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Inteligência vazada: EUA acreditam que Israel pode ser pressionado para fornecer armas ‘letais’ para a Ucrânia

O documento, relatado pela mídia americana, disse que Washington acredita que Jerusalém pode permitir que terceiros forneçam armas a Kiev, incluindo mísseis terra-ar e antitanque.

De acordo com documentos do Pentágono vazados para a mídia norte-americana, os EUA acreditam que Israel pode ser pressionado ou persuadido a mudar sua posição sobre a Ucrânia e fornecer “ajuda letal” a Kiev. Mas pode estar desatualizado.

Até o momento, sabe-se que Israel forneceu capacetes e coletes militares a prova de balas e talvez outras peças de uniformes para os soldados e sistemas de guerra eletrônica que visam impedir ações de drones até a 40 km de distância (visando principalmente verificar o funcionamento deste equipamento de defesa contra os drones iranianos).

O documento, intitulado “Israel: caminhos para a ajuda letal à Ucrânia”, é um dos vários documentos do Pentágono  publicados em vários sites de mídia social e parece detalhar a ajuda dos EUA e OTAN para a Ucrânia, mas pode ter sido modificado ou usado como parte de uma campanha de desinformação. Não se trata de planos do Pentágono ou do governo americano, mas apenas de análises de informações e projeções de cenários, sem qualquer indicação de que teriam sido aprovadas, levadas em consideração ou rejeitadas. Existe a possibilidade de todos os documentos terem sido rejeitados e descartados inadequadamente.

A mídia internacional divulgou que existem 1,3 milhões de norte-americanos com a classificação de segurança de segredo, necessária para ter acesso a estes documentos dentro das vias militares ou governamentais. Os documentos vazados são fotografias tiradas de papéis e não arquivos eletrônicos.

Um dos vários relacionados a Israel, relata que altos funcionários do Mossad disseram ter levado membros da agência de espionagem e cidadãos a protestar contra a revisão judicial planejada pelo governo. A autenticidade desses documentos é negada por agências de espionagem e questionada por especialistas. Esta informação parece ter sido retirada do noticiário normal da mídia israelense e foi acusação de parlamentares dos partidos ortodoxos logo na segunda semana de manifestações contra o governo. Mas é papel dos serviços de informações realizar relatórios sobre o que sai na imprensa dos países que monitoram. Coisa absolutamente normal e que não é caracterizada como espionagem.

A CNN foi quem relatou pela primeira vez os documentos sobre a alegação de que Israel poderia entregar armas à Ucrânia. Jerusalém “provavelmente considera uma ajuda letal em meio à crescente pressão dos EUA ou à deterioração das relações com a Rússia”.  Até agora, Israel se recusou a fornecer armas à Ucrânia após a invasão da Rússia em fevereiro de 2022.

Uma das principais razões para a hesitação de Israel parece ser a necessidade estratégica de manter a liberdade de ação na Síria, onde as forças russas controlam amplamente o espaço aéreo.

O New York Times também noticiou o documento de 28 de fevereiro como uma “análise exploratória”.  Este documento descreve quatro cenários para conseguir que Israel forneça à Ucrânia equipamento militar defensivo e ofensivo. O documento disse que o documento avaliou que o caminho “mais razoável” seria Israel vender os sistemas de defesa antimísseis por meio de terceiros, enquanto exigia abertamente um fim pacífico do conflito e serviços de mediação. Poder-se-ia afirmar que esta análise está errada por dois aspectos importantíssimos. A empresa alemã Dinamit Nobel pertence a Israel e desde o início do segundo bimestre da Guerra da Ucrânia já envia mísseis anti-tanque de última geração para a Ucrânia. E a empresa nacional ucraniana que fabrica armamento para suas forças armadas, possui licença para toda a linha de fuzis e metralhadoras de apoio da família Galil israelense a vários anos. Portanto, tecnicamente Irael vem fornecendo indiretamente equipamentos letais desde antes do conflito.

O documento também observa que qualquer aumento no fornecimento  de armas e tecnologia russa ao Irã,  a pressão dos EUA sobre Israel para acabar com o programa nuclear do Irã ou a derrubada de um caça da IAF pela Rússia na Síria, resultando em baixas israelenses, levaria a uma mudança na posição de Israel. Seriam estes os outros cenários para Israel se envolver mais diretamente na Guerra da Ucrânia.

O artigo do NY Times também detalha os sistemas de armas que os EUA desejam fornecer a Israel, incluindo os mísseis terra-ar Barak-8 e Spyder e os mísseis  antitanque Spike. Mas isso é algo tão lógico que não precisa de qualquer analista do Pentágono para redigir, pois é uma avaliação geral da comunidade de informações, inclusive da russa, com toda a certeza.

Incidentalmente, nesta segunda-feira, 10/abr, a empresa Rafael (estatal israelense) fechou um contrato de 400 milhões de dólares para fornecimento de mísseis Spike para a Grécia. É um míssil anti-tanque de quinta geração que conta com sistemas para ser lançado por soldados individuais, veículos blindados ou não, tanques de guerra, posições fixas e helicópteros. A versão para helicópteros tem um alcance impressionante de 50 km. Como comparação, se o tanque inimigo estiver no Forte de Copacabana, no Posto Seis no Rio de Janeiro, o helicóptero pode disparar e destruir o tanque desde as imediações de Itaboraí, Guapimirim, Itaguaí ou do alto da Serra de Petrópolis, por exemplo.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.