Governo Bennett prestes a cair em Israel
Hoje (13/jun) um parlamentar do partido de direita política Yamina (literalmente, Direita), Nir Orbach, abandonou a coalizão. Isso ocorre após uma parlamentar árabe da esquerda política mista (judaica e árabe) do partido Meretz, Ghaida Rinawie Zoabi, também decidir abandonar a coalizão de governo.
Assim, com dois votos a menos a coalização de governo perde a maioria do Knesset (Parlamento). Não cai automaticamente, mas pode ser derrotada num voto de desconfiança que exige maioria simples.
Nir acusa Zoabi de ter feito a Coalização refém do voto dela (verdade), e além de não concordar com isso, tomou a mesma trilha. Desde as negociações para formar a Coalização, Nir não aceitava árabes nela. Faz parte de uma parcela minoritária da população Israelense, que por motivos religiosos, e não políticos ou sociais, não aceitam a inclusão política da sociedade árabe-israelense no governo. Para ele, os árabes devem estar sempre na oposição e jamais na situação. Lamentável, até porque ele e os que pensam como ele, não decidem o que os árabes-israelenses pensam.
De fato, os motivos políticos alegados tanto pelo sujeito de direita quanto pela sujeita de esquerda não importam. Alegam questões institucionais e de confiança no primeiro-ministro, mas seus motivos, provavelmente são pessoais.
No caso de uma das árabes do Meretz, partido que abandonou o sionismo publicamente em 2017 a liderança do partido fez de tudo para ela voltar atrás. Zoabi, constantemente acusada de apoiar terroristas, pela direita ortodoxa judaica, parece não ter entendido o papel do partido dela na situação e sente-se mais confortável na oposição.
Será que a madame não compreende que ao pegar um arco de pua e perfurar o casco da barca governamental, a água que entra afundará do governo que ela apoiava e permitirá que retorne o governo que ela nunca apoiou?
Algumas mídias israelenses publicaram que uma terceira parlamentar, Mazen Ghanaim, do Ra’am árabe, também estaria rebelada contra a Coalizão de governo e com isso, são três votos declarados a menos.
Por vezes se aponta o parlamentarismo como a solução para uma governabilidade mais estável. Todavia os últimos seis anos em Israel colocaram em cheque este sistema de governo que apenas vem criando instabilidade. Se no Brasil reclamamos que um partido político que tinha um senador do Acre e uma deputada dos confins de Roraima, mandava e desmandava no Executivo através do STF, no parlamentarismo israelense uma rebeldia interna num partido, seja pelo motivo que for, pode mesmo derrubar o governo. Um parlamentar por impor a derrota a outros 60 de seu próprio lado, sem que tenha a menor simpatia pelos atuais opositores.
Analisando cuidadosamente, o Meretz, partido esquerdista cada vez mais reduzido em representatividade e votos, passou tanto tempo militando em derrubar o governo de Israel sem a mínima possibilidade de o fazer, que agora vai conseguir através de um suicídio parlamentar. Muito bizarro.
No mais, todos os analistas políticos israelenses disseram, desde o início, que a Coalização Bennett-Lapid, centro, direita e extrema direita religiosa, esquerda política, resto dos trabalhistas e partido árabe, tratava-se de uma impossibilidade de coerência humana. Prepare-se então para a volta da direita política do Likud com Bibi Netanyahu apoiado pelos partidos da direita ortodoxa.
Existem parlamentares advogando a seguinte causa, e ela parece justa: ao abandonar a linha de um partido e se rebelar, ou o parlamentar muda de partido, ou simplesmente renuncia permitindo sua substituição por outro nome de sua legenda. Mas isso não é obrigatório, e o parlamentar rebelado pode manter-se em seu partido e manter a cadeira, caso não seja expulso.
Imagem: Knesset ilustrativa, foto de Michael Panse CC 2.0