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Comparar a situação atual com a Alemanha Nazista é minimização do problema – entenda

Um professor judeu nos EUA impedido, pela segurança da universidade, de entrar, disse: Estamos em 1938.

Errado. Erradíssimo. Também o professor de economia judeu desconhece história, como normal na sociedade americana. Os judeus começaram a ser impedidos de frequentar universidades na Alemanha em 21/abril/1933, e não 1938.

Comparar a situação atual com a Alemanha Nazista, além de errado, MINIMIZA o que está havendo. Vou tentar explicar.

Na Alemanha Nazista o antissemitismo era política de estado e não um movimento espontâneo de segmentos intelectuais da sociedade americana.

Na Alemanha Nazista os judeus não eram hostilizados nas ruas por seus vizinhos nem nas universidades por seus colegas (o banimento de abril de 1933 foi gradual, limitando o número, não uma expulsão total, e em 1936 foi expandido para no máximo 1,5% dos alunos). Existiram agressões fortuitas, isolados e violentas a partir de 1933? Sim. Mas nunca deixaram de existir nos 100 anos anteriores, como o antissemitismo pesadíssimo nunca parou de ser publicado em livros e jornais na Alemanha, Áustria e França ao longo de todo o século 19 e primeiras décadas do século 20. Até “partido antissemita” disputava eleições na França.

Afirmar que a partir de 1933 um punhado de judeus foi espancado na Alemanha Nazista é um recorte ruim e tendencioso, fazendo parecer que não acontecia antes de Hitler sequer ter nascido e que não acontece constantemente nos últimos 50 anos.

O boicote aos negócios judaicos ocorreu durante UM SÓ DIA, primeiro de abril de 1933, antes de Hitler chegar ao poder supremo, quando ainda era chanceler e o Reishshtag, o parlamento, existia normalmente. O boicote foi combatido, levemente pela polícia. O BDS (boicote, sanções e desinvestimento em Israel) está aí há anos, nas democracias, aglutinando muitos judeus de esquerda na causa, inclusive cidadãos israelenses dentro e fora de Israel que consideram liberdade de expressão conclamar o boicote a seu próprio país.

Quando era exercida alguma pressão mais volumosa na Alemanha Nazista, eram utilizadas as tropas da SA, camisas marrons, recrutados e assalariados entre a escória da sociedade alemã. Nas universidades americanas, pelo custo das anuidades, está a nata econômica da sociedade americana.

Tudo que aconteceu na Alemanha Nazista foi juridicamente legal, através de leis promulgadas (mais de 200 contra os judeus). O que vemos nos EUA, fora das universidades, mas principalmente dentro, é parcialmente juridicamente legal no aspecto de liberdade de expressão, e descamba para a ilegalidade no caso de bloqueios, intimidação, agressão e depredação. Principalmente a intimidação: “não vai passar daqui senão toma porrada”.

O que aconteceu na Alemanha Nazista foi num regime ditatorial. Nos EUA acontece numa democracia plena.

Portanto, a situação hoje nas universidades norte americanas não é nem igual, nem similar ao nazismo da década de 1930: é pior e mais grave, pois o Estado Democrático está falhando em garantir os direitos e segurança de parte de seus cidadãos em detrimento de outros.

JUDEUS IMPEDIDOS DE ENTRAR OU PASSAR

Existem três casos bem explorados nas mídias sociais. Hoje dia 29/abr, um vídeo mostra um aluno judeu com um colar com magen David por fora da camisa, sendo impedido de passar por um alambrado de controle de entrada na universidade onde estuda. No controle está um segurança fardado. Aparentemente o sujeito tem ordem de não fazer absolutamente nada nestes casos. Existe direito de impedir a entrada de algum aluno na universidade? Não, não existe e o segurança na entrada DEVERIA TER O DEVER PROFISSIONAL de garantir o direito de quem quer entrar. Mas está ali garantindo o direito, inicialmente de três moças travestidas de palestinas e depois de mais uns cinco rapazes que vem garantir que o judeu não entre. Aí você precisa perguntar: por que o rapaz judeu não continuou andando e empurrou as moças em seu frente? Ele tem um bom físico. É forte. Simples, o segurança o teria detido por ter “agredido” as moças.

Duas mocinhas e um rapaz bloqueiam a entrada de aluno judeu. A mão à esquerda é do segurança armado da universidade que permite a intimidação.

Dias atrás um jovem judeu de terno e kipá, foi impedido de atravessar uma rua em Londres onde havia uma manifestação pró-Hamas em andamento. É só verificar a foto principal do post. O policial teria dito a ele que estava parecendo judeu demais para entrar ali e o sujeito se emputeceu, chamou o policial de racista e o caso tomou proporções maiores do que deveria. A intenção do policial era impedir que um judeu entrasse numa área de risco de uma manifestação contra os judeus. Estava querendo proteger a integridade do judeu. Mas tem muita gente burra achando que pode e deve se colocar em risco indo sozinha contra uma manifestação de gente inimiga. Quem sabe para arrumar uns likes no Instagram. Você não acha curioso que havia uma boa filmagem em bom ângulo desta interpelação?

Alias, observando atentamente os vídeos das manifestações, da polícia prendendo manifestantes nos EUA e dos três incidentes citados neste artigo, observa-se sempre umas 30 pessoas gravando com celular, pelo menos 5 ou 6 câmeras de vídeo profissionais, além de uns 30 ou 40 fotógrafos com câmeras profissionais no local: são eventos e momentos de mídia.

Já nos EUA, antes disso, um professor judeu foi igualmente impedido de acessar uma área da universidade onde acontecia uma manifestação pró-Hamas. A segurança da instituição também agiu na intenção de preservar o professor fisicamente, mas como no caso do inglês, o interesse dos dois foi forjar um atrito antissemita. Há diversos outros casos parecidos desde o início da Guerra de Gaza é isso é um erro, que não poderia estar sendo repetido. Aconteceu no Centro de Porto Alegre, com um rapaz se dizendo judeu e confrontando manifestantes de esquerda. Tomou uns cacetes, viralizou, teve dezenas de milhares de views e ninguém da comunidade judaica do Rio Grande do Sul jamais, o tinha visto. Ou seja, estava se passando por judeu para construir um factoide no Instagram, no X e no Tik Tok.

Professor de Economia na Universidade de Columbia, Shai Davedai (israelense) bate boca com segurança da universidade que o impede de entrar. As câmeras falam por elas mesmas.

Por José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.