata nos EUA não teve como determinar que o presidente Biden é o culpado pelo aumento do antissemitismo lá, então culpou Trump, o ex-presidente, também amigo de Israel, criador e implementador dos Acordos de Abraão.

“Rising Hate” utiliza os ataques fatais e uma meia dúzia de outras agressões, todas ocorridas na gestão de Biden para mostrar como o antissemitismo aumentou nos EUA. De fato, o documentário aborda menos de 12 incidentes. Uma das entrevistas é com uma mãe judia que passou a ter medo, por sua filha querer ganhar um colarzinho com um pingente de estrela de David. Cá pra nós, é muita picaretagem midiática.

O que a CNN decidiu não mostrar em Rising Hate é que praticamente todas as agressões sofridas por judeus nas ruas da cidade de Nova Iorque e nas cidades e bairros vizinhos, foram ataques cometidos por negros. Isso não é maluquice. Basta ver as imagens das câmeras de segurança. No governo Trump a polícia de Nova Iorque fez um esforço e enorme para acabar com o “jogo” de jovens negros chamado “Punch-a-Jew”, soque um judeu. As agressões precisavam ser feitas onde existissem câmeras de segurança, para haver comprovação e o autor “marcar pontos”. Metaverso, que nada. Punch-a-Jew era a brincadeira de rua. E muitos dos judeus ortodoxos foram severamente feridos, pois o golpe foi desferido com soco inglês, portanto, com arma.

É muito estranho que setores da comunidade negra nos EUA ataquem os judeus, quando os negros são as maiores vítimas de crimes de ódio nos EUA, nenhum deles (que se saiba) cometido por judeus. Será que é mais fácil darem um murro num judeu barbudo com vestes ortodoxas nas rua que num sujeito com uma camiseta do “White Power”? Claro que é.

Existem vídeos de entrevistas de rua com negros de Nova Iorque questionados sobre as agressões aos judeus e muitos concordam! Não são negros de matriz africana, mas protestantes e batistas. As falas são a do antissemitismo clássico: os judeus ocuparam todos os empregos na cidade; os judeus não trabalham; os judeus são os patrões; os judeus dominam os negócios; os judeus são os senhorios; então, nada contra serem espancados pelos ativistas.

Na foto deste post temos uma situação que não entra na estítica do FBI. Duas moças brancas que não são supremacistas, não são nazistas, e sim batistas, estão defronte a uma instituição judaica utilizando seu direito inalienável total de expressão. Dois policias estão de olho. Mas elas não serão violentas. O ataque contra os judeu é a presença delas lá. “Jewskilledjesus.com”, inimaginável em 2022, um projeto da igreja batista norte-americana destinado a culpar coletivamente os judeus pela morte de Jesus. Nos cartazes: “Os Estados Unidos estão Condenados”; “Deus Odeia Israel”; “Deus Odeia os Judeus”; “Reze pelos seus pecados”; e “Os Homossexuais São Bestas (animais)”. Não se preocupe, pois isso a CNN não mostra. Esse é o discurso radical batista nos EUA tanto para brancos quanto para negros.

Dos ataques fatais à sinagogas e ortodoxos judeus, citados pela CNN, os autores foram muçulmanos e negros. Aí, a culpa é do Trump, é mais fácil inventar, e aí é fake news consistente, pois se trata de uma empresa all-news publicando, que os ataques aos judeus, nos quais vemos os autores em vídeo, vemos as fotos e os nomes deles publicados pela polícia, foram realizados pelos supremacistas brancos que invadiram a Casa Branca. É muito bizarro isto.

Mas o que a CNN e a imensa maioria dos judeus norte-americanos deixam de lado é que o FBI emite um relatório anual sobre o antissemitismo nos EUA. É um absurdo a CNN por no ar um especial, sem citar isso, e sem trazer uma fala oficial do FBI. Mas tem explicação. Fizesse isso, a narrativa do “aumento do ódio”, seria impossível.

O relatório existe há 30 anos. O número de incidentes antissemitas listados e tipificados é em média de 1.800 por ano. E aí, a CNN fala em 12 e todo mundo se assusta. Segundo a ADL – Liga Anti-Difamação da Bnai Brith EUA, que divulga o relatório do FBI (que é público e vc mesmo pode baixar no link deste artigo), para cada incidentes onde existiu queixa à polícia (são os que foram parar no relatório do FBI), existam quatro onde as vítimas decidiram não prestar queixa. Isto é, 7.200 incidentes antissemitas em média, nos EUA por ano. E todos se assustam pela CNN falar em 12.

De fato, os ataques contra judeus vêm CAINDO desde 2019, quando foram 953, contra 676 em 2020. É uma queda expressiva de 30%. Se o FBI diz que está caindo e a CNN afirma que está aumentando, é mais uma comprovação de fake news absurda. Por outro lado, a queda foi atribuída ao isolamento das pessoas devido à pandemia.

Os dados do FBI para 2020 são 7.759 crimes de ódio nos EUA: 2.755 contra negros, 676 contra judeus, 274 contra asiáticos e 110 contra muçulmanos

Fossemos contar apenas os oficialmente contabilizados, chegaríamos ao número inimaginável de 54.000 incidentes antissemitas em 30 anos nos EUA, podendo chegarem a 216.000, segundo a ADL. E não se trata de postagens ou comentários, com a quase totalidade dos pouquíssimos incidentes no Brasil. A ADL coleta dados e emite o relatório dela há 43 anos.

Lá nos EUA são espancamentos, assassinatos, ataques contra sinagogas e instituições judaicas, ameaças, intimidação na rua, vandalismo contra cemitérios, portas de residências e casas de judeus. E isso nada tem a ver com o presidente ou o partido que está no governo.

Talvez seja necessária uma avaliação psicológica dos judeus norte-americanos por acreditarem que 12 é maior que 1.800. Mas o maior problema é que nós, judeus que damos uma lida nos relatórios oficiais, só lemos sobre nós. Há um relatório para cada uma de 14 vertentes religiosas tipificadas pelo governo dos EUA.

A melhor forma para entender os crimes de ódio os EUA é pesquisar no FBI, de forma absolutamente aberta por https://crime-data-explorer.fr.cloud.gov/pages/explorer/crime/hate-crime

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.