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Esclarecimento de Menorah sobre a carta a Pio XII afirmando que 6 mil judeus eram mortos por dia na Polônia

Esta notícia que publicamos no outro post é como foi divulgada pela Agência Associated Press. Na mídia judaica formal em Israel e consequentemente na viralização pelas mídias sociais a notícia está HORRIVEL, ERRADA e pode ser caracterizada como fake news. Obviamente, como tudo que é fake, é o que as pessoas pretendem acreditar.

Portanto, precisamos explicar esta nossa acusação e também contextualizar a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto em 14 de dezembro de 1942, data da carta. E você vai se surpreender.

Este artigo é original dos jornais israelenses é perigosíssimo e FAKE NEWS. Lemos no The Times of Israel que a secretaria do Papa recebeu uma carta de um Jesuíta afirmando que estavam sendo morros a gás 6.000 judeus POR DIA – NA POLÔNIA OCUPADA – e este é o primeiro FAKE DA REDAÇÃO QUE ESTÁ CIRCULANDO PELAS MÍDIAS SOCIAIS.

No original o Jesuíta escreveu que os alemães estavam matando ATÉ 6.000 judeus E POLONESES POR DIA, em RAVA RUSKA (cidade hoje na Ucrânia) “e os transportando para Belzec”.

Obviamente ou os estavam matando ou transportando e não eram os mesmos. Ao que parece em momento nenhum o jesuíta afirmou que estavam sendo mortos por gás.

O artigo do The Times of Israel é muito completo, mas não fez a ilação. Na verdade, parece ter CRIADO O ERRO nos primeiros parágrafos.

O Times, foi perguntar ao memorial do campo de extermínio de Belzec sobre os números e publicou o seguinte. Em Belzec foram mortas 500.000 pessoas. De 7/dez/1941 até meados de janeiro de 1942 o gueto de Rava Ruska foi liquidado. Entre 3.000 e 5.000 judeus foram fuzilados no local e outro volume igual foi enviado para Belzec, que possui registro completo, onde consta ter recebido 3.500 judeus de Rava Ruska (todos assassinados depois). Belzec foi o primeiro campo de extermínio dos nazistas e solo polonês e utilizava cilindros de monóxido de carbono para assassinar seus prisioneiros.

Imagem: estes são os nazistas que comandavam o primeiro campo de extermínio de judeus na Polônia sob ocupação da Alemanha Nazista. A foto é datada do inverno de 1942, portanto, exatamente o período em que os judeus de Rava Ruska foram cruelmente sufocados lá. Estes homens são os responsáveis diretos pelo assassinado de meio milhão de civis. Mais a frente e à esquerda, o comandante de Belzec, Heinrich Barbl, sobre o qual existem poucas informações. Parecem oficias, mas não são. A patente de Barbl era Rottenführer da SS. Isso é acima de cabo e abaixo de sargento, ou seja, um sujeito com baixa formação. Sabemos que o comandante de Treblinka, o Franz Gustav Wagner, encontrado morto em Bertioga era apenas um terceiro sargento, uma patente acima do Barbl. Eram o lixo da SS. Barbl participou do projeto T4 de eutanásia de deficientes físicos e mentais alemães, onde eles foram usados como cobaias para testar os mais variados produtos químicos, com precisão acadêmica, determinando o tempo que demoravam para morrer a as condições de sofrimento. Parece que se tornou um especialista e recebeu a missão de Belzec. Estes ratos da SS, Wagner e Barbl, o que não tinham de educação acadêmica, tinham de capacidade de sobrevivência, como qualquer ratazana. Wagner conseguiu não ser preso ao final da guerra e chegar ao Brasil. Barbl, que não era alemão, e sim austríaco, conseguiu se esconder na Áustria onde foi preso em 1961 apenas, interrogado e liberado. É a última informação que existe sobre o cabo que matou meio milhão de pessoas. Imagem em domínio público e colorizada.

A carta do jesuíta foi datada de 14/dez/1942, PORTANTO RECEBIDA NO VATICANO QUANDO A INGLATERRA E OS EUA JÁ CONHECIAM O RELATÓRIO DE 18 DE NOVEMBRO DE 1942 afirmando o que acontecia na Polônia ocupada (com muita precisão aliás) e apontando para já terem sido mortos um milhão de judeus lá. O relatório polonês foi entregue pelo ministro das relações exteriores do Governo Polonês no Exílio (em Londres), Edward Raczyński, ao comando aliado no dia 10/dez/1942 e resumidamente publicado em jornais londrinos no dia seguinte, 11/dez/1942.

No dia 14 o Vaticano, provavelmente, já tinha recebido o relatório de seu embaixador em Londres. Por isso, a carta do jesuíta de fato não possui qualquer relevância.

Ademais, está errada por terem sido mortos até 8.500 judeus no total em RAVA MUSKA enquanto o jesuíta escreveu “até 6.000 por dia”.

Eu não estou aqui a defender o Papa ou a Igreja. Já tive discussões lindas em palestras sobre isso até dizer o seguinte:

– Por que você judeu aqui na minha frente tem a pretensão de imaginar que o Papa católico tinha o dever ou vontade de ajudar os judeus se ele dirigia a Igreja que perseguia os judeus desde o ano 350?

