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Federação das Comunidades Judaicas da Rússia apoia a guerra abertamente

Mais complicado que entender os judeus do Irã é compreender a comunidade judaica russa, pois ela é dirigida por rabinos do movimento Chabad e não por líderes comunitários como em todos os outros países.

Neste domingo, 5/set, a Federação das Comunidades Judaicas da Rússia reuniu em Moscou 75 rabinos para discutir o que está acontecendo com as comunidades deles nestes últimos seis meses. A grande maioria pertence ao movimento Chabad. Mas não deveríamos estar enaltecendo um encontro geral de rabinos de um país, já que isso não acontece pelo mundo adentro?

Sim, deveríamos. Pelo que fio divulgado do encontro na mídia israelense, talvez precisemos passar a ver os judeus da Rússia, tão auto-determinados a serem reféns de seu país, como os judeus do Irã. Em nenhum dos dois países os judeus são impedidos de ir embora. No Irã, tem direito até a incentivos, como o de não pagar a taxa de emissão do passaporte, desde que não estejam indo embora para Israel.

O que causa espanto, tanto no Irã, quanto na Venezuela, quanto agora na Rússia, são os discursos a favor dos regimes que afrontam a Comunidade Internacional e no caso russo travam uma guerra de conquista contra um país vizinho.

O que os 75 rabinos discutiram em Moscou, não veio a público. A resolução final deles, foi publicada, conclamando “a paz e cessação do banho de sangue” (este foi termo escrito de fato, adicionando: “Clamamos aos líderes mundiais a fazerem tudo em poder deles para trazer a paz entre as nações. Paz é um valor Divino e é fundação da existência da humanidade no mundo.”

Mas estavam se referindo a quê exatamente. A resolução não cita nem Rússia, nem Ucrânia, mas cita uma “invasão”, sem definir quem invadiu quem.

O rabino chefe da Rússia, Berel Lazar, do Chabad, criticou o ex-rabino-chefe de Moscou, Pinchas Goldschmidt (que não é do Chabad) por ter abandonado o cargo e “fugido” para Israel, por ser uma voz contrária à guerra. Além dele, outros 20.000 judeus russos, de uma comunidade que possuía 200.000 pessoas também foram para Israel nestes últimos pouco mais de seis meses.

“Estamos chocados que algumas pessoas não apenas acreditam que rabinos tem o dever de colocar em risco suas comunidades se engajando em atividades políticas, mas também até mesmo abandonando suas comunidades como forma de protesto,” prossegue a nota oficial dos rabinos.

Todavia, isto não vale para o rabino que os dirige. O senhor presidente da Federação das Comunidades Judaicas da Rússia, rabino Alexander Boroda (Chabad)  que mais uma vez declarou, desta vez no próprio congresso que organizou, ser correta a justificativa de Putin de que o nazismo está crescendo na Ucrânia.

Você entendeu: segundo os rabinos Chabad da Rússia, os que estão contra a guerra estão agindo errado, enquanto os que estão a favor do combate dos nazistas inexistentes na Ucrânia estão corretos.

Uma questão de ordem fundamental é necessária: será que esta federação e estes rabinos fazem ideia do que está acontecendo na Ucrânia, ou estão pautados apenas pelas notícias oficias de estado? Note que no dia de hoje, 6/set, o Kremlim cassou a licença do único jornal privado que ainda existia, bem ao estilo chinês e norte-coreano, sem ser um regime comunista.

A Federação das Comunidades Judaicas da Rússia dirige 200 comunidades ativas em 178 cidades com rabinos ativos em 42 cidades. Opera escolas judaicas apenas aos domingos em 73 cidades além de 41 sinagogas e outras instituições.

Imagem: rabino Alexander Boroda do site da FCJR.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.