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Bandeiras sobre o Gueto de Varsóvia 78 anos do Levante – 19 de abril de 1943

por Israel Blajberg

Era a primeira noite de Pessach … mas no gueto não houve Seder … começava a luta contra o inimigo cruel. Sob ordens de Himmler para liquidar o gueto, SS entram com blindados, lança-chamas, metralhadoras. Jovens combatentes bravos e desesperados, com armas na mão os fazem recuar. Os nazistas batem em retirada, abandonando mortos e feridos, sangue alemão escorrendo pela sarjeta. O espírito dos defensores de Massada e Betar contra as mais poderosas legiões romanas inspirava os lutadores do Gueto.

Vinte séculos depois, na Massada de Varsóvia, entraram para a história ao lado de Eleazar ben Yair e Shimon Bar-Kochba, sob as bandeiras da ZOB e ZZW, comandadas por Mordehai Anilewicz e Pawel Frenkel.

Durante 27 dias, suas bandeiras tremularam altaneiras visíveis de toda Varsóvia. Único território livre na Europa dominada, sobre Mila 18 e Muranowska as bandeiras prenunciavam a redenção do povo hebreu na Terra Santa, após 2 mil anos de Diáspora.

Ao ficar claro que a ZOB e a ZZW não se renderiam, os nazistas enviaram reforços e artilharia pesada. Aos 16 de maio de 1943, o infame e sádico antissemita General SS Jurgen Stroop mandou dinamitar a Grande Sinagoga.

Pensava que havia vencido, mas com a derrota da Alemanha em 1945, Stropp fugiu, mas foi capturado e enforcado na Polônia em 1951 por crimes hediondos contra a Humanidade.

Seu relatório para Himmler menciona a feroz resistência da ZZW na Praça Muranowska, resistindo heroicamente. Na prisão polonesa, confirmou que o próprio Reichsfuehrer Heinrich Himmler lhe telefonou de Berlim ordenando que as bandeiras fossem baixadas a qualquer custo, e que as maiores baixas ocorreram na Praça Muranowska, Posto de Comando da ZZW, local das mais encarniçadas batalhas, sem sobreviventes para relatar a valentia e coragem dos jovens do Betar. Ali tombou Pawel Frenkel.

Desenho de Pawel Frankiel (ou FrenkeL), é a única coisa que restou do comandante da ZZW, feito anos depois por outro membro do Betar que o conheceu. Era um ano mais novo que Mordechai. Ambos ZZW e ZOB estavam unidos até o momento do levante do gueto, pois o túnel escavado pelo Betar, debaixo da casa da rua Muranowska era a saída e entrada clandestina do Gueto. Iniciado o combate os grupos lutaram separados sob seus próprios comandos.

Durante anos a pátina do tempo recobriu esta página de ouro da História Judaica e da História Universal, comparável à epopeia dos Macabeus e à resistência de Spartacus contra as legiões romanas, até que Moshe Arens, ex-ministro da Defesa de Israel, publicou em 2011 “Bandeiras sobre o gueto: a história que não foi contada”.

Em 1942, um combatente judeu no gueto de Varsóvia escreveu em seu diário, “ouvi na BBC que um país distante, o Brasil, declarou guerra à Alemanha”. Era verdade … sob o pavilhão verde e amarelo, soldados brasileiros enfrentam o inimigo comum que trouxe tanta dor e sofrimento para os povos. Enquanto o Brasil era atacado no litoral e reagia enviando a FEB para a Europa, chegavam de Auschwitz notícias incertas de assassinatos em massa, do heroico Levante do Gueto de Varsóvia e da revolta no campo da morte de Treblinka.

Foto grupo dos que viriam a ser comandantes do ZOB no Levante do Gueto de Varsóvia, tirada naquela cidade em 1937. Mordekhai Marian Anilewicz tinha 18 anos. Mordechai cresceu no Betar e ao ser invadida a Polônia foi transferido para o Dror a fim de fornecer conhecimentos de combate ao grupo.

Hoje recordamos os heróis que não voltaram, ingressando na Vida Eterna pelo Portal do Paraíso, em luta gloriosa pelo Brasil e pelo Mundo Livre, nas batalhas travadas no Gueto, e nas neves dos Apeninos, no Monte Castelo, Montese, Fornovo.

Nomes que para nós tem o mesmo significado do Dia D, Stalingrado, e da Batalha da Inglaterra. Brasileiros que ajudaram a liquidar o nazismo, deixando suas vidas em uma terra distante, assim como os mártires sacrificados nas câmaras de gás da Europa ocupada, os partisans que pereceram em terras geladas, os lutadores do Gueto, os que desapareceram nos mares sem jamais ter um túmulo.

Que sejam lembrados e reverenciados, como exemplo para futuras gerações. A memória da sua luta será a nossa bandeira, e de todos que sonham com a Paz e um mundo melhor, livre e pleno de justiça social.

Nunca digas que este é o último caminho
Ainda que nuvens de chumbo toldem o azul do ceu
Um povo … entre muralhas que tombam…
cantou esta canção de armas na mão !

Hino dos Partisans – Combatentes da Resistência Judaica

imagens oficiais do arquivo do Yad Vashem de Jerusalém.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.