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Entenda o que aconteceu no Daguestão – tem muita informação errada por aí

Alguém viu no Fligth Radar na internet que tinha um voo da Red Wings (empresa russa) de Tel Aviv pra capital do Daguestão, território da Rússia de Putin (avião branco e vermelho). Publicou a imagem abaixo no Telegram com uma fake news de que os judeus estavam indo para o Daguestão. Isto viralizou lá como um incêndio numa floresta seca. A sabe, o último dado existente sobre a população judaica do Daguestão é do censo de 2002, onde foram contados 3.400 judeus. A imensa maioria das famílias de lá se origina do Império Persa ou ainda de antes, quando Ciro o Grande libertou os judeus forçados a irem para a Babilônia por Nabucodonosor, na época em que os Primeiro Templo de Jerusalém foi destruído e os Filisteus restantes foram dizimados pelas tropas imperiais. Portanto, os judeus estão no Daguestão e em todo o Cáucaso desde 2.300 a 2.500 anos atrás, dependendo da família

Mobilizaram-se várias centenas de homens jovens muçulmanos, com meia dúzia de bandeiras da palestina para caçar os judeus que iam chegar no avião.

Do lado de fora do aeroporto atacaram o policiamento normal foi totalmente subjugado e os manifestantes muçulmanos passaram a interceptar todos os veículos que entravam e saiam do aeroporto a procura de judeus. Vários cidadãos de outros países, como do Uzbequistão foram confundidos com judeus até provarem que não eram. Foram hostilizados, ameaçados, mas não agredidos.

Turba muçulmana caçando judeus dentro do aeroporto invadido da capital do Daguestão

Invadiram o aeroporto, inclusive as áreas proibidas internas derrubando portas caçando judeus. O policiamento do aeroporto nada conseguiu fazer.

Quando o avião da Red Wings aterrissou os passageiros tentaram iniciar o desembarque na pista, mas a área de estacionamento das aeronaves já tinha sido invadida também e o avião foi totalmente cercado. Funcionários do aeroporto gritaram para impedir, mas impossível de serem atendidos.

A Foto do Ano, no Daguestão: manifestante muçulmano procura judeus dentro da turbina do avião da Red Wings.

Ocorre que não havia judeus no voo. Eram daguestaneses, russos e georgianos voltando de um passeio agradável em Dubai. Na foto principal do post, muçulmano subiu sobre a asa do avião russo da Red Wings para ver quem estava lá dentro.

Posteriormente a Wikipedia em russo afirmou que os passageiros eram ucranianos judeus, uma mentira absurda. Mudando a versão, horas depois o Kremlim declarou que os manifestantes foram recrutados e dirigidos pela Ucrânia, contra interesses dentro da Rússia, que é algo mais absurdo ainda.

Print de tela da Wikipedia russa afirmando que os passageiro eram ucranianos “hebreus”, judeus. Um disparate.

Outro avião precisa aterrissar e suas cores são azul e branco, portanto, certamente de Israel e a multidão corre contra ele. Mas é da empresa Pobeda, subsidiária de baixo custo da Aerflot a maior companhia aérea da Rússia, vindo da Rússia. Por ser azul e branco os manifestantes tem certeza de ser dos judeus e de Israel.

O governo russo reage e manda tropas de choque da FSB (agência de segurança russa como o FBI só que mais militarizada) aterrissam em meio aos manifestantes no pátio das aeronaves com dois enormes helicópteros de transporte Mi-8 desembarcando cerca de 100 soldados muito equipados que começam a disparar para o alto (ninguém entre os manifestantes se importa). Os soldados conseguem retirar os manifestantes de perto do avião da Pobeda. Em seguida são apedrejados pelos manifestantes e disparam contra eles resultando em 20 feridos: um policial e 19 manifestantes. Cerca de 60 são presos, reforços militares do FSB, retomam o controle do pátio do aeroporto e empurram os manifestantes para fora do aeroporto que devido aos danos ficará fechado por uma semana.

Manifestantes muçulmanos jogam pedras contra soldados russos do FSB que protegiam o avião da Pobeda, reagem a bala e ferem 19,

No final das contas, não havia nenhum judeu ou israelense nos dois aviões. O mufti supremo do Daquestão foi à TV e rádio declarando que os manifestantes estavam errados, que não se pode resolver a questão desta maneira. O governador chamou-os de traidores que todos que forem identificados serão presos e processados.

Mais uma vez, apesar de bandeiras da palestina não se escuta uma só vez gritos mencionando palestina, apenas Alla Awakbar, Deus é Grande. As bandeiras da palestina tem sido um pretexto para uma desculpa política sobre a violência. Um dos manifestantes, filma a si próprio, fazendo o número 1 do Estado Islâmico com o dedo.

Tudo começou com um fake news viralizada no Telegram.

O Dagestão tem pouco mais de 3,1 milhões de habitantes, 55% na área rural, é uma região voltada para agricultura com 1.800 rios, possui petróleo, gás natural, carvão e outros minérios. São faladas 14 línguas, básicas que se expandem em 30 línguas locais diferentes lá. 83% da população é muçulmana, com cerca de 80% de sunitas e 3% de xiitas e sufis.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.