Gantz recebe Mahmoud Abbas em sua casa e extrema-direita ortodoxa tem xiliques
Foi o segundo encontro entre o ministro da defesa de Israel e o presidente da Autoridade Palestina desde a posse do atual governo Bennett. Foi inusitado. Abbas sair de Ramallah e ir jantar com Gantz em Rosh Ha’ayin teve ares dos melhores filmes de espionagem. Foi e voltou. Só se ficou sabendo depois.
Rosh Ha’ayin é uma cidade de 58 mil habitantes, entre Petah Tikva e a fronteira com a Cisjordânia, bem no centro de Israel. Da prefeitura de Ramallah até a casa de Gantz, são cerca de 64 km, pouco mais de uma hora de carro pela rodovia 6.
O ministro da justiça de Israel declarou que o encontro foi desnecessário. Os quatro membros do Knesset da ultra-direita nacionalista ortodoxa subiram nas tamancas e exigiram a cabeça de Gantz. Mas são esbirros de um conceito abominável de que o Estado de Israel deve ser regido apenas pelas leis da Torá e que todos os não-judeus devem ser expulsos de lá. Certamente, primeiro os não-judeus, depois os judeus que não são como eles.
Portanto, dar ouvidos ao que eles ladram enquanto a caravana de Abbas vai e volta sem ser notada seria uma burrice. Gritem ao ventos, rezem, orem até serem punidos por Deus.
No mundo não místico existem problemas verdadeiros a serem resolvidos como impostos palestinos retidos em Israel (parte deles liberados após este jantar do dia 28/dez/2021), aumento de permissões de trabalho de palestinos em Israel (concedidas algumas milhares a mais) e a mudança de status de estrangeiros que foram para a Cisjordânia e se casaram com palestinas e palestinos, vivendo lá sem documentação. Gantz liberou inicialmente 9.600 documentos e mais alguns milhares deverão ser liberados em breve.
Se o governo de Israel e o governo palestino fossem amigos, os encontros seriam às claras, quem sabe na beira de uma piscina palestina, comendo kibes e shawarmas, bebendo bons vinhos israelenses. Mas são inimigos. E conversar com o inimigo sempre é melhor que combater o inimigo.
Uma frase de Gantz sobre o encontro foi a de que ele é o comandante-em-chefe das forças armadas, e é ele quem precisa assinar as ordens de combates. Enquanto for possível resolver as questões sem guerra, ele o fará.
Qualquer acordo entre inimigos é sempre melhor que nenhum acordo. Óbvio que vários de nossos leitores vão dizer: não adianta nenhum acordo, eles continuam disparando mísseis e mandando crianças com facas para matar judeus. Em primeiro lugar, quem manda os mísseis é o Hamas, ponta de lança do Irã, inimigo de Mahmoud Abbas.
E em segundo lugar, apesar da questão de jihad palestina, muito real em nossas costas cortadas com facas, existe o dia-a-dia de milhões de palestinos que não tem a ver com os que perpetram os atos de terror. E o alívio da vida deste contingente é o objetivo de Bennett e Gantz.
Existe uma vertente que afirma: quanto melhor os palestinos viverem, menos vão querer o conflito. Foi isso que Trump tentou, com a ajuda bilionária à Autoridade Palestina, em troca do reconhecimento de Israel, que Abbas recusou: não podemos ser comprados, afirmou o líder dos palestinos da Judeia e Samaria.
Mas enquanto os intelectuais marxistas europeus e norte-americanos vão conclamando e pregando o boicote aos produtos israelenses da Cisjordânia e à Israel, mais e mais palestinos obtém empregos nas indústrias e cooperativas israelenses na Judeia e Samaria e também ganham seu sustento dentro de Israel.
Um dos objetivos do boicote BDS é que os palestinos não melhorem as vidas das famílias deles e prefiram o confronto. As mídias árabes mais radicais também defenestram Abbas, estampando que o encontro não rendeu nada aos palestinos, evidentemente, deixando de publicar o que rendeu.
Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador