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Entenda como o míssil houti atingiu Tel Aviv

É um fato: os houtis são mais eficientes que o Hamas, que o Hezbollah, que as milícias xiitas no Iraque e que o Irã. Conseguiram abrir um buraquinho desprezível na área infantil de um parque na área sul de Tel Aviv. Foto acima.

Mas é um fato, incontestável que o míssil não foi abatido e vamos explicar o que aconteceu.

Não era um míssil qualquer dos já utilizados cuja trajetória parabólica alta o leva a altitudes entre 30.000 e 40.000 metros antes dele despencar sobre o alvo. Foi um míssil hipersônico de trajetória elíptica baixa se deslocando, talvez acima de 10.000 km/h, levando cerca de 11 minutos entre o lançamento a 1.800 km de distância e o impacto.

O Irã, 3 meses atrás, tinha afirmado, internacionalmente, que não possuía mísseis hipersônicos. Apenas mais uma mentira. E este não era também um míssil hipersônico “normal”, que poderia ser considerado como de primeira geração, cujo emprego foi iniciado a menos de um ano atrás num ataque russo contra a Ucrânia e desde então se tornou comum. O míssil utilizado pelos houtis era de segunda geração, com ogiva manobrável, projetada para se desviar os mísseis antiaéreos e funcionou perfeitamente.

Passando o vídeo do ataque em câmera muito lenta é possível ver que a ogiva vem movida a foguete e não está apenas em queda, que ela muda de direção ao “perceber” o primeiro interceptador que explode já depois de ter sido ultrapassado em cerca de 1 km, e a ogiva novamente manobra para evitar o segundo interceptador que explode no momento exato, mas a ogiva se encontrava centenas de metros afastada na lateral. Ambas explosões foram acionadas pelo comando antiaéreo, pois o David Sling é um míssil de ogiva cinética, destrói pelo impacto. Como errou o alvo, o comando autodestruiu os mísseis. Cada um custava 700 mil dólares. É exatamente isso que se imaginava uma ogiva hipersônica manobrável poder fazer. Israel não revelou quais eram os mísseis interceptadores, mas provavelmente eram “David Sling” (Funda de David – do Rei David, Golias etc).

Dizem, e concordamos que isso não deverá acontecer novamente pois seria necessária uma correção de parâmetros de software. Apenas isso. Vamos ver, ou pagar para ver. Sabemos que o software do Domo de Ferro foi corrigido por diversas vezes ao longo de sua história operacional.

Colocamos novamente a foto em tamanho grande para o leitor verificar como o dano causado pelo ataque houti foi pequeno: um buraco e alguns galhos de árvores.

Os dados conhecidos do míssil iraniano Fatah-1 indicam uma ogiva de 350 a 450 km e um alcance de 1.400 km, Isso permite atingir Israel a partir do oeste do Irã, mas não a partir do Iêmen. Portanto a avaliação mais simples é terem removido 200 kg da ogiva e com isso conseguido um alcance maior. Aumentar a carga de combustível sólido de um míssil, não é algo que se faça ou seja imediatamente possível de ser feito. Existe ainda o Fatah-2 que seria um hipersônico de trajetória muito alta, com ogiva de reentrada manobrável com o motor à hidrazina, cujo alcance seria de 1.500 km. É óbvio que os engenheiros e cientistas militares iranianos vão trabalhar para aumentar o alcance destes mísseis mantendo as ogivas originais.

Mas existe algo que não está certo nesta história. Constatado pelas mídias sociais que a ogiva atingiu Tel Aviv, os houtis deveriam ter disparado todos os mísseis iguais que tivessem, num momento em que Israel estava vulnerável. Não o fizeram é justa a pergunta: será que só tinham um? É muito provável que nunca mais consigam repetir e mesmo que o façam os danos são muito pequenos. Os 16 feridos foram nas imediações, por estilhaços de vidros de janelas quebrados com o explosão.

Por José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.