– De onde os judeus têm a imaginação fértil de que a Igreja dos anos 1940 estaria preocupada com o que aconteceria aos judeus? A Igreja se preocupava com os católicos, pois é a Igreja dos Católicos. Alguém escutou os protestos veementes do Vaticano sobre o genocídio dos armênios pelos muçulmanos turcos antes, durante e depois da Primeira Guerra Mundial? Claro que não a Igreja Cristã Ortodoxa Armênia é opositora aos católicos. Alguém escutou os protestos do Vaticano sobre a Revolução Comunista no Império Russo, o banimento das religiões, o fechamento das igrejas, a prisão dos padres e bispos? Claro que não a Igreja Ortodoxa Russa é a principal opositora à Igreja Católica Apostólica Romana. Por que o Papa iria ter consideração pelos judeus?

– O Vaticano de fato fez um acordo com a Alemanha Nazista para preservar suas propriedades, imóveis e terras e não serem confiscadas e arianizadas como as dos judeus foram. A Alemanha nazista foi formada, majoritariamente, por Protestantes Luteranos INIMIGOS DE MEIO MILÊNIO do Vaticano e apesar de vermos clérigos luteranos e católicos aderindo ao nazismo, o regime pretendeu e de fato conseguiu substituir a Igreja pela fé o nazismo. Não vamos ouvir falar de Bíblia e igreja alemã durante a guerra. Desde 1933 a Igreja Católica foi perseguida também na Alemanha Nazista acusada de se intrometer na política. Teve seus jornais fechados e depois reabertos.

– Mas sabemos que padres, abades, freiras e bispos CATÓLICOS (jamais luteranos) individualmente protegeram judeus quando acharam que deveriam fazer, mesmo sob risco de pena de morte, por toda a Europa. Um dos principais sobreviventes no RJ, o já falecido Freddy Glatt fugiu na Bélgica e foi acolhido junto a uns 14 outros garotos judeus num convento de freiras na capital, que por incrível que parece foi em parte utilizado como quartel general das tropas nazistas de ocupação, com 14 garotos judeus lá dentro, por anos, protegidos pelas freiras.

– Apenas em Dachau, em Munique, a capital do Partido Nazista, ficaram presos 2.720 clérigos católicos – 1.748 poloneses e 411 alemães. Morreram 1.034 padres católicos só em Dachau. O total de padres poloneses mortos em campos de concentração pelos nazistas foi de 1.811. Em 1920 existiam 20.000 padres católicos na Alemanha.

– Aqui no Brasil mesmo, no Rio de Janeiro, somos testemunhas de uma iniciativa do Vaticano para salvar judeus. Um número considerável de judeus alemães chegou até Roma tentando visto para o Brasil, depois de junho de 1938, depois da Conferência de Evyan, quando o mundo fechou as portas para a imigração DE JUDEUS DO REICH somente. O Vaticano criou uma saída curiosa. Converteu um número não divulgado de judeus (não sabemos até hoje). Como católicos alemães, em Roma, conseguiram os vistos sem problema algum e a imigração foi realizada para a cidade de Petrópolis.

Encontramos muitos túmulos com nomes e sobrenomes absolutamente judaicos, mas enterrados como católicos no cemitério municipal lá.

Estes imigrantes tiverem medo mesmo do governo Vargas e depois, do Dutra e depois deixaram para lá, de reassumirem o judaísmo e serem acusados de entrada ilegal no Brasil e serem deportados. Ficaram na deles, como católicos. É compreensível.

Portanto, esta é uma evidência PALPÁVEL e comprovável de que o Vaticano fez alguma coisa e não era absolutamente insensível.

Agora, para terminar, uma consideração que sempre que eu falo em palestras ouço um “ih, é….” Como alguém pode imaginar uma cidade-estado de tamanho de um quadrado de uns 9 quarteirões de Copacabana (basicamente 800 x 800 metros), no meio da capital de Benito Mussolini, totalmente cercada por tropas italianas fascistas aliadas de Hitler, se posicionar contra a Alemanha Nazista.

E depois, quando a Itália rompe o Pacto do Eixo, as tropas alemãs invadem e ocupam a Itália e agora são elas a cercarem o Vaticano e todos os italianos passam a ser inimigos do Reich? Ajudar os judeus? Nem pensar. A invasão nazista aconteceu em 8/set/1943, nove meses depois da carta e aí o Vaticano se tornou refém mesmo. Nesta época, Haj Amin al Husseini, o mufti muçulmano sunita de Jerusalém já estava ao lado de Hitler hipotecando a adesão de todos os muçulmanos do mundo ao nazismo. E os nazistas acreditaram que ele tinha mando sobre um bilhão de pessoas, quando não tinha.

Só por curiosidade, o Vaticano foi construído sobre o Estádio de Calígula, o imperador mais depravado e sanguinário que Roma teve.

É muito normal as pessoas esquecerem que a Itália não foi aliada de Hitler até o fim da guerra, mas apenas até os primeiros dias de setembro de 1943.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador – formado em Filosofia de Ensino sobre o Holocausto pelo Yad Vashem de Jerusalém

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.

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