Dois Gagas in Rio
A primeira é uma lady que não é gaga, e pouco importa para quem não é fã.
O segundo é um ministro gagá. Mais exatamente, Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia. Veio para o Encontro dos Chanceleres do Brics. O gagá e a gaga chegaram no mesmo dia.
Antes de embarcar para o Rio, Lavrov deu uma declaração dos termos de paz que a Rússia propôs à Ucrânia. E dizem as línguas cabeludas que as re-negociações do acordo nuclear entre EUA e Irã existem para não dar resultado. E estas aqui? Seriam possíveis?
Constate a bizarrice dos termos russos:
1) A Ucrânia não pode se filiar à OTAN e TEM QUE SER “desmilitarizada” e “desnazificada”.
Obs: 3 anos após o início da guerra, o governo russo mantém que o regime político ucraniano é nazista, presidido por um judeu, que segundo o Kremlin, é apenas um “palhaço nazista” e não um político. Palhaço no sentido profissional, pois Zelenskyy era humorista. Portanto, 1/3 da demanda russa só neste item (1) não pode ser realizado, pois simplesmente não existe. Hoje mesmo, terça-feira, 29/abr/2025, o chefe do comando militar da Coreia do Norte comemorou a vitória de suas tropas sobre os nazistas em Kursk!!! É preciso que o leitor saiba (dito isso por fugitivos da Coreia do Norte), que o povo lá é ensinado desde os primeiros anos de escola, que a Segunda Guerra Mundial não terminou, que a Coreia do Norte é um oásis de prosperidade num mundo em guerra permanente, e portanto, sua população vai acreditar que estão combatendo nazistas na Ucrânia em 2025.
Obs 2: Como a Rússia pode exigir que um país como a Ucrânia se desarme e desmonte suas forças armadas? É diferente da questão com o Hamas, onde o Hamas é um grupo dentro de uma população e não um país – usa suas armas para dominar seu povo e não para expulsar os judeus de Israel. O leitor precisa lembrar que a Ucrânia abriu mão de todo seu arsenal nuclear colocado lá pela União Soviética, em troca de um tratado de não agressão, assinado por Boris Iéltsin, em 5/dez/1994. Garantiam a não agressão, os EUA, Inglaterra, França, China e Rússia. Funcionou por 28 anos. Aí a Rússia rasga o tratado e invade a Ucrânia, se julgando no direito inalienável de conquistar o país. Mas nunca acuse Putin de imperialista, senão os marxistas vão ficar injuriados. É preciso ficar muito esclarecido o que a Ucrânia entregou para a Rússia, em troca de uma paz duradoura em 1994: 1.900 ogivas nucleares estratégicas, 175 mísseis balísticos intercontinentais e 44 bombardeiros estratégicos. Era o terceiro maior arsenal nuclear do mundo, à frente da China! Entregou e se ferrou. A Ucrânia já assinou um acordo destes com a Rússia e o resultado foi ser invadida, três anos de guerra, 1,5 milhões de mortos (estimativa mais coerente).
2) Anexação pela Rússia da Crimeia, das zonas ocupadas atuais DPR e LPR, mas também exige controle sobre duas das mais importantes regiões ucranianas, uma que não ocupou, Zaporizhia (e suas represas), e outra que ocupou, mas de onde fugiu, retirando suas tropas, Khershon.
OBS: a Rússia quer manter o que controla e quer controlar o que não mantém??? É uma proposta tão estúpida que nem pode ser levada em consideração.
3) Retirada de todas as sanções internacionais e retorno imediato de todos os recursos financeiros que estão congelados.
4) A Rússia rejeita a transferência do controle da usina nuclear de Zaporizhia para os EUA e Kiev. OBS: a usina não fica na região geográfica de mesmo nome e se encontra em território ocupado militarmente pela Rússia. Usina e região ficam afastadas por 350 km. Sabe-se que há anos, os russos estão controlando a usina, desligaram 3 dos 4 reatores, por não terem reservas de água para usar na refrigeração e nas turbinas a vapor de geração elétrica, pois explodiram a represa rio abaixo e, com isso, o lago do rio Dnieper, que abastecia a usina, deixou de existir, bem como todas as possibilidades de irrigação pela margem norte (Ucrânia) e pela margem sul (DPR, região ocupada pela Rússia).
5) Anulação das leis ucranianas que restringem o uso da língua russa, da cultura russa e da Igreja Ortodoxa Russa na Ucrânia.
Por José Roitberg – jornalista e pesquisador
Imagem: Sergei Lavrov e Mauro Vieira se encontram no Palácio Itamaraty do Rio de Janeiro. Apesar de aparecer nesta imagem, Lady Gaga não foi convidada